Olá, seres desse planetinha muito doido e bagunçado chamado Terra. Vamos com mais um texto na seção de exatas do Portal Deviante. Normalmente eu escrevo sobre algumas situações onde podemos incluir a matemática ou a física, mas nesse texto específico, vou falar um pouco de uma das minhas paixões que é o Futebol Americano e a evolução que os números  trouxeram para o esporte e outras ligas.

Moramos no país do futebol, acho que não existe nação no mundo que tenha tanta adoração por futebol como no Brasil. Lembro de uma frase que ouvi de um professor de Educação Física onde ele abordava essa paixão: “As pessoas mudam de religião, mudam de casa, trocam de parceiros, mas ainda não conheci ninguém que deixou de torcer pelo seu time de coração”. Talvez essa frase seja um pouco batida para alguns, mas eu também nunca conheci um torcedor de clube (não estou incluindo as crianças) que trocou o distintivo do clube pelo do rival. Uma nota interessante sobre essa paixão é o fato sermos uma das únicas nações que paralisam tudo em dia de jogos da seleção em Copa do Mundo (Dispensa de trabalho, sem aulas no dias dos jogos e por aí vai). Mas esse texto não vai falar sobre o futebol da bola dos pés, e sim do Football, o “futebol” jogado com as mãos.

Eu comecei acompanhar os esportes americanos há muitos anos, posso cravar com certeza que foi a partir da década de 90 com os Bulls e o gênio Michael Jordan e a NBA como todo. No Brasil eram pouco divulgados os outros esportes americanos como Baseball (MLB), Hockey (NHL) e o American Football (NFL), então o máximo que eu conseguia acompanhar era alguma coisa ou outra da Bandeirantes com o Luciano do Vale no Show do Esporte (que voltou agora para TV). Depois de um certo poder aquisitivo e com a democratização da internet, o acesso a jogos ficou um pouco mais fácil e finalmente consegui acompanhar aqueles esportes que de uma perspectiva brasileira eram de regras e sentidos totalmente esquisitos e estranhos.

Um dos esportes que me fisgou como telespectador foi o Futebol Americano. Entender o que estava acontecendo no jogo foi uma das coisas e sensações mais legais que eu tive com um esporte, o que me faz vibrar até hoje. As narrações brasileiras também são um show a parte e é legal saber que em terras tupiniquins o esporte cresce com torcida e praticantes. Temos o brasileiro Cairo Santos como representante brasileiro (hoje kicker do Chicago Bears) e o Durval Queiroz Neto ou Duzão (Defensive tackle do Miami Dolphins). Espero que esse texto ajude a fisgar algum leitor ou que pelo menos atice a curiosidade de vocês.

(Cairo Santos)

Primeiro vou falar um pouco da história, por que se chama futebol se é jogados com as mãos? Em meados do século XIX em Eton (Inglaterra) surgiram os primeiros rabiscos das regras do futebol que conhecemos. Em um curto período de tempo apareceu uma nova modalidade que tinhas características parecidas, mas era jogado com as mãos. Esse esporte, conhecido hoje como Rugby, foi “inventado” por um jovem chamado William Webb Ellis e logo despontou uma nova modalidade a partir dele: O Rugby Football. Essa modalidade foi parar no Estados Unidos por volta de 1860. Com o passar do tempo algumas regras foram modificadas o que foi distanciando um esporte do outro. Com isso as pessoas começaram a chamar esse “novo” esporte de American Football. Um detalhe para ambos os esportes é que eles não precisavam ser realizados com uma bola totalmente redonda, o que na época não devia ser nada fácil de fazer. Nasciam também as primeiras bolas ovais que encontramos em ambos os esportes.

Desde o começo (e vou me ater apenas o Futebol Americano) o esporte é um jogo estratégico em que os jogadores precisam ser hábeis e fortes em suas posições. O objetivo do jogo é a conquista de território, o jogador deve levar a bola até o final do campo, conhecida como endzone. Assim ele marca o famoso Touchdown!!!! (Vocês já devem ter ouvido essa palavrinha no vídeo do pouso da Curiosity onde o controlador diz Touchdown Confirmed ) esse é o pouso da bola oval, que é marcado os 6 pontos que dão um direito a um extra point de 1 ponto (totalizando 7 pontos).

O interessante desse esporte é que nos EUA ele se tornou o primeiro na preferência dos cidadãos americanos. Ele acabou desbancando a liga centenária do Baseball e a NBA. Com a popularidade do esporte começou uma chuva de dados e estatísticas no esporte. Uma matemática tão profunda e específica que hoje conseguimos escolher novos prospectos (jogadores) através do Draft apenas pelos números e desempenho (o que de vez enquanto não funciona por falta do talento individual). Um lance interessante do Draft é a tentativa de manter a liga sempre competitiva trazendo jogadores das universidades, com isso vemos pouca hegemonia de um time como em outros esportes. O último colocado da liga naquela temporada tem o direito de ter a primeira escolha, o penúltimo a segunda e assim sucessivamente. Esse tipo de fórmula também acarreta várias negociações entre franquias para obter esse ou aquele jogador elegível para o Draft (O filme Draft Day, ou A grande aposta em português, 2014, ajuda a atender melhor esses bastidores). Com o passar do tempo percebi que os americanos são malucos por dados estatísticos, o que traz um tempero a mais para esse esporte.

A NFL consiste em 32 clubes divididos em duas conferências: Americana e Nacional.

Americana: Baltimore Ravens, Cincinnati Bengals, Cleveland Browns, Pittsburgh Stleers, Buffalo Bills, Miami Dolphins, New York Jets e New England Patriots (Ex time do multi campeão e talvez o maior Quarterback da história, Tom Brady, conhecido aqui no Brasil como o marido da Gisele), Houston Texans, Indianapolis Colts, Jacksonville Jaguars, Tennessee Titans, Denver Broncos, Kansas City Chiefs, Las Vegas Raiders, Los Angeles Chargers

Nacional: Dallas Cowboys, New York Giants, Philadelphia Eagles, Washington Football Team, Atlanta Falcons, Carolina Panthers, New Orleans Saints, Tampa Bay Buccaneers (Atual time do marido da Gisele em 2020), Arizona Cardinals, Los Angeles Rams, San Francisco 49ers, Seattle Seahawks, Chicago Bears, Detroit Lions, Minnesota Vikings… e os verdadeiros reis do norte, melhor time de sua divisão, o primeiro campeão do Super Bowl onde o troféu tem o nome de seu antigo técnico (Vince Lombardi) o Green Bay Packers.

Para vocês terem uma noção, vou deixar o site da NFL para vocês consultarem e entender um pouco do que eu estou falando quando falo de estatística.

Eles sabem quase tudo que o jogador fez durante sua carreira: quanto eles correram para marcar ponto; quantas jardas ou a média que o quarterback lançou a bola oval em um temporada; quantos “derrubadas” tackles o jogador fez e muito mais; quanto uma defesa cede jardas para o ataque e etc. O impressionante é que até o tempo do quarterback para se “livrar”  da bola pode indicar o quanto esse jogador pode estar em começo ou declínio em sua carreira.

O impressionante nisso tudo é que esse tipo de estatística começou a ter um importância gigantesca e outro esporte que levou a outro patamar Essex’s informações também é americano, o baseball. Se vocês assistiram o filme MoneyBall com o Brad Pitt ou leram o livro, vão saber do que estou falando. Eles contam a história do Billy Beane, General Manenger do Oakland A’s e Peter Brand que revolucionam a franquia tendo um orçamento apertado. Vou deixar o link de um vídeo do Ubiratan Leal (jornalista) contado um pouco dessa história e do time do Liverpool campeão 2019

Os esportes cada vez mais estão usando a estatística junto com a tecnologia para trazer a melhor eficiência para seus atletas e consequentemente trazer títulos para as suas franquias.

No futebol aqui nas terras tupiniquins começamos a pouco tempo olhar com mais carinho para esse tipo de dados e números. Talvez esse seja o abismo dos clubes do Brasil para os clubes europeus. Para ser mais franco vou colocar aqui um trecho do prefácio do livro Os números do Jogo de Chris Anderson e David Sally onde o jornalista esportivo Paulo Vinícius Coelho (PVC) coloca brilhantemente a importância dos números:

 

 

“Números são para ler. Mas, acima de tudo, números são para se saber ler… Ainda hoje o mundo do futebol resiste até mesmo a reavaliar qualidades de times históricos. O Brasil campeão mundial de futebol em 1970 levantou a taça graças ao talento de Pelé, Jairzinho, Gérson e Tostão. Impossível negar a Pelé o trono de melhor jogador da Copa. Mas olhando os números vale notar como o jogo brasileiro se apoiava em Jairzinho, o homem de velocidade, que recebia os lançamentos longos de Gérson. Dos dezenove gols da seleção, quinze foram feitos de contra-ataque. Até hoje, quando a seleção atrai os adversários para a metade do campo que está defendendo, para depois contra-atacar, usando velocidade de seus atacantes como arma letal, critica-se o jogo como “defensivo demais”, o que contra diz a história do futebol do país cinco vezes campeão mundial. Será? A campanha da melhor seleção brasileira de todos os tempos mostra outra realidade.

Use o bom senso: alie-se aos números e a chance de marcar um gol de placa será muito maior”

Paulo Vinícius Coelho – PVC

Os EUA e alguns países do velho continente estão a anos luz nesse quesito e acabam colhendo os frutos em várias modalidades.

Uma história curiosa sobre números e folclores que me vem a cabeça quando falo de NFL é do time do New England cujo técnico Bill Belichick utiliza Punters (chutadores) canhotos no time de especialistas, pois um canhoto normalmente chuta em sentido anti-horário o que traz um fator a mais de imprevisibilidade para defesa se preocupar.

 

Outra história vem da minha franquia de coração os Green Bay Packers que não tem um dono, mas sim 360.584 proprietários. No livro Touchdown o jornalista Paulo Mancha narra muito bem essa história.

“Os Packers são uma sociedade anônima, sem um sócio majoritário e sem fim lucrativos para os acionistas. O clube foi fundado em 1919 por dois amigos: o jornalista George Calhoun e o operário Earl Curly Lambeau (esse último dá o nome ao estádio – Lambeau Fild). Para comprar os uniformes Lambeau conseguiu o patrocínio da indústria em que trabalhava, à empacotadora de alimentos Indian Packing – daí o nome Packers.

Em 1922, precisando de dinheiro, eles decidiram vender ações da equipe. Foi um sucesso. A maioria dos habitantes de Green Bay comprou seu pedacinho do clube. E até hoje, de tempos em tempos, novos lotes de ações são negociados, sempre para os torcedores”.

Paulo Mancha.

 

Vou deixar algumas regrinhas aqui e links para vídeos para tentar fisgar a sua curiosidade:

Início da Jogada: Um jogador de centro entrega a bola para o Quarterback (o jogador mais importante da franquia) que pode lançar ou passar a bola para um corredor.

Fim da jogada: Quando o jogador que está com a bola é derrubado, sai pela lateral ou quando o Quaterback lança a bola e o jogador deixa ela cair no chão.

Tempo de Jogo: São 60 minutos divididos em dois tempo (primeiro e segundo tempo) e cada tempo divido por dois, o que chamamos de quartos. Então temos 4 quartos de 15 minutos cada, o que totaliza os 60 minutos. (Parecido com a NBA)

Equipes: 11 jogadores de cada lado, sem limites de substituição. 11 atacam e 11 defendem. Quando o time tem a posse da bola esse é o ataque que tenta com 4 jogadas chegar na Endzone. Quando isso não é possível eles tentam o fildgoal que dá 3 pontos ao time de posse de bola.

Todas as jogadas de touchdown são revisadas o que traz um pouco de senso de justiça, apesar de um erro ou outro acabar passando (nem tudo é perfeito)

Espero que tenha ajudado a esclarecer um pouco do futebol americano e mostrar que o esporte é muito divertido e apaixonante. Aproveitem que a temporada está em seu início, escolham um time (Green Bay Packers é sua única opção) e nos vemos em outros textos, até.

(Tom Brady ou marido da Gisele)

Algumas jogadas emocionantes:

https://youtu.be/XlOlR67c2Oc

https://youtu.be/RXnwpftgZFU

https://youtu.be/0-rivKlJvhw

 

Livros que vão ajudar a entender o esporte: TouchDown! 100 histórias divertidas, curiosas e inusitadas do futebol americano – Paulo Mancha

Manual do Futebol Americano – Antony Curti

Bibliografia:

Os números do Jogo de Chris Anderson e David Sally; TouchDown! 100 histórias divertidas, curiosas e inusitadas do futebol americano – Paulo Mancha

Fotos: https://br.shotoe.com/nfl-st_38879/news/com-presena-de-pblico-nfl-tem-incio-nesta-quinta-sn_2180004/

https://www.historic-uk.com/CultureUK/History-of-Rugby-Football/

https://www.packers.com/photos/behind-the-scenes-inside-green-bay-s-locker-room-packers-vs-falcons#868f9067-b846-4184-bf5d-40c9feb2d2f5

https://endzonebrasil.com.br/ 2020/07/analise-tatica-como-julian-edelman-fez-uma-das-maiores-recepcoes-da-historia/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_na_Copa_do_Mundo_FIFA_de_1970#/media/Ficheiro:Brazil_national_team_1970.jpg

https://www.packers.com/photos/photos-capturing-magical-packers-moments#e503adf3-e217-4553-8549-a08a06853211

https://sportsnaut.com/former-patriots-pro-bowler-shades-bill-belichick-followingtom-bradys-departure