Empresas de tecnologia não possuem a reputação de serem amiguinhas umas das outras, vide as propagandas provocativas da Samsung. A Apple tem batido de frente com a Google nos smartphones, enquanto o Google e a Microsoft batalham ferozmente em softwares corporativos. A Amazon está lutando contra a Apple quando se trata de dispositivos e meios de comunicação, e contra a Microsoft em serviços de hospedagem em nuvem. Entre muitos outros exemplos.
Por isso, é surpreendente quando essas empresas concordam em algo, mas é como dizem, o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Se você não tem vivido em uma caverna nas últimas semanas, o que nesse caso provavelmente nem estaria lendo esse texto, você ficou sabendo da ordem judicial enviada à Apple, para que eles desenvolvessem uma ferramenta que permita ao FBI acessar os dados do iPhone de um dos terroristas de San Bernadino. A Apple se recusa a colaborar, usando como argumento os riscos que isso traria a todos os seus usuários.
O software exigido apenas desabilitaria o recurso que exclui o conteúdo do telefone após muitas tentativas incorretas de senha. Isto significa que a Apple não vai quebrar a criptografia, basta permitir que o FBI possa tentar muitas senhas diferentes, sem o medo de apagar quaisquer dados.
O Google mostrou o seu apoio à Apple nesta luta, quando o CEO Sundar Pichai twittou que “estão forçando as empresas a permitirem que hackers possam comprometer a privacidade dos usuários” e que esse “poderia ser um precedente preocupante”.
Em um primeiro momento, parecia que a Microsoft poderia se aliar ao FBI quando o co-fundador e ex-CEO Bill Gates deu uma entrevista ao The Financial Times dizendo que o FBI estava à procura de ajuda da Apple apenas neste caso em específico.
Mas, Gates, que agora é apenas um “conselheiro” da Microsoft, voltou atrás dessas observações, e o presidente e diretor jurídico da Microsoft, Brad Sims, testemunhou perante o Congresso que a sua empresa “sinceramente” apoia à Apple e que fará a apresentação de um Amicus curiae no processo(Amicus curiae são documentos legais apresentados pelas partes que não estão diretamente envolvidos no caso, mas que têm um forte interesse no resultado e que podem ser afetadas por ele).
E várias outras empresas tem aderido à decisão da Apple de desobedecer a ordem judicial, desde das gigantes como o Facebook e a Amazon, como também as menores como a Electronic Frontier Foundation. Nunca antes tivemos tantas empresas grandes de tecnologia no mesmo lado contra o governo.
Esta é uma grande luta. Se o governo é capaz de fazer a Apple desistir da privacidade dos dados de usuários, independentemente das circunstâncias, isso definirá um perigoso precedente para outros casos no futuro. Outros casos federais, onde iPhones estão envolvidos poderiam exigir o mesmo software para ajudar a decifrar o aparelho.
Além disso, uma vez que o FBI tem esse sistema, pode aparecer uma vulnerabilidade que poderia ser explorada no futuro. Isso levanta preocupações sobre a quantidade de informação que o governo pode coletar de qualquer indivíduo, independentemente da situação legal. Se a Apple cumprir essa ordem, cada telefone e dispositivos que fazem estarão comprometidos.
Esta é uma luta que provavelmente ditará muitos dos aspectos da segurança digital para o próximo século.
Fonte