Olá pessoas. Recentemente lancei um livro mais do que especial sobre os temas que normalmente abordo aqui no portal. O nome é “Os atos e riscos da alimentação pós-moderna” e sua escrita é bem impactante sobre as incertezas que atravessamos no ramo.

Nesta obra, tento fazer uma síntese aprofundada sobre os principais temas de Cultura Alimentar analisada pela ótica da Teoria Cultural de Riscos. Mas qual seria essa teoria? Como ela fundamenta nossas percepções de perigos?

Antes de tudo, precisamos entender a alimentação como uma instituição social, mantida e preservada através dos mais variados fatores coletivos. Se fizermos uma análise mais aprofundada, iremos perceber que a Cultura Alimentar pode ser decomposta em atos. Eles fundamentam a maneira como a alimentação se entrelaça com nossos estigmas, valores, tabus e moralidades. Em tese, ajudam a determinar nossa percepção de personalidade.

Os atos alimentícios apresentados em minha obra são: simbólico, político, sexual, sociofilosófico, religioso, artístico, ambiental e atuarial. Dizemos então que os valores alimentícios possuem símbolos, ideologias, prazeres, pensamentos, dogmas, expressões, recursos e apreensões que lhes são únicos.

Todavia, os atos não existem isolados no tempo e no subespaço simbólico-conjuntural. Há atores pós-modernos — sobretudo grandes companhias alimentares e do agronegócio — que aos poucos moldam a percepção das pessoas sobre a natureza dos atos alimentícios e, consequentemente, da fisionomia da própria cultura alimentar. Esses seriam os riscos aos quais são derivados da gastro-anomia de novas relações de consumo, produção e distribuição.

 

Imagem 1. Essa figura representa a natureza dos riscos antropoalimentares. A pirâmide invertida indica a diminuição dos efeitos do consciente coletivo em detrimento do inconsciente individual. Quanto mais os riscos evoluem para novas taxonomias, menos importante fica o consciente coletivo. No topo da pirâmide invertida consta “abastecimento” seguido de, nessa ordem, “biossegurança”, “qualidade” e, na ponta inferior, “gastro-anômico”.

 

No início, havia apenas a possibilidade de não haver cadeias de distribuição de alimentos em virtude de guerras e pestes, representando os riscos de abastecimento. Os riscos evoluíram com o tempo, ganhando conotações higiênico-sanitárias (biossegurança) e da perspectiva ampliada de mercado (qualidade). Com a pós-modernidade, eles se alicerçaram sobre a ótica biopsicossocial das instituições e coletividades. Esses seriam os riscos gastro-anômicos.

A gastro-anomia remodela a maneira como lidamos com as perspectivas identitária, higienista, hedônica e estética da natureza alimentícia. Assim, estamos mais propensos a sermos vítimas de identidades artificiais criadas pelo mercado (como nesse texto aqui), de processos ficarem cada vez mais autocentrados e sem criatividade, de estarmos propensos a transtornos fisiológicos e de vivermos impactados pelo poder de influência dos grandes conglomerados globais.

Se tudo isso parece ruim, é porque ainda estamos na ponta do iceberg. Os riscos gastro-anômicos instauram processos de perda de autonomia, segurança e soberania alimentar. Sobre a lógica da teoria cultural de riscos, promove o etnocídio e a invisibilização de minorias inteiras. Dessa maneira, o processo incentiva gentrificação, escravização, racismo e misoginia em diversos ambientes. Entender os mecanismos pelos quais os riscos se perpetuam é de crucial importância para lutar contra os mesmos.

Mas será que tem como lutar contra essas influências anticulturais e cacofônicas? Bem, essa talvez seja a maior proeza que o livro trás ao meio de estudo cultural alimentar…

 

As flexibilidades antropoalimentares!

A obra fora original ao se apropriar de conceitos da Engenharia de Operações e assim criar mecanismos socioeconômicos únicos. Com um nível de análise nunca antes visto em ensaios do tema, o conceito de flexibilidade antropoalimentar foi posto à mesa!

Flexibilidade refere-se à capacidade de criar novas formas de estruturação e subjetividades. Ela é capaz de frear a transformação de riscos e também os processos de desvirtuação. É uma matriz de decisão baseada na capacidade, rapidez e competência de mudança de acordo com as incertezas ambientais.

Sua métrica é o grau de flexibilidade. No ramo alimentício, essa análise serve tanto para entidades não governamentais, grupos de pesquisa, companhias agroalimentares, foodtechs, banco de alimentos, distribuidores, associativistas, cooperativistas, sindicatos e até mesmo empresas públicas. Todas as entidades do ramo podem se beneficiar desse mecanismo preventivo e de mudança nesses relacionamentos socioeconômicos.

A flexibilidade antropoalimentar, portanto, é a ciência, a arte e a técnica que estuda e pratica reorganizações nas cadeias de suprimentos para fazer frente aos riscos gastro-anômicos e suas imposições materiais e culturais. Há diferentes modos de classificar uma flexibilidade, como o modelo de afunilamento.

O funil segue a lógica de necessidades setoriais específicas das organizações (baixa ordem) para lidar com riscos de maneira mais assertiva, eficiente e integrada (primeira ordem). Segue a imagem 2:

 

Imagem 2: O título da imagem é “Afunilamento de flexibilidades antropoalimentares”. Na esquerda, uma lista com título “Flexibilidade de baixa ordem:”, contendo os seguintes itens: “Flexibilidade em qualidade de sistemas”; “Flexibilidade em responsabilidade socioambiental”; “Flexibilidade em inovações tecnológicas”; Flexibilidade em contratos sociais”; “Flexibilidade em mitigação”. No meio há uma representação de um funil pelo qual passam esses itens e, assim, se chega à lista da direita, com título “Flexibilidade de primeira ordem”. Os itens dessa lista são: “Flexibilidade em confiabilidade”; “Flexibilidade em reorganização”; “Flexibilidade em distribuição”; “Flexibilidade em criatividade”.

 

A figura destaca o papel da confiabilidade, reorganização, distribuição e da criatividade na criação de mecanismos reais capazes de preservar valores sustentáveis e socialmente responsáveis. Assim, mitiga-se o efeito de riscos gastro-anômicos observados na cadeia de suprimentos do mundo globalizado.

A teoria cultural de riscos é uma análise baseada na existência de incertezas simbólico-conjunturais que afetam nossos habitus mais enraizados. Essas apreensões afetam outras métricas, como a dinâmica social, a gramática dos espaços e a etnogênese de novas culturas. Entender esse fenômeno é crucial na cultura global pós-moderna!

Porém, para estudarmos mais como esses mecanismos funcionam — bem como o real valor da cultura alimentar na sociedade — sugiro comprar o livro impresso ou e-book! São 362 páginas do mais puro conteúdo de cultura alimentar e segurança pós-moderna.

Nesse livro você encontrará notícias, reportagens, artigos e figuras que exemplificarão como acontece essa dinâmica cultural de riscos. Casos recentes como a técnica Crispr de edição gênica, Big Data, Covid-19, crise energética e a escravidão nos vinhedos gaúchos estarão marcando presença para analisarmos conjuntamente.

O link para o livro estará logo abaixo. Muito obrigado pela leitura desse texto e até a próxima!

Links de compra:

Impresso (R$ 72,61).

E-book ( R$ 41,87).

 

Referências:
[1]: LOPES, Lênin Machado. Os atos e riscos da alimentação pós-moderna: uma abordagem temperada. Editora Clube de Autores, 1ª Ed. 362 p. 2023.