Eu sou uma pessoa viajante. Mas não essa viajante que você tanto almeja ser na vida, meu caro leitor. Sabe essa idealização que todos nós temos de viajar o mundo, conhecer lugares paradisíacos e postar uma vida de herdeira? Então, eu não sou isso não.

Na verdade, bem longe desse glamour, eu me atenho a outro tipo de viagem, sem nenhum sentido escuso. Eu gosto da viagem obscura, para aqueles lugares que as pessoas olham e perguntam “onde fica?” ou “por quê?”. Acho que esse tipo de surpresa é muito agradável.

A viagem da vez foi para São José do Rio Preto. Tirando os nativos e conhecedores da região, acredito que poucas pessoas teriam essa cidade como destino primário para qualquer tipo de atividade. Mas dessa vez, acabei indo por conta de trabalho.

Em São José do Rio Preto aconteceu o III Encontro de Biomedicina do Noroeste Paulista, evento organizado na Faculdade de Medicina do Rio Preto.

Apesar de ser formado a um bom tempo, sempre tento me manter bem atualizado dentro da área, toda vez que vou a algum congresso, sempre volto com uma informação nova. E dessa vez não foi diferente. O congresso foi excelente, com muitos palestrantes qualificados e um coffee break de qualidade do interior (alimente um acadêmico sempre). Mas o que eu gostaria de trazer hoje não aconteceu no evento, tampouco tem a ver com biomedicina, esse foi apenas o motivador para minha partida para a terra das capivaras.

Após o evento, precisei enrolar durante um tempo até conseguir pegar meu ônibus para retornar à São Paulo, que tem uma distância de 5 horas entre as duas cidades. Com meu contato obtido com os nativos da cidade, descobri que um dos pontos “turísticos” da cidade é uma represa.

A Represa Municipal de Rio Preto fica próxima do centro da cidade e consiste basicamente no que o próprio nome diz, numa represa. Ao caminhar ao redor, ouvi o barulho de música vindo do outro lado, que parecia vir de uma espécie de teatro a céu aberto, conhecido em muitos lugares como teatro de arena, então resolvi caminhar até lá para descobrir o que estava acontecendo.

O evento de biomedicina aconteceu no dia 18 de novembro, bem próximo do dia do biomédico, que é dia 20 de novembro. Mas tão relevante quanto o dia da profissão mais linda que já existiu, nesse dia é comemorado também o Dia da Consciência Negra. A cidade parecia que não ligava muito pros biomédicos, mas para a lembrança de nossos antepassados, nisso eles deram um show.

No anfiteatro à beira-lago (ou seria beira-represa?), de nome “Anfiteatro Nelson Castro”, estava acontecendo um evento de memória aos povos indígenas e negros originários daquela região. Foi lindo.

Uma das apresentações que mais me chamaram a atenção foi de um grupo de capoeiristas que fizeram várias danças e cantos baseado em repetições e com um berimbau e palmas fazendo a marcação do ritmo. Mas dentro do aspecto desse universo (que eu sei bem pouco, infelizmente), o que mais me chamou a atenção foi a variedade de tipos de pessoas que faziam parte desse grupo.

Observei desde pessoas extremamente bem definidas esteticamente enquanto outras não apresentavam um grande apelo estético. Independentemente dessa observação, todas tinham uma excelente mobilidade e consciência corporal, com muita energia nos movimentos e sem esboçar cansaço ou dores. Pareciam todos felizes, o que me fez questionar: será que práticas como a capoeira influenciam na saúde dos praticantes?

Meu objetivo nesse texto não é restringir apenas a capoeira, mas tentar verificar dentro dessa prática o que temos na literatura científica e pensar se cabe extrapolar para outras atividades. Para isso, vou utilizar um artigo de revisão fresquinho que saiu do forno este ano.

Na revisão sistemática feita por Souza (2023), verificou-se que a prática de capoeira tem resultados bem interessantes nos aspectos físicos e sociais. Dentro desse estudos, a prática esteve correlacionada com melhora de equilíbrio, parâmetros cardiovasculares, diminuição do declínio cognitivo etário, reflexos e maior regularidade na manutenção da própria saúde.

Além desse aspecto, estudaram a qualidade de vida dos praticantes e verificaram o impacto social da atividade, como por exemplo no processo de inclusão de pessoas com deficiência intelectual (que apresentaram aumento no índice de sociabilidade) e na reintegração de adolescentes refugiados de países em guerra (que apresentaram diminuição significativa em problemas comportamentais e melhora de habilidades interpessoais, confiança e autodisciplina).

O ponto disso tudo é tentar projetar que o impacto de apenas uma prática dentro de uma cidade de quase 500 mil habitantes poderia ser tão relevante que merecesse uma atenção. Quantas outras atividades, não somente físicas, que podem trazer uma diferença significativa na vida, saúde e bem-estar para nós?

Fica a dica pra você meu querido leitor, já procurou alguma coisa que te satisfaça, externa e internamente, nos últimos tempos? Talvez seu próximo passo na jornada de autoconhecimento da vida esteja na cidade ao lado.

 

Referências:

https://www.riopreto.sp.gov.br/

SOUZA, Arligson José de. Capoeira e qualidade de vida: uma revisão sistemática. 2023. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Educação Física) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2023.