Todo mundo sabe que o nível do mar varia através das eras geológicas. Mas esse “todo mundo” é bem recente. Vou contar um pouco aqui sobre como descobriram que isso acontece e quais processos são capazes de fazer esta alteração.
Em primeiro lugar, o que é “Nível do Mar”?
Na ciência sempre tem a resposta “depende”. Por exemplo, o Canal do Panamá é uma série de elevadores d’água, pois a altura do mar no Atlântico e no Pacífico são diferentes, então tem uma fila de navios subindo e descendo elevadores para ir de um oceano a outro. Mas desta vez a resposta é objetiva:
O Nível do Mar é a altura média global do mar, determinada a partir de pontos de amostragem espalhados pelo mundo, em que são medidos dados de pressão atmosférica e altura do nível da água no local, sendo “o nível do mar” o ponto médio entre a média de altura da maré alta e a média de altura da maré baixa. Média calculada com dados de vários anos. Com esses dados globais computados, temos uma altura média de mar, que chamamos de nível do mar, que é mundialmente utilizada na cartografia, calibração de maquinários de aviação e afins.
Antigamente, essa altura era medida manualmente com réguas nas praias, mas hoje em dia a tecnologia de satélite facilita essas medições.
Por milênios, os humanos constroem moradias perto de corpos d’água e observam as variações sazonais. Os registros do antigo Egito da altura do Nilo são tão precisos que auxiliam nos modelos matemáticos modernos. E, com essa vivência perto do mar, humanos observaram como a vida marinha funciona. E existem poliquetos marinhos que formam tubetes e moram neles. E um, ou uma, camarada percebeu que, subindo a montanha um pouquinho, era possível encontrar tubetes IGUAIS.
Depois disso, fósseis marinhos foram aos poucos sendo descobertos e a hipótese que melhor respondia a dúvida era que o mar chegava “lá em cima” e agora não chega mais.
Simples assim.
Inclusive, existem exemplos magníficos de fósseis marinhos em montanhas, como as trilobitas do Everest.
Mas como que o nível do mar sobe e desce?
Também são processos simples e que vemos todos os dias nas nossas cozinhas, mas só que em escala global se tornam uma questão global. Basicamente, o aquecimento global derrete as geleiras e a água escorre para o mar, e o mar mais quente dilata e expande, aumentando o espaço entre as moléculas de água por conta de seu movimento cinético.
Por geleiras eu me refiro aos gelos que estão por cima dos continentes. O gelo que já está boiando na água não faz diferença no volume de água, como é observável num copo de água com gelo.
Sabemos que existe um aumento moderno do nível do mar pois temos dados desde 1880, dos Estados Unidos, e o gráfico acima, retirado da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA, agência nacional — estadunidense — de administração do oceano e da atmosfera), mostra a influência dos dois fatores juntos no nível do mar no decorrer dos anos desde 1993 até 2020.
A velocidade em que o nível do mar sobe, atualmente, depende das emissões de carbono humanas e o controle, ou descontrole, do aquecimento global. O nível do mar vai subir no futuro, mas a velocidade em que isso acontece ainda possui prospectos positivos.
Curiosamente, a altura do mar vai parecer diminuir em alguns lugares do mundo, mesmo com o nível do mar médio aumentando. Porque retirando o peso de toda essa água de cima da placa tectônica continental, ela vai se elevar (como já está acontecendo com o norte da Itália). Então o termo “mudanças climáticas” é melhor que “aquecimento global”, pois muitos lugares sofrerão problemas particulares, mesmo que a média seja um aumento de temperatura e um aumento do nível do mar.
Agora, o nível do mar desce quando o planeta esfria e mais gelo é depositado sobre os continentes, além de ter esse encolhimento termal. E sabemos que na história do planeta terra houveram fases de aquecimento e de resfriamento, com ciclos de dezenas de milhares de anos, pois podemos encontrar tubetes de poliqueto em várias altitudes diferentes. O que está acontecendo hoje de tão diferente?
O grande problema é que os humanos fizeram a Terra aquecer muito mais rápido do que em qualquer outro momento da história do planeta terra. E ainda não temos noção de todas as consequências que isso pode nos trazer, mesmo que já estejamos vendo algumas.
Algumas das consequências são mais desastres climáticos: como bolhas de ar quente no meio do continente, tempestades, alagamentos, extinção em massa de animais que não se adaptam a climas mais quentes, elevamento de placas tectônicas, aumento de ação tectônica num todo, acidificação dos oceanos, branqueamento de recifes e solubilização de conchas, destruição de praias e linha de costa, destruição de ilhas, entre outros.
Às vezes, processos muito simples se tornam problemões.