Incêndios, explosões e liberações tóxicas. Lesão às pessoas, impacto ao meio ambiente e prejuízos financeiros. Indústrias que lidam com produtos perigosos estão sujeitas a ocorrências desse tipo se tiverem alguma falha em seus processos. É o caso de indústrias do ramo químico e de mineração, entre outras. Para controlar os riscos desses setores e, assim, prevenir tais desastres, é que nasceu a área de conhecimento de Segurança de Processo.

O que é Segurança de Processo?

A Segurança de Processo é uma disciplina que visa a prevenção de acidentes em processos industriais causados pelo escape de substâncias ou energias perigosas, tais como incêndios, explosões e liberações tóxicas.

Esses tipos de acidentes, a depender dos volumes e energias liberados, podem chegar a ter efeitos catastróficos, causando lesões e fatalidades aos trabalhadores, malefícios à comunidade e danos ao meio ambiente, bem como prejuízos à própria companhia devido a paradas operacionais, avarias às instalações, embargos, multas e estigma à reputação da marca.

A Segurança de Processo pode ser aplicada em plantas químicas, petroquímicas, farmacêuticas, alimentícias, metalúrgicas, de mineração, de tratamento de água e esgoto e em usinas de geração de energia (como nucleares e térmicas), entre outras.

Seu foco está em identificar os riscos e gerenciar os controles que minimizem a probabilidade de ocorrência desses eventos indesejáveis ou que reduzam as consequências em caso de acidente.

Os controles preventivos, que são objetos de interesse da Segurança de Processo, visam manter os parâmetros operacionais dos processos dentro de limites seguros de operação.

Por consequência, evitam-se desvios que possam ser gatilho de um acidente industrial, tais como elevações de temperatura, sobrepressões, vazamentos, transbordos, reações químicas descontroladas, falhas de funcionamento de dispositivos, faíscas (por atrito ou por descarga elétrica) em presença de inflamáveis, fadiga e corrosão das instalações, fragilidades nas contenções, entre tantas outras condições adversas.

A Segurança do Trabalho (ou Ocupacional) e a Segurança de Processo são disciplinas complementares. Enquanto o propósito da primeira está em garantir a integridade física e a saúde de cada trabalhador, olhando individualmente para cada atividade realizada, a segunda foca na integridade dos sistemas operacionais, cujo comprometimento pode causar danos coletivos, não só aos trabalhadores, mas também à população circunvizinha e ao meio ambiente.

Alguns dos principais acidentes relacionados a Segurança de Processo ocorridos no Brasil

Alguns dos principais acidentes relacionados à Segurança de Processo ocorridos no Brasil (ver descrição abaixo).

• 1972 – Explosões na REDUC

Vazamento de GLP de tanque esférico em refinaria da Petrobras (Duque de Caxias, RJ). 38 fatalidades e 53 feridos.

• 1984 – Incêndio na Vila Socó

Vazamento de gasolina de oleoduto em área de manguezal, onde tinha uma comunidade instalada (Cubatão, SP). Mais de 500 fatalidades (estimativa).

• 1984 – Explosão da Plataforma de Enchova

Vazamento de gás de poço de prospecção de petróleo operada pela Petrobras (Bacia de Campos, RJ). 37 fatalidades durante a evacuação.

• 1998 – Explosão na REGAP

Vazamento de nafta próximo a local onde era realizado um serviço de solda, em refinaria da Petrobras (Betim, MG). (Betim, MG). 5 fatalidades e 7 feridos.

• 2000 – Vazamento na Baía de Guanabara

Vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo combustível de oleoduto marítimo (Duque de Caxias e Rio de Janeiro, RJ). Impacto a manguezais e à atividade de pescadores.

• 2000 – Vazamento na REPAR

Vazamento de 4 milhões de petróleo cru de oleoduto em refinaria da Petrobras (Araucária, PR). Impacto aos rios Barigui e Iguaçu e aos lençóis freáticos da região.

• 2001 – Explosões na Plataforma P-36

Vazamento de gás derivado de petróleo na plataforma da Petrobras, que afundou completamente após 5 dias (Bacia de Campos, RJ). 11 fatalidades.

• 2011 – Vazamento na Bacia de Campos

Vazamento de 590 mil litros de petróleo para o mar durante perfuração de poço operado pela Chevron (Bacia de Campos, RJ).

• 2015 – Explosão de navio-plataforma Cidade São Mateus

Vazamento de gás natural na casa de máquina do navio, operado pela BW Offshore (Campo de Camarupim, ES). 9 fatalidades e 26 feridos.

• 2015 – Incêndio em tanques na Alemoa

Incêndio que durou 9 dias em 5 tanques de gasolina e 1 de etanol no Terminal de Granéis Líquidos da Ultracargo (bairro Alemoa, Santos, SP). Impacto ambiental ao complexo de estuários da região.

• 2015 – Rompimento da barragem de Fundão

Liberação de 62 milhões de m³ de rejeitos de mineração de barragem controlada pela Samarco (subdistrito de Bento Rodrigues, Mariana, MG). 19 fatalidades, destruição de vilas e contaminação à bacia hídrica do Rio Doce.

• 2016 – Vazamento de amônia em frigorífico

Vazamento de amônia em evaporador do sistema de resfriamento das câmaras frigoríficas no frigorífico da Minerva Foods (Barretos, SP). 1 fatalidade e 30 atendidos por intoxicação.

• 2017 – Explosão na coqueria na Gerdau

Explosão na coqueria (tipo de forno que converte carvão em coque, liberando gases tóxicos e inflamáveis) em siderurgia da Gerdau (Ouro Branco, MG). 5 fatalidades e 9 feridos.

• 2018 – Explosão em destilaria em Jandaia

Explosão em um pré-evaporador, equipamento que trabalha com vapor, na destilaria de álcool Nova União (Jandaia, GO). 2 fatalidades e 14 feridos.

• 2019 – Rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão

Liberação de 12 milhões de m³ de rejeitos de mineração de barragem controlada pela Vale (Brumadinho, MG). 270 fatalidades, destruição das estruturas atingidas e danos ambientais.

• 2019 – Explosão na aciaria na CSN

Emanação de nuvem de pó causada pela reação de escória líquida em alta temperatura com a umidade do equipamento (Volta Redonda, RJ). 30 atendidos por intoxicação.

• 2021 – Incêndio em fábrica de produtos químicos em Barueri

Incêndio que atingiu 9 edificações no entorno da fábrica (Barueri, SP). 5 fatalidades em residência e empresa vizinhas, e 6 atendidos por intoxicação e queimaduras.

• 2022 – Explosão em fábrica de cosméticos em Carazinho

Explosão de acetato de etila na fábrica TM Cosméticos (Carazinho, RS). 3 fatalidades e 4 feridos.

No Brasil, a implementação da Segurança de Processo ainda não é obrigatória por lei para todas as indústrias que manuseiam substâncias e energias perigosas, sendo válidas algumas iniciativas de órgão ambientais em alguns estados e alguns segmentos regidos por sua respectiva agência reguladora nacional (como no caso da indústria de petróleo).

Dessa forma, a aplicação das suas práticas acaba se restringindo a indústrias de porte maior. No entanto, existem milhares de indústrias de pequeno porte no Brasil manuseando diariamente substâncias e energias perigosas, e falhas nas suas operações podem ser danosas para seus trabalhadores e para sua vizinhança.

Os profissionais de Segurança de Processo seguem se esforçando na disseminação dessa área para que mais indústrias incorporem as práticas de Segurança de Processo em suas operações, o que tenderá a reduzir a ocorrência de acidentes que vitimizem trabalhadores e causem danos ao meio ambiente. Este texto é mais uma iniciativa para que o assunto seja difundido, tornando a Segurança de Processo mais conhecida e, assim, mais praticada.