O que é RPG?

RPG, ou Role-Playing Game, é um tipo de jogo em que os participantes assumem papéis de personagens fictícios em um mundo imaginário. Os jogadores criam e desenvolvem seus personagens, tomando decisões que influenciam o desenrolar da história. O jogo é guiado por um Mestre, que narra o cenário, controla os personagens não jogáveis (NPC’s) e arbitra as regras. A narrativa é colaborativa, com os jogadores interagindo entre si e com o mundo ao seu redor, enquanto enfrentam desafios e resolvem conflitos, muitas vezes utilizando rolagens de dados para determinar o sucesso ou fracasso de suas ações.

O RPG moderno surgiu nos Estados Unidos, com o lançamento do icônico Dungeons & Dragons (D&D) em 1974. Inspirado em jogos de guerra o D&D introduziu a ideia de interpretar personagens individuais em vez de controlar exércitos. A inovação de Gygax e Arneson foi combinar elementos de fantasia, como dragões, elfos e magias, com um sistema de regras que permitia aos jogadores evoluir seus personagens ao longo do tempo, ganhando experiência e habilidades.

O sucesso do D&D foi imediato, e o jogo rapidamente se popularizou entre grupos de amigos e entusiastas de fantasia.

Existem diversos tipos de RPG, Schmit (2008) categoriza os RPG’s em cinco tipos principais:

  • RPG de Mesa: o formato tradicional, em que os jogadores se reúnem em torno de uma mesa, utilizando dados, fichas de personagens e muita imaginação.
  • Live Action: os jogadores interpretam fisicamente seus personagens, em um ambiente que simula o cenário do jogo.
  • Aventura Solo: livros jogos em que o leitor faz escolhas que determinam o rumo da história.
  • RPG Eletrônico Solo: jogos de computador ou videogame em que o jogador controla um personagem em um mundo virtual.
  • MMORPG (Massively Multiplayer Online Role-Playing Game): jogos online em que milhares de jogadores interagem em um mundo virtual compartilhado.

Aqui focaremos no mais tradicional, o de mesa, que é o mais indicado para a utilização em sala de aula.

Por que utilizar o RPG na sala de aula?

No RPG, o jogador utiliza ativamente de sua capacidade de memória criadora, reorganizando suas experiências prévias para criar, junto com seus companheiros, novas experiências de jogo (Schmit, 2008).

Essa flexibilidade do jogo traz uma questão à tona, a interdisciplinaridade está implícita aqui, todas as áreas de conhecimento podem ser contempladas e também as relações entre elas. Além disso, a interpretação do personagem pelos alunos no RPG vivencia o conteúdo de forma mais intensa, uma vez que os alunos deixam de ser ouvintes e passam a ser atores do processo, como nos diz Bolzan (2003).

Em uma aventura medieval, a mais comum das aventuras, pode se ensinar sobre feudalismo de um ponto de vista histórico, utilizando-se de mapas, pode-se ensinar geografia, e para melhorar ambientação, a literatura, a música e até mesmo a matemática, pode-se inserir cálculos na resolução de enigmas/quebra cabeças dentro do jogo.

Um educador pode utilizar esta possibilidade de gerar vivências imaginárias para trabalhar questões morais e éticas, com maiores elaborações, pois as situações e as ações não são limitadas como no real (Schmit, 2008).

Os jogadores são constantemente desafiados a imaginar cenários, personagens e situações, o que estimula a criatividade e a capacidade de pensar “fora da caixa” para tomar decisões e prosseguir no jogo. Essas decisões em geral são coletivas, o que promove a socialização e o desenvolvimento de habilidades como a comunicação, a negociação e a resolução de conflitos através da formação de consensos.

Como utilizar o RPG?

Um ponto importante é a necessidade de clareza nos objetivos pedagógicos. Então o jogo não deve ser visto apenas como uma atividade lúdica, mas como uma ferramenta que pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades específicas. Para isso, é essencial que os educadores tenham um plano de aula bem estruturado e saibam como integrar o jogo ao currículo escolar.

Apesar dos benefícios, o uso do RPG na educação também apresenta desafios. Há a questão do tempo, boas condições de trabalho e do espaço necessário para realizar sessões de RPG em sala de aula, citada no SciCast #593.

Uma outra questão é justamente a falta de familiaridade dos educadores com o jogo. Muitos professores podem se sentir intimidados pela complexidade das regras ou pela necessidade de criar narrativas envolventes.
Já existem projetos e estudos com objetivo de auxiliar os educadores, como o RPG na Escola ou a antiga Série Mini GURPS de Luiz Eduardo Rincon.

A ferramenta RPG:

Quando bem aplicada, a ferramenta RPG pode reverter parte dessas dificuldades, pois conforme se aprende a jogar percebe-se que, para que o jogo flua e seja divertido, é necessário uma espécie de “contrato social” entre o mestre, que aqui na maioria dos casos será o professor, e os jogadores.
Contrato que estabelece regras de respeito e condução, onde os jogadores, mesmo tendo liberdade de ação, colaboram com a narrativa do mestre, para que a história se desenrole mas seja sempre única através dos acontecimentos desencadeados por decisões inimagináveis dos alunos/jogadores.

Portanto, como destacado por Schmit (2008), é essencial que os educadores e pesquisadores continuem a explorar as possibilidades do RPG na educação, buscando novas metodologias e formas de integrar o jogo ao currículo escolar. Com o apoio de materiais pedagógicos adequados e uma formação consistente, o RPG pode se tornar uma ferramenta indispensável para a educação do século XXI.

O RPG seria uma espécie de laboratório de vivências onde o limite é a imaginação dos participantes. Assim, por meio do RPG, os jogadores podem conferir novos sentidos às suas experiências, podendo ser uma ótima ferramenta para intervenções do educador (Schmit, 2008, p. 73).

Ou, mais ou menos como nos diz Platão na obra A República, é necessário ensinar as melhores fábulas às crianças para conduzi-las à virtude.

De maneira geral, o RPG é uma ferramenta poderosa para a educação, capaz de transformar o processo de aprendizagem em uma experiência envolvente e significativa. Estimular a imaginação, a colaboração e a reflexão pode contribuir para o desenvolvimento integral dos alunos, preparando-os, não apenas para os desafios acadêmicos, mas também para a vida em sociedade.

 

BIBLIOGRAFIA E SUGESTÕES

BOLZAN, Regina de Fátima Fructuoso de Andrade. O aprendizado na Internet utilizando estratégias de roleplaying game (RPG). 2003. 278p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa catarina – UFSC, Florianópolis, SC.

SCHMIT, Wagner Luiz. RPG e Educação: alguns apontamentos teóricos. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2008.

Vídeo – “RPG na escola: como jogar”, Carlos Machado, Nead Unicentro – https://www.youtube.com/watch?v=GWGdu3cJIE0

RICON, Luiz Eduardo. O Descobrimento do Brasil. Série Mini GURPS. São Paulo: Devir, 1999.

RICON, Luiz Eduardo. Quilombo dos Palmares. Série Mini GURPS. São Paulo: Devir, 1999.

RICON, Luiz Eduardo. Entradas e Bandeiras. Série Mini GURPS. São Paulo: Devir, 1999.

RICON, Luiz Eduardo. As Cruzadas. Série Mini GURPS. São Paulo: Devir, 1999.