Há mais de 20 anos (a data exata se perdeu nos anais da história), um jovem mancebo se divertia com aquele quarteto de quase-bombeiros desajeitados caçando um boneco gigante da Michelin. Os ‘Caça-Fantasmas’, como acabariam ficando conhecidos aqui no Brasil após incontáveis e seguidas sessões em programas vespertinos, encantou uma geração de jovens mancebos à época. Este que vos escreve estava entre estes – ainda que não lembre praticamente de nada dos filmes originais. Ainda assim, este que vos escreve foi assistir o reboot da saudosa franquia.
E sim, é um reboot. Absurda e deliciosamente recheado de referências aos filmes originais, inclusive a ponta de diversos personagens centrais nos filmes anteriores, mas um reboot. Nessa parte, é claro, eu deveria aqui começar a traçar um paralelo entre as histórias dos dois filmes, comparar seu desenvolvimento, maturidade, passagem de tempo; mas, como disse, eu simplesmente não lembro da franquia original. E sabem do que mais? Para mim, a experiência foi ainda melhor por conta disto.
E sim, foi uma ótima experiência. Para começar, justamente porque fiquei isento de comparações. Entendia as referências óbvias, como a música, os símbolos ou os atores da franquia dos anos 80. E ponto. Uma nova história, um novo desenvolvimento.
Além disso, é uma comédia de ação. Uma boa comédia. Diálogos não tão óbvios como num filme do Adam Sandler, mas simples e objetivos. Pequenas construções em cima da tensão de um filme que fala por alto sobre o medo do sobrenatural, para logo serem quebradas com uma boa tirada inesperada. Personagens rasos, é verdade, mas com um carisma próprio. Menções especiais a Kate McKinnon, uma engenheira absolutamente pirada, e a Chris “Thor” Hemsworth, um assistente/secretário/webdesigner/quase-ator sem nada na cabeça que se encaixou como uma luva no quarteto. Aliás, o time como um todo se encaixa muito bem ao longo da trama.
Aliás, o quarteto e a ~polêmica~ de serem quatro mulheres e não quatro homens. Mais uma vez, simplesmente não consigo – e sinceramente, não quero – comparar com o original. Mas desde que comecei a ler esse proto-debate sexista quando o filme foi anunciado até tê-lo assistido, concluo toda a preocupação e buzz gerado com uma simples onomatopeia: brfffff (coloque sua boca na junção entre seu braço e antebraço e assopre – é isso). É uma discussão, e uma preocupação, tão pequena que simplesmente dá preguiça de comentar. Foram quatro mulheres no lugar que era, na franquia original, de quatro homens. É um reboot, uma releitura. E, nesse filme, ao meu ver, funcionou bem. Como poderia não ter funcionado. Não porque seria um quarteto feminino e não masculino, mas porque não teria funcionado. Ponto.
Voltando, pois, ao filme, afirmo: vão ver. Não é um filme que mudará sua vida, mas sem dúvida te dará duas horas de bom entretenimento. Nada excessivamente cerebral, mas bem feito. O filme aborda, bem superficialmente, questões como “párias” sociais, amizade e controle midiático. Mas, ainda bem, não se focam nisso. O filme não é uma jornada de auto-descobrimento. Não é catártico. Não te salvará de seus males internos. O filme não liga, e nem deveria, ligar seriamente para nada disso.
Mas se algo estiver estranho na sua vizinhança… quem você chamará?