O mês de setembro é dedicado ao combate ao suicídio, sendo o dia 10 eleito como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Podemos falar também em prevenção e combate ao comportamento suicida, definido como pensamentos, planos, lesões auto infligidas, as tentativas e todos os comportamentos que podem ter como possível consequência a morte.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015, a taxa de suicídios no Brasil foi de 6,3 a cada 100 mil habitantes. Os números podem ser ainda maiores se levarmos em consideração mortes que não foram contabilizadas como suicídio, como alguns atropelamentos, por exemplo.
Em termos mundiais, deve-se ter em conta a dificuldade de obtenção desses dados pela OMS, tendo em vista que nem todos os países possuem programas de prevenção ou costumam quantificar suas taxas de mortes voluntárias auto infligidas. De modo geral, estima-se que uma pessoa suicida-se a cada 40 segundos, o que equivale a cerca de 1,4% dos óbitos totais.
Fatores de risco
É importante saber que o suicídio é algo multifatorial, perpassando por inúmeros aspectos da vida do indivíduo. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), existem dois fatores principais de risco: tentativa prévia – pacientes que tentaram suicídio anteriormente tem 5 vezes mais chance de o fazerem novamente – e presença de algum transtorno mental.
Ainda segundo a ABP, existem alguns fatores de risco secundários: histórico de tentativas ou de suicídio na família; abuso de álcool e/ou outras drogas; presença de doenças crônicas não psiquiátricas ou condições clínicas incapacitantes; abusos sofridos na infância ou adolescência; e isolamento social.
Em outras palavras, podemos dizer que, viver em ambientes com estimulação aversiva moderada em longo período de tempo, com falta de reforçadores positivos e excesso de coerção são fatores de risco para alguma psicopatologia, ou até mesmo para o comportamento suicida.
Veja que estamos falando em termos de probabilidade. Desse modo, o comportamento suicida será influenciado também pelos aprendizados anteriores daquele sujeito: como ele lidou com situações semelhantes e quais os resultados disso? O que essa pessoa aprendeu sobre a morte e qual juízo de valor faz disso? Ela enxerga possibilidades de mudança ou possui alguma perspectiva futura? Essas perguntas e seus desdobramentos podem auxiliar no trabalho preventivo, principalmente ao conseguir detectar atividades nas quais o sujeito pode envolver-se.
Esses fatores são gerais e podem variar de acordo com a história de vida de cada indivíduo. O mesmo evento pode afetar duas pessoas de forma completamente diferente, daí nossa responsabilidade na forma de tentar entender a dor do outro, não medindo-a pela nossa.
Prevenção e fatores protetivos
Sendo este um fenômeno tão multideterminado, seria possível preveni-lo? A resposta é sim! Podem ser realizadas algumas ações de cunho preventivo, incluindo: dificultar o acesso a meios para cometer suicídio, como aumentar a segurança em pontes e edifícios turísticos, restrições a venda de pesticidas; investimento em saúde mental e treinamento de profissionais; elaboração e implantação de políticas públicas de apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica; incentivo a espaços de promoção a saúde; uso estratégico das mídias, juntamente com uma cobertura responsável dos casos de suicídio; campanhas educativas; inserção em atividades esportivas e culturais; fortalecimento de vínculos afetivos, dentre outros meios.
Observe que os fatores protetivos que listei envolvem desde as instâncias governamentais até mesmo suas atitudes individuais. Existem formas de acolher e tentar facilitar as sensações desagradáveis (ou aversivas) que podem ser causa de extremo sofrimento para o outro, como por exemplo, se nós exercitarmos a empatia.
Segundo Falcone (1999), o comportamento empático é uma habilidade comunicativa que acontece em duas fases: ouvir e comunicar entendimento. Todos podem praticar a escuta empática, no entanto é necessário treino e preparo para ouvir esses relatos, que muitas vezes podem ser impactantes.
Devemos ter cuidado com campanhas e correntes (até bem intencionadas) nas redes sociais que estimulam a nos colocarmos à disposição para conversar com pessoas que tenham ideações suicidas. Não é que o fato de você conversar com alguém vá “piorar o quadro” ou induzir a pessoa a suicidar-se, no entanto há que se considerar se você está preparado para ouvir ou ler certos tipos de relato sem julgar ou tentar resolver os problemas de quem fala. O mais importante é encorajar a busca por acompanhamento profissional de psicólogos e psiquiatras.
Como procurar ajuda?
Através do SUS, você pode procurar postos de saúde, centro de especialidades médicas, ou solicitar ao seu agente de saúde atendimento psicológico. Clínicas-escolas de faculdades de Psicologia (sejam públicas ou privadas) também ofertam atendimento gratuito ou a preço simbólico.
Há ainda algumas ONGs espalhadas pelo Brasil, tais como o Centro de Promoção de Saúde, Educação e Amor à Vida, CAVIDA (http://www.cavida.org) e o Centro de Valorização da Vida (CVV) que realizam o serviço de prevenção ao suicídio. Este último possui voluntários treinados para fazer a escuta emergencial através de telefone (disque 141 – disponível apenas em alguns estados), email ou chat (https://www.cvv.org.br).
A presença de alguma psicopatologia ou de alguma situação adversa pode dificultar a visão de possibilidades de solução para os problemas, gerando sofrimento. No entanto, um psicólogo pode auxiliá-lo no gerenciamento de conflitos e na busca por uma maior qualidade de vida. A morte nunca é a solução, procure ajuda!
Em memória daqueles que perdi para o suicídio mas que continuam vivos em mim! Sempre os amarei!
REFERÊNCIAS:
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Associação Brasileira de Psiquiatria, Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio. Suicídio: informando para prevenir. Brasília: CFM/ABP, 2014.
FALCONE, Eliane. A avaliação de um programa de treinamento da empatia com universitários. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. São Paulo, p. 23 -32, jun. 1999. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55451999000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 05/09/2017.
FUKUMITSU, Karina Okajima. O psicoterapeuta diante do comportamento suicida. Psicologia USP, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 270 – 275, 2014.
TRIGUEIRO, André. Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo. São Bernardo do Campo: Correio Fraterno, 2017.
World Heath Organization (2017). Global Health Observatory data repository. Disponível em: < http://apps.who.int/gho/data/view.main.MHSUICIDEv?lang=en# > Acesso em: 05/09/2017.
Daniele Almeida Estudante de Psicologia na UFAL – Pólo Palmeira dos Índios e entusiasta dos memes da interwebs.