
A busca por práticas agrícolas mais sustentáveis tem levado pesquisadores e produtores a resgatarem técnicas que integram inovação e natureza, reduzindo impactos ambientais e garantindo a fertilidade dos solos a longo prazo. Entre essas técnicas, a rochagem se destaca como uma alternativa promissora à fertilização convencional, promovendo a recuperação e o equilíbrio dos solos agrícolas sem a necessidade de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade, que frequentemente causam impactos negativos ao meio ambiente.
A rochagem consiste na aplicação de pós de rocha moída diretamente no solo para fornecer nutrientes essenciais às plantas e melhorar suas propriedades físico-químicas. Ao contrário dos fertilizantes sintéticos solúveis, que podem ser rapidamente lixiviados, os pós de rocha liberam seus nutrientes de maneira gradual, promovendo um suprimento constante de elementos como potássio, cálcio, magnésio, fósforo e diversos micronutrientes. Esse processo se assemelha ao intemperismo natural, no qual minerais presentes nas rochas se decompõem lentamente sob a ação da umidade, dos microrganismos e das reações químicas do solo, enriquecendo-o ao longo de milênios. No entanto, com a rochagem, esse processo é acelerado de forma controlada, proporcionando benefícios agrícolas mensuráveis em prazos reduzidos.
A escolha da rocha a ser utilizada depende das necessidades nutricionais do solo e do tipo de cultura agrícola a ser cultivada. Entre as principais opções, destacam-se os basaltos e diabásios, ricos em potássio, magnésio e ferro, essenciais para o crescimento vigoroso das plantas. Os fosforitos são uma excelente fonte de fósforo, nutriente fundamental para o desenvolvimento das raízes e a floração. Os calcários, além de fornecerem cálcio e magnésio, ajudam na correção da acidez do solo, equilibrando seu pH e tornando-o mais propício ao cultivo. Rochas ultramáficas, por sua vez, apresentam altos teores de magnésio e podem conter traços de níquel e cobalto, elementos essenciais para algumas culturas específicas e para a microbiota do solo.
Além de seu potencial agrícola, a rochagem também representa uma solução sustentável para o aproveitamento de rejeitos de mineração e da indústria de rochas ornamentais, setores que geram grandes volumes de resíduos minerais. Em vez de descartar esses materiais, eles podem ser reaproveitados na agricultura, reduzindo impactos ambientais e promovendo um ciclo produtivo mais eficiente e menos poluente.
Os benefícios da rochagem vão além do fornecimento de nutrientes. A liberação gradual dos elementos minerais evita perdas por lixiviação, garantindo uma nutrição prolongada e eficiente para as plantas. A estrutura do solo também é melhorada, favorecendo a retenção de água e o desenvolvimento radicular, o que torna as culturas mais resistentes a períodos de estiagem. Outra vantagem importante é a redução da dependência de fertilizantes químicos, diminuindo custos para os agricultores e reduzindo os impactos ambientais associados à sua produção e uso. Além disso, a rochagem estimula a biodiversidade do solo ao favorecer a atividade de microrganismos benéficos, como fungos e bactérias que auxiliam na decomposição da matéria orgânica e na disponibilidade de nutrientes para as plantas. Em alguns casos, determinados tipos de rocha podem até contribuir para a fixação de CO₂, ajudando a mitigar as mudanças climáticas.
A técnica de rochagem começou a ser estudada no Brasil na década de 1950, em Minas Gerais, com pesquisas focadas em diferentes tipos de rochas para uso agrícola. Nos anos 1970, o interesse pela prática cresceu, levando a estudos mais aprofundados sobre sua aplicação e eficácia na melhoria da fertilidade dos solos brasileiros. Atualmente o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás apenas da China, Índia e EUA.
O país, portanto, apresenta um grande potencial para a implementação da rochagem devido à sua geodiversidade e à abundância de rochas adequadas para essa técnica. No entanto, desafios como a falta de regulamentação específica, a necessidade de mais pesquisas regionais detalhadas e a conscientização dos produtores rurais ainda precisam ser superados. Com o avanço dos estudos científicos e o desenvolvimento de políticas públicas adequadas, a rochagem pode se tornar uma ferramenta essencial para a construção de uma agricultura mais resiliente, econômica e ecologicamente equilibrada.
Um exemplo notável ocorre no município de Ametista do Sul, no Rio Grande do Sul, onde resíduos de basalto, resultantes da mineração local, são reaproveitados como remineralizadores de solo. Essa iniciativa não apenas reduz o descarte de resíduos, mas também enriquece o solo com nutrientes essenciais, promovendo uma agricultura mais sustentável.
Além disso, a rochagem apresenta uma curiosidade ambiental significativa: certos tipos de rochas, quando aplicados ao solo, podem capturar dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera durante o processo de intemperismo químico. Essa característica contribui para a mitigação das mudanças climáticas, tornando a técnica uma aliada na redução dos gases de efeito estufa.
Empresas brasileiras têm investido na produção de remineralizadores. Estados como Minas Gerais, Goiás e Paraná já possuem registros no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de empresas dedicadas a essa atividade, refletindo o crescimento e a aceitação da rochagem como prática agrícola viável e benéfica.
Contudo, para ser utilizada com remineralizador, a rocha precisa atender à Instrução Normativa no 5, de 2016, que determina garantias mínimas, definidas em cinco critérios (BRASIL, 2016): a) soma de bases (SB) totais na forma de óxidos (CaO + MgO + K2O) de no mínimo 9%; b) teor mínimo de K2O total de 1%; c) conteúdo máximo de 25% de quartzo (sílica livre); d) concentrações máximas de elementos potencialmente tóxicos: arsênio (As), < 10 mg/kg; , < 10 mg/kg; mercúrio (Hg), <0,1 mg/ kg; chumbo (Pb), <200 mg/kg e) teste agronômicos que comprove a eficiência da rocha em modificar as propriedades de fertilidade do solo e o desenvolvimento de plantas. Além desses critérios, são avaliados também o pH de abrasão do pó de rocha, e a granulometria do pó, definida entre as classes de farelado, pó ou filler.
Ao unir conhecimento geológico e práticas agrícolas inovadoras, a rochagem resgata processos naturais e os coloca a serviço da produção de alimentos mais saudáveis e sustentáveis. Se corretamente implementada, essa técnica tem o potencial de transformar a agricultura, promovendo solos mais férteis, colheitas mais produtivas e um meio ambiente mais equilibrado para as gerações futuras.