Na nossa rotina, por vezes não nos atentamos para a origem dos objetos ao nosso redor, seja o processo de fabricação ou mesmo como no passado os pesquisadores chegaram à descoberta daquela substância. Na história da humanidade, alguns dos produtos do nosso dia a dia tiveram a sua descoberta simplesmente por acidente, é o caso do produto tema do nosso texto: o vidro!

Essa história cercada de curiosidades começa nos idos tempos de 7.000 a.C. Vem de lá de trás e, como citado, foi uma descoberta por acidente.

Os navegadores fenícios, ao observarem um líquido de cor vermelha incandescente escorrer por baixo de uma fogueira numa praia, fizeram o primeiro registro do vidro. Porém, alguns estudos indicam que civilizações mais antigas já descreviam o uso do vidro na sua rotina.

E como se deu a formação do vidro ali na praia e a sua relação com a geologia? Pois bem, a areia da praia nada mais é do que sedimentos inconsolidados compostos basicamente por quartzo, rico em sílica (SiO2), e restos de conchas, formadas por cálcio e sais marinhos dispersos que disponibilizavam o sódio.

Essa combinação físico-química, quando submetida às temperaturas elevadas das fogueiras, tinha como resultado esse material que entrava em estado de fusão (modificação do estado físico da matéria do sólido para o líquido). Assim foi relatada a primeira combinação da geologia com a química para, acidentalmente, formar o vidro.

Mas não para por aí, o vidro possui uma estrutura que, na Mineralogia, ramo da Geologia dedicado ao estudo dos minerais e sua formação, possui uma denominação de mineraloide, substância que se comporta físico-quimicamente como um mineral, mas não obedece a alguns preceitos mineralógicos.

O vidro como conhecemos não é considerado nem sólido “strictu sensu” nem líquido, e agora?

Pois bem, o vidro é considerado um sólido amorfo ou sólido não cristalino. E o que isso significa? Significa que é um material sólido que não apresenta um arranjo bem definido dos seus constituintes, átomos e moléculas, ou seja, não apresenta um padrão simétrico bem definido, característico de uma substância mineral. A essa característica simétrica e padronizada, damos o nome de cristalinidade e, como o vidro não a apresenta, é considerado um sólido amorfo, como dito acima.

Essa característica amorfa deu ao vidro a crença de que, por não apresentar esse arranjo simétrico, ele seria um líquido de alta viscosidade com a capacidade de se movimentar lentamente ao longo tempo. Isso pode ser observado, inclusive, em vitrais de igrejas muito antigas na Europa, nas quais, ao se medir as espessuras do vidro, encontra-se na base uma espessura maior que nas partes mais altas, uma vez que, gravitacionalmente, esse material tende a escorrer. Relembramos, isso é uma crença!

E como é o processo de fabricação do vidro hoje? É levada ao forno uma quantidade já determinada de sílica, sódio e cálcio elevada a temperaturas em torno de 1.600º C e, posteriormente, resfriadas e moldadas com as formas desejadas para formar os vidros.

Esses materiais podem ser encontrados através de estudos geológicos. Por exemplo, a sílica é obtida através das jazidas de areia, que primordialmente devem apresentar uma pureza, sem presença de contaminações de outros minerais ou matéria orgânica. O cálcio pode ter como origem as jazidas de talco (o mineral, que tem o mesmo nome daquele produto que usávamos quando bebês). O sódio pode ser retirado através de processos de evaporação da água do mar. Ainda podemos acrescentar, a depender da demanda, o magnésio, também retirado do talco, e o alumínio, oriundo da bauxita, rocha fonte desse elemento.

Ainda temos uma variedade de características que podem ser desenvolvidas no vidro para adquirir propriedades para determinados usos. Se for necessário, pode-se acrescentar chumbo, vindo do mineral galena (PbS), para se fazer vidros mais finos, ou outros elementos podem agir como impureza, como, por exemplo, óxidos de ferro, que diminuem a resistência do vidro.

A geologia pode ser vista em diversos materiais e de diversas formas no nosso cotidiano, desde os antigos vitrais que enfeitam e contam histórias em igrejas europeias até o copo de cerveja no bar, ou como diz aquela canção “Vai do sagrado ao profano”.