Algumas pessoas sentem náuseas e mal estar quando lêem no ônibus, e isso afeta uma parcela considerável dos leitores.
Como isso acontece e o que podemos fazer pra melhorar?
Descrita inicialmente por Hipócrates, lá na Grécia há muito tempo atrás, a cinetose (em grego algo como a “doença do movimento”) é desencadeada quando a pessoa submete-se a movimentos de veículos (viajar em carros, ônibus, avião ou barcos). O deslocamento deve mudar a todo momento para causar os sintomas (frear, acelerar, redução e aumento de velocidade), sendo que o movimento linear constante não provoca a cinetose.
O que causa?
Nosso equilíbrio funciona basicamente como um tripé sustentado em 3 pilares: labirinto (estrutura dentro da orelha interna), visão e propriocepção (ou somatossensorial, que nos informa onde nossas partes do corpo estão no espaço).
O labirinto posterior contém os canais semicirculares, estruturas ósseas com líquido formatadas nos eixos que a cabeça se movimenta.
Os sintomas são causados pelo conflito do estímulo dos órgãos que percebem o movimento, mas não encontram padrões neurais semelhantes, como se o cérebro não soubesse como está sendo causado aquele movimento. As informações provenientes dos 3 sistemas (visão, labirinto e proprioceptivo) são enviadas para um centro de integração, que as repassa a um centro comparador, que, como o nome já diz, compara as informações obtidas com às armazenadas na nossa memória. Se o estímulo percebido não for reconhecido, quando comparado à memória, gerará um conflito.
Isso daria um “bug” temporário levando ao estímulo do centro de vômito e sintomas como náuseas, vômitos, palidez, aumento do suor e da sensibilidade a odores (ainda mais se alguém abrir um pacote de salgadinho fedido no veículo), dor de cabeça, tontura e perda da capacidade de concentração.
Um exemplo é a sensação ilusória de movimento quando estamos dentro de um veículo parado ao lado de um ônibus em movimento. Os sistema vestibular e somatossensorial nos informa que estamos parados, mas o sistema visual informa que a imagem está se movimentando.
Confusão no cérebro gera os sintomas. (Fonte)
Como melhorar disso?
Sendo o conflito sensorial a causa disso, o mais lógico seria diminuir este conflito: nas viagens de navio os passageiros podem fixar os olhos no horizonte, e no carro, sentar no banco da frente (ou dirigir) e fixar os olhos no horizonte ao invés de olhar objetos em movimentos.
A prática de atividades físicas, principalmente aquelas que utilizam movimentos repetidos da cabeça, associados à estímulos da visão como a dança, o tênis e artes marciais levam ao aprendizado do cérebro, levando à habituação (persista nas lutas Jujuba, que a cinetose vai melhorar!)
Outras dicas:
- Mantenha os olhos fixos em um ponto do horizonte;
- Evite a leitura nas viagens;
- Sente em local ventilado, nunca de costas para o sentido em que o veículo se locomove;
- Controle a ansiedade e a frequência respiratória;
- Não fique muito tempo em jejum;
- Evite o uso de café, bebidas alcoólicas, doces e alimentos muito gordurosos dias antes da viagem.
Nos casos que persistirem os sintomas procure sempre um profissional médico capacitado, no caso o Otorrinolaringologista.
Com os avanços da ciência na tecnologia espacial e da realidade virtual outras doenças semelhantes estão surgindo. O space sickness, muito bem explicado neste link da NASA, é induzido por movimentos da cabeça no Espaço, percebido por astronautas e cosmonautas. Já o cybersickness é induzido pela realidade virtual, percebida por jogadores desta tecnologia que está se popularizando.
Quer saber mais? Ouça o episódio 91 do MeiaLuaCast sobre Cinetose e a Realidade Virtual e leia o post do Augusto “Precisamos falar sobre VR nos games”.