Passados quase dois meses depois da E3, a maior feira de games do mundo, podemos notar o quanto as empresas estão investindo em games que usam realidade virtual, essa “nova tecnologia” que está sendo vendida como a nova revolução no mundo dos games. Nova em termos, porque já faz um bom tempo que as empresas tentam nos vender formas de entrarmos nesse mundo virtual (sim Virtual Boy, estamos olhando para você).

Antes, gostaria de esclarecer que não estou aqui para descer o pau no uso da VR (abreviação de virtual reality em inglês), só quero levantar alguns pontos negativos que muitos consumidores podem não estar cientes, já que o mercado não se esforça em esclarece-los. Também não vou entrar no assunto de preços, até porque toda nova tecnologia chega com um alto valor e depois vai barateando. Lembrando ainda que vou falar especificamente sobre VR nos games, para outros fins essa tecnologia pode ser muito bem aplicada.

Pois bem, vamos lá. Uma coisa que me preocupa sobre VR é como essa tecnologia vai contra a onda de tornar os games mais acessíveis a um público cada vez maior de pessoas. Muitos que testaram alguma experiência de VR reclamaram de enjoos e tontura, isso se deve ao conflito que ocorre no cérebro. Enquanto recebemos estímulos visuais que dão a sensação de que estamos nos movimentando, o nosso corpo permanece fisicamente parado. É ai que o cérebro “entra em pane”, essa condição se chama Cinetose, talvez você já tenha sentido essa sensação enquanto andava de ônibus ou de carona no carro e olhou pela janela vendo as faixas na estrada ou as arvores no acostamento. É mais ou menos isso só que pior. Agora imagine jogar um game de corrida com algum acessório de VR e capotar o carro, com certeza não vai ser uma sensação boa. Muitas produtoras estão driblando isso fazendo games em que o jogador permanece parado e só interage com o que que esta ao seu redor. Algo como Werewolves Within da Ubisoft, game onde cinco a oito pessoas devem descobrir qual jogador esta disfarçado de lobisomem que aterroriza o vilarejo. São ideias bem criativas, mas se a VR ficar presa a só um tipo de game, dificilmente vai fazer o sucesso esperado.

Outro fator que vem me incomodando, é como a experiência de jogar um game em VR é quase exclusivamente individual, mesmo se for um multiplayer online.  Calma, que vou explicar melhor. Eu mesmo tenho o costume de reunir os amigos em casa para jogar algum game, muitas vezes singleplayer, pois mesmo meus amigos não jogando, gostam de acompanhar a história, o gameplay, ajudar a resolver os puzzles… Acredito que isso não seja exclusividade minha e de meus amigos, vide as milhões de visualizações de vídeos de gameplay no Youtube. Muitas pessoas não gostam de jogar, mas gostam de ver alguém jogando. Porém o grande atrativo da VR é a imersão do jogador, colocando-o dentro do game (ficando alienando ao que acontece ao seu redor no mundo físico), experiência que só ocorre com quem está usando o acessório, já para quem só acompanha a tela da TV, muita coisa pode parecer bem sem graça.

Claro que estou falando isso com base no que foi mostrado até agora, mas games como Keep Talking and Nobody Explodes, me animaram bastante, apostando na interação entre quem está usando o acessório VR e quem só está acompanhando a tela da TV. Games assim podem mudar o foco de futuros lançamentos.

Agora, volto a falar como a experiência VR vai na contra mão de tornar os games mais acessíveis. Muitos ainda reclamam de como os games tiveram sua dificuldade diminuída, mas isso ocorreu para que os mesmos atingissem um público mais amplo, o que foi ótimo já que uma parcela maior de pessoas pôde desfrutar de ótimas games, vivenciando excelentes histórias. Alguém ai se lembra do sucesso do Wii? Focando em controles por movimento, o console vendeu 101,59 milhões de unidades, fazendo com que até quem não jogava videogame tentasse uma partida de boliche ou tênis. Provavelmente até aquela sua avó, que falava que videogame estragava a TV, jogou uma partida. Fora que o modo hard e a série Souls, estão aí para agradar o gamer mais “hardcore“. Mas calma, segure essa ideia de acessibilidade e vamos falar um pouco sobre 3D.

Não faz muito tempo o efeito 3D voltou a ser bastante usado em games, filmes e TV (principalmente em filmes), prometendo uma revolução, mas não foi isso o que vimos. Fora a questão de preço, com o encarecimento de produtos, um grande problema é que muitas pessoas não enxergam o efeito 3D, ou pelo menos não enxergam completamente o efeito. Isso se deve a sensibilidade de cada um e/ou alguma deficiência na visão. Como exemplo posso citar minha namorada, devido a um acidente na infância, ela não tem a visão do olho direito, por isso não enxerga o 3D. Isso acontece devido a tecnologia que envolve a criação desse efeito. Com o uso da estereoscopia, a ilusão de profundidade é criada. Para que isso aconteça, duas imagens diferentes são geradas, uma para cada olho. O efeito consiste na interpretação do cérebro de que as duas imagens na realidade são uma só. Da próxima vez que for assistir um filme em 3D, faça a experiência, feche um dos olhos e saberá como é.

Com a estereoscopia, duas imagens levemente diferentes dão a noção de profundidade

Com a estereoscopia, duas imagens levemente diferentes dão a noção de profundidade

Até aí nenhum problema, já que games com o efeito 3d podem ser jogados por qualquer um, afinal, o efeito não interfere no gameplay e muitas vezes pode ser desligado. A própria Nintendo lançou o 2DS, portátil que roda todos os games do 3DS, mas sem o recurso do 3D.

Como a tecnologia de VR é basicamente a mesma do 3D, os mesmos problemas de visualização do efeito podem ocorrer, porém aqui você não pode desligar o recurso, pois ele é parte fundamental do gameplay, isso vai inviabilizar a jogatina para mais uma parcela do público. Se você não tem alguma alteração na visão, ou convive com uma pessoa que tenha, dificilmente já tenha pensado nesses problemas. Isso não quer dizer que o mercado não tenha procurado soluções. Gosto de dar como exemplos Splatoon do WiiU e os games mais recentes da série Call of Duty e Battlefield, eles possuem um modo para daltônicos, que altera algumas cores, evitando confusão, principalmente na hora de identificar amigos e inimigos no multiplayer.

Já com a VR, o máximo que pode ser feito é lançarem o mesmo game que pode ser jogado tanto com algum acessório VR quanto sem, como o anunciado Resident Evil 7. Possivelmente será nessa linha que a maioria dos games com VR serão lançados, ou assim espero pelo menos.

Enfim, talvez tenha me alongado demais, mas só queria levantar alguns pontos negativos que não estão sendo mostrados ou que não estão recebendo a devida atenção, e de certo modo, baixar um pouco o hype de quem está esperando a “nova revolução nos games”.

E você? O que está esperando da VR nos games? Vai comprar algum acessório? Já comprou? Conte sua experiência ai na área de comentários ou se quiser, discorde totalmente de mim. O espaço está aí para isso. Abraços.