Em março de 2021 a Women in Gis Brasil, divulgou um relatório com resultado de uma pesquisa realizada entre os anos de 2019 e 2020. Este relatório apresenta o panorama Geral do mercado de trabalho das geotecnologias no Brasil e é sobre ele  que vou comentar nesse texto.

Você pode ouvir esse texto no Spin 1211

Primeiro para quem não sabe, a geotecnologia é um conjunto de técnicas e também tecnologias utilizadas para coletar,  processar, analisar e ofertar uma informação que tenha referência geográfica. (Já falei mais sobre Geotecnologias nesse texto aqui!)

Então os profissionais e as empresas que atuam com essas técnicas e essas tecnologias foram os profissionais objeto de análise do presente da presente pesquisa.

O objetivo principal da pesquisa foi identificar as principais características do mercado de trabalho e a atuação com as geotecnologias no Brasil. E como objetivos paralelos, visualizar a formação técnica profissional das pessoas que atuam com geotecnologia no país; a posição dessas pessoas em suas organizações de trabalho e a presença de mulheres em posições de liderança e chefia nas empresas.

A pesquisa circulou pelas redes sociais por aproximadamente seis meses e foram coletadas quase 500 respostas com sujeitos distribuídos em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. É importante destacar que a pesquisa teve caráter anônimo e não possui finalidade comercial.

Vamos aos resultados:

Dentro da amostra analisada de 497 pessoas, 53,9% são mulheres e 45,7% são homens e 2 pessoas não binárias.  A respeito da faixa etária das gerações participantes 6% tem idade entre 50 e 64 anos; 14% de 40 a 49 anos; 42% de 30 a 39 anos e por fim 38% de 16 a 29 anos.

Como já disse, houveram respostas de todos os estados do país e do Distrito Federal. O estado de maior participação foi Minas Gerais, seguido de São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro.

Os municípios seguem a mesma lógica sendo Belo Horizonte município como a quantidade de respostas, acompanhado de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e São José dos Campos.  A presença de São José dos Campos em São Paulo, na lista de municípios com maior participação não surpreende, considerando se tratar de um polo de geotecnologias, capitaneado pela presença do Instituto Nacional de Pesquisas espaciais – INPE e outras grandes empresas do setor.

Falando em atuação das empresas do setor, os segmentos de atuação dos profissionais de tecnologia são amplos e diversos. A maior parte dos participantes trabalham com o sistema de informação geográfica (SIG/ GIS) somando 23%. Outra grande fatia do mercado é tomado por pessoas que atuam com serviços ambientais (14%). Em terceiro lugar, está atuação em setores relacionados ao governo (12%), seguido de educação (8,4%), mineração (5,8 %), agropecuária (5,4%) planejamento urbano (5,4%)

Os profissionais que atuam com a geotecnologia de acordo com a pesquisa são formados em sua maioria no curso de Geografia (50% dos participantes). Em seguida estão os profissionais com formação em Agrimensura, Engenharia cartográfica e Agrimensura (7%). As Engenharias Ambiental e Florestal representam 5% cada. Por fim os profissionais formados em geoprocessamento, que representam 3,5% da amostra. Também aparecem  graduações como Direito e Química, reforçando a amplitude de formação da área de atuação de um profissional de geotecnologia.

Esses profissionais têm os mais variados graus de escolaridade: 32,7% são graduados, 26,8% são profissionais com especialização e 28,2% são Mestres. Os doutores somam 8,8% e os técnicos 3,2%.

Outro dado interessante são as áreas de pós-graduação desses profissionais. A respeito da especialização, naturalmente, 58,3% dos especialistas o são em Geoprocessamento/Geotecnologia, acompanhado dos especialistas em Análise Ambiental/ Ciência Ambiental (24,2%).

Sobre mestrado e doutorado, as áreas de pesquisa mais comuns dos profissionais participantes Geografia/Geociências e afins (44,1%) e Cartografia/ Geoprocessamento e Geotecnologias (18,6%).

Observando a categoria de emprego e renda, a primeira análise realizada foi a de profissionais empregados e desempregados no momento da pesquisa. Do total dos participantes, 113 (22,7%) estão desempregados. Considerando este universo, 73% das mulheres que responderam à pesquisa estão empregadas, enquanto 82% dos homens também estão empregados.

Aprofundando a análise a respeito das pessoas desempregados no momento da realização da pesquisa, observa-se a seguinte situação sobre o nível de escolaridade: a maior parte das pessoas desempregadas, independente do gênero, são graduadas. Reforçando o cenário da pesquisa, posto que a maior parte dos participantes são graduados, seguido das pessoas com especialização e mestrado.

Sobre as faixas salariais, quando da resposta da pesquisa, o cenário observado é a forte predominância masculina em faixas superiores a cinco salários mínimos. Ao cruzar os dados das faixas salariais com o grau de instrução e gênero, é perceptível o maior percentual masculino nas melhores faixas salariais.

Outro item observado na pesquisa é a respeito da liderança. Essas perguntas lançam luz sobre uma questão interessante, e reforça o que a discrepância salarial aponta: 35% dos homens que responderam a essa pergunta afirmaram estar em posições de liderança, a maioria desses possuem especialização. Por sua vez, as mulheres em posição de liderança são 13% e possuem doutorado.

A respeito da diferença salarial entre pessoas em cargos de liderança, pode-se observar a faixa salarial entre 5 e 8 salários mínimos. Os homens em posição de liderança com esse salário somam 40% enquanto as mulheres são 28%.

Sobre tempo e experiência. O tempo de experiência dos participantes da pesquisa é variado. Entre as mulheres, 25% tem mais de oito anos de experiência, 22% tem de 1 a 3 anos, 20% tem de 3 a 5 anos, 11% de 5 a 8 anos e 9% têm até um ano de experiência. Dessas mulheres, 6% estão fora da área e 7% estão realizando uma transição de carreira. Sobre as pessoas de gênero não binário, 100% tem mais de oito anos de experiência.

Qual os homens, 49% tem mais de oito anos de experiência, 15% de 5 a 8 anos e 14% de 1 a 3 anos, 12% de 3 a 5 anos e 1% têm até um ano de experiência. 6% desses homens estão fora da área e 2% em transição de carreira.

A respeito da presença feminina no mercado de trabalho, em análise ao perfil das organizações empresariais onde os profissionais de geotecnologias trabalham, 38,3% afirmam trabalhar em empresas de grande porte 22% em microempresas, 21,8 empresas pequenas e 18% empresas de porte médio.

Sobre a presença das mulheres nestas organizações, 5,5% não contam com nenhuma mulher na sua equipe, 21,7% das empresas têm até 25% de sua equipe formada por mulheres, 49% das empresas têm entre 25 e 50% do seu quadro de funcionários feminino, 20,4% têm Entre 50 e 75% dos funcionários de gênero feminino e 35% têm equipe totalmente feminina.

As conclusões levantadas com essa pesquisa segundo a Women in GIS Brasil é que ainda que o grupo tem atingido uma mostra de profissionais variadas, a realidade do mercado de trabalho brasileiro de geotecnologias é ainda mais diversa pontos.

Por meio da pesquisa foi possível perceber a ocorrência de alguns fenômenos sociais que já eram observados por meio de outros trabalhos, como a escolaridade superior por parte das mulheres, as diferenças salariais e a presença  fortemente masculina em cargos de liderança.

Sobre fenômenos inerente as geotecnologias, esses podem ser observados ao analisarmos as áreas de formações dos profissionais principalmente e naturalmente a maioria com graduação em Geografia e as pós-graduações em áreas relacionadas ao Geoprocessamento/ Cartografia.

Por fim o grupo destaca que a pesquisa reflete a realidade do mercado brasileiro na temporalidade 2019/2020.

A Women in GIS Brasil é uma organização que tem início em 2019, e tem como objetivo servir de apoio para o desenvolvimento de mulheres nas atividades que envolvem geotecnologias. Para saber mais, acesse aqui.