Oi, pessoas! Bom aí? Bom aqui! As eleições estão chegando e eu achei pertinente trazer mais informação do FrameLab Podcast para a gente pensar junto! Vou voltar para o começo e trazer um pouco do primeiro episódio, How Republicans really think(Como os Republicanos (realmente) pensam), porque acho que pode ajudar a entender melhor as pessoas com pensamento político diferente do nosso. E, vamos combinar, precisamos de um pouco mais de empatia nesse momento político se quisermos conversar com as pessoas. Então senta aí e vamos ter uma aula com o professor George Lakoff explicando como ele aplica, na política, seus conhecimentos da área de ciências cognitivas.
Acho que essa imagem de capa (uma foto que tirei nas minhas andanças em Brasília) “fala” muito sobre nosso momento histórico. Vivemos em um mundo cada vez mais cheio de dúvidas com pessoas mais cheias de certezas. Em ano eleitoral e na conjuntura que estamos, é ainda mais importante ouvir e entender o outro para conseguir contra argumentar melhor. Tomara que isso fique mais fácil após a leitura deste texto.
Falamos no texto passadosobre o que são frames– molduras produzidas no nosso cérebro que definem a forma como pensamos e entendemos o mundo. No primeiro episódio do seu podcast, o professor George Lakoff, usando a teoria de frames, explica How Republicans really think. Para o professor, política tem a ver com moral: o que é certo, o que é errado. Quando um líder político propõe uma dada política, em um mundo ideal, presume-se que é boa, correta. O problema é que lados opostos defendem políticas opostas e os dois não podem estar certos ao mesmo tempo.
É aí que entra o estudo de como os partidos molduram, estruturam suas concepções. Nos EUA – base de estudos do professor Lakoff – é muito comum referir-se ao país com metáforas de família: pais fundadores (founding fathers), Tio Sam (Uncle Sam), eles até mandam “seus filhos e filhas” para a guerra. Se quiser ler mais sobre isso, veja este textodo professor. De acordo com a teoria de frames, o uso destas metáforas está fora do nosso nível consciente.
Assim como muitas outras expressões que usamos porque repetimos a vida inteira, as metáforas retratam toda uma forma de ver o mundo. Não sei se você já leu, mas tem um textoque falo um pouquinho sobre construção social. Mas, ainda assim, apesar de haver uma uniformidade na forma de enxergar o país como uma família, o conceito de família é “emoldurado” (framed) de maneira diferente para determinados grupos de pessoas.
Por exemplo, em uma família progressista, de acordo com o professor, os dois pais são igualmente responsáveis pela criação dos filhos; eles têm maior diálogo com os filhos para entender suas dificuldades e problemas. Consequentemente, eles querem que seus filhos cresçam com esta mesma linha de valores, que sejam empáticos com outras pessoas. Já uma família conservadora costuma ter pais mais rigorosos, que são as figuras de autoridade que sabem o que é bom para seus filhos, que disciplinam seus filhos a obedecê-los, já que partem do princípio que os pais sabem o que é melhor para a família.
Ainda para Lakoff, isso é refletido na compreensão dos conservadores de que disciplina leva à prosperidade. Ou seja, se você não prosperou na vida é porque você não teve disciplina suficiente para tal. E esse raciocínio leva a um tipo de darwinismo social em que se entende que esta é a forma “natural” do mundo. Há a ideia de merecimento por esforço, pela disciplina.
Consequentemente, pobres merecem estar onde estão ou porque não souberam usar as oportunidades que tiveram ou não tiveram disciplina suficiente para mudar sua situação. Há, para Lakoff, a construção de uma hierarquia moral do que “deu certo” no mundo sobre o que “não deu certo”: Deus sobre a falta de religião, Homens sobre a natureza, ricos sobre os pobres, empregados sobre empregador e assim por diante.
Nessa linha de raciocínio, Gil Duran, que dialoga com Lakoff no podcast, traz uma pergunta interessante: Como explicar que há pobres que votam em candidatos que defendem interesses dos mais ricos? Para Lakoff, as ideias não estão voando por aí, elas estão fisicamente no seu cérebro, nos seus circuitos neurais. Quanto mais essa ideia é vista, falada, pensada, mais forte fica o circuito, o que leva a um conhecimento de mundo, uma forma de ver o mundo, a uma identidade moral, que independe de classe social.
Lakoff traz, então, um dado que, para mim, foi surpreendente: 98% do nosso pensamento é inconsciente. Como assim? Diferentemente do que Decartes propôs no século XVII, o pensamento não é lógico, não se baseia em lógica matemática apenas. A construção do pensamento se dá através de narrativas, metáforas, enquadramentos (frames), emoções. Tudo isso, portanto, está relacionado com aquelas construções básicas que ditam o certo e o errado, o bom e o mal. E, como também tratado no texto anterior, se seu cérebro não conhece alguma coisa (um hipopótamo) ele não te deixa enxergar, ele associa com o que você tem de conhecimento (“cavalo” com chifre = unicórnio).
Está bem clara a posição que o podcast defende, mas o que quero trazer aqui, como proposta de entendermos os argumentos do lado que não concordamos – seja ele qual for –, é que esses argumentos vêm de um lugar muito pessoal e caro para as pessoas. Argumentar sobre esses posicionamentos políticos mexe com construções muito enraizadas de valor e moral. Então ouvir o argumento e dizer “Não é assim” ou “Você está errado” significa ir contra a essência daquela pessoa, o que ela acredita ser uma verdade imutável. Consequentemente, se você discorda dela, você está errado no seu âmago, na sua forma de ver o mundo. E aí a conversa e o diálogo já não existem mais. A fala cai em ouvidos mocos.
As eleições estão aí! Que tal uma conversa menos baseada em quem está certo e quem está errado e mais em argumentos embasados sobre as propostas dos candidatos, seus históricos como funcionários públicos, seus feitos e de(s)feitos? Que tal conversar ouvindo com cuidado o outro lado e usando argumentos concretos sobre a viabilidade ou não das propostas do candidato? Vamos ler cientistas sociais, cientistas políticos. A política é uma ciência! E precisa ser estudada para ser debatida.
Não é fácil, ok? Mas talvez seja uma forma de manter a amizade com pessoas queridas que pensam de maneira diferente.