Sempre escutamos que se todos consumissem da mesma forma que os norte americanos ou australianos, precisaríamos de três ou quartos planetas Terra para suprir a demanda. Mas, e se seguíssemos o consumo dos países europeus, chamados de países verdes, ainda precisaríamos de três planetas.

Sabemos disso por meio da pegada ecológica, análise que considera a relação entre a área de terra produtiva e a água disponível, e avalia a demanda populacional por recursos ecológicos; este índice tem como principal critica subestimar o impacto da humanidade sobre os ecossistemas. Já que uma sociedade sustentável é aquela que funciona dentro da capacidade de suporte dos ecossistemas dos quais depende.

Segundo a Global Footprint Network, responsável pelo cálculo da pegada ecológica no mundo, nós já excedemos o limite ecológico da Terra, exigindo 1,5 vezes a biocapacidade da mesma. E se continuarmos nos utilizando do modelo econômico baseado em crescimento, associado ao crescimento populacional, tendemos a 11 bilhões de pessoas. Assim, aumentando o deficit de suporte ecológico e reduzindo as condições de existência de todas as formas de vida.

As ecovilas bem sucedidas e duradouras também precisam melhorar sua pegada ecológica. Por exemplo a FindHorn Ecovillage, na Escócia, é provavelmente a ecovila mais famosa do mundo. Uma ecovila pode ser entendida como uma comunidade com a intenção de ter um estilo de vida mais leve para o planeta. Dentre outras coisas, a comunidade de Findhorn adotou o vegetarianismo, produz energia renovável e constrói suas casas com barro ou materiais reaproveitados ou reciclados.

Por meio de análise da pegada ecológica desta comunidade. Descobriu-se que ela consome recursos e gera resíduos, além do que poderia ser sustentado pelo planeta, se todos vivessem dessa maneira (parte disso se deve aos frequentes voos realizados pelas pessoas que fazem parte da comunidade, sendo semelhante aos números da comunidade externa).

Sem criticar os esforços das ecovilas, que claramente fazem muito mais do que a maioria para empurrar as fronteiras das práticas ambientais, mas este exemplo ilustra bem a nossa atual situação. Num mundo com 7 bilhões de pessoas a necessidade de reduzir a pegada ecológica significa reduzir nosso impacto a uma pequena fração do que é hoje, mudança incompatível com o atual capitalismo consumidor e modelo de civilização baseado em crescimento. Não se trata de uma posição radical, mas de uma posição baseada em evidências.

Ecovila Findhorn, na Escócia.

Ecovila Findhorn, na Escócia.

Ainda hoje não se tem um exemplo de como prosperar dentro da capacidade suportada pelo planeta. Porém, seus problemas básicos são compreendidos e a solução é clara, mesmo que incômoda.

Devemos fazer a transição para um sistema de energia renovável, e reconhecer que a viabilidade e a acessibilidade desta transição exigirá redução significativa de consumo de energia, o que implicará em menor produção e consumo.

Também devemos aumentar o consumo de alimentos orgânicos e locais, comer menos carne (ou não). Andar mais de bicicleta e voar menos, consertar roupas, partilhar recursos, reduzir drasticamente nossos resíduos e transformar nossas casas e comunidades em locais de produção sustentável. E ao fazer isso, nos desafiamos a ir além das ecovilas e explorar uma sombra mais verde e mais profunda da sustentabilidade.

Dentre outras coisas, isso significa uma vida mais frugal, moderada e com suficiência material. Assim como ter menos filhos ou nossa espécie irá crescer numa catástrofe. Porém a ação pessoal não é suficiente. Será preciso reestruturar nossa sociedade para apoiar e promover formas mais “simples” de vida. O uso de tecnologias apropriadas para nos ajudar nessa transição, há os que argumentam que a tenologia nos permitirá viver da mesma forma e reduzir nossa pegada.

Essa mudança no estilo de vida para torná-lo mais sustentável é muito grande. Precisamos viver de forma mais simples, no sentido material, e rever o conceito de boa vida para além da cultura de consumo.

Isso se faz necessário com base na análise da pegada ecológica, onde redução de consumo é a opção mais lógica para compreender as implicações redicais de sustentabilidade. O que nos faz questionar se esta redução será próspera ou transformará as sucessivas crises em oportunidades?

Fonte: The conversation