Quando estamos doentes, quando nos machucamos, quando temos algum incômodo, imediatamente recorremos aos profissionais da saúde. Esperamos sempre que os médicos, enfermeiros, dentistas, fisioterapeutas e tantos outros especialistas estejam lá para cuidar de nós, proteger nossa saúde/bem-estar e, normalmente, nunca pensamos em como eles estão, como se cuidam para voltarem para casa em segurança. Eu quis tentar trazer um pouquinho da resposta à pergunta “Como se protegem os protetores?”.
A norma que nos ajuda (os engenheiros e técnicos de segurança) a decidir as medidas de mitigação (controle) dos riscos é principalmente a NR-32 (SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚDE). Essa norma traz nossa atenção para os três principais riscos aos quais um profissional da saúde pode estar exposto, principalmente em clínicas e em hospitais: Risco Biológico, Risco de exposição à Radiação e Risco de acidente com objetos perfuro-cortantes (agulhas e bisturis, principamente). Nesse texto, quis tratar do risco biológico, para poder aprofundar mais.
Vale lembrar também que, para a nossa legislação, serviços de saúde consideram toda a edificação. Então todos os funcionários de um hospital, por exemplo equipes de limpeza e atendimento, devem estar presentes nas análises de risco.
RISCO BIOLÓGICO
De um modo bem leigo, risco biológico é o risco de se contaminar e ficar doente. Esse é de longe o maior risco aos quais esses profissionais estão expostos, já que levamos até eles todas as nossas doenças para identificarem e curarem.
Para a NR-32 existem dois tipos de exposição. Uma que faz parte do trabalho diário da pessoa, como pesquisadores, farmacêuticos e químicos que lidam diretamente com agentes biológicos diariamente e intencionalmente. A segunda não é intencional ou diária, como médicos e enfermeiros lidando com pacientes.
Eu falei ali atrás em AGENTES BIOLÓGICOS, mas o que são eles? Seriam todos aqueles organismos que têm potencial de trazer doenças. São todos os microorganismos, geneticamente alterados ou não, as culturas de células, os parasitas, as toxinas e os príons. É comum pensar em enquadrar aqui os animais peçonhentos e afins, mas esses são caracterizados como agentes de acidentes e não agentes biológicos.
Para classificar esses agentes, foram criadas quatro classes diferentes, considerando o risco que representam para a saúde do trabalhador, sua capacidade de propagação para fora dos ambientes de trabalho e a existência ou não de profilaxia e tratamento. O Guia Técnico de Riscos Biológicos, tem um resumo dessa classificação em forma de tabela:
Com essas classes de risco, os engenheiros de segurança e médicos do trabalho podem criar as medidas de prevenção com uma certa hierarquia para implantação. Afinal, é melhor resolvermos logo de cara os casos mais críticos e depois vamos cuidando dos outros. Todos devem ser analisados e abordados, mas essa ordem faz muita diferença quando precisamos pedir grana para a instalação dessas medidas.
O risco de propagação também é muito importante, pois o “tamanho” das medidas de segurança vai depender de quantas pessoas precisam ser protegidas. Eu posso colocar só um sistema de exaustão naquela sala ou preciso treinar uma equipe de emergência com um alarme dedicado? Precisamos treinar só aqueles trabalhadores que estão ali naquele laboratório ou UTI ou todos daquela ala do hospital?
O risco biológico, junto com o de radiação, é um dos mais críticos e esse tipo de consideração não pode ser esquecida. Os agentes são silenciosos, tipo ninjas, e podem pegar toda uma galera desavisada.
Podemos fazer o controle, ou mitigação, destes riscos em três pontos diferentes: na própria fonte onde ele é gerado, no meio de transmissão ou no trabalhador. Como engenheiro de segurança, eu nunca prefiro colocar a proteção no trabalhador. Se for para colocar, que seja como uma redundância, tipo eu uso uma exaustão forçada do ar em cima da bancada de trabalho (proteção no meio de transmissão) e peço para usarem máscaras (proteção na pessoa) apenas como garantia. Principalmente com a pessoa podendo se tornar um meio de transmissão.
Aliás, vale lembrar: Por mais legal e pomposo que seja passear de jaleco para mostrar que é da área da saúde, não é nada legal sair do seu ambiente de trabalho com as roupas/uniformes usados como proteção. Principalmente para ir almoçar.
E, para fechar, queria comentar um pouco sobre a questão da insalubridade.
O risco biológico é possível de gerar insalubridade para o trabalhador. A nossa NR-15 dita isso e define duas categorias, graus médio e máximo. Três se considerarmos uma como “ausência de insalubridade”.
O grau máximo é previsto quando existe contato permanente com pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem como objetos de seu uso, não previamente esterilizados (caso mais comum em hospitais); carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos, couros, pêlos e dejeções de animais portadores de doenças infectocontagiosas (caso mais comum em centro de pesquisas e desenvolvimento de curas e laboratórios).
O grau médio é o mais comum para médicos, pois é previsto quando as atividades ou operações têm contato permanente com pacientes e materiais infecto-contagiantes em hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de uso desses pacientes, não previamente esterilizados); laboratórios de análise clínica e histopatologia (aplica-se tão só ao pessoal técnico).
Outras situações não se enquadram na insalubridade.
Gosto muito da gama de textos e discussões possíveis que essa linha de proteção aos protetores abre. Vocês que trampam nessa área da saúde, que tipo de proteções já viram? Que tipos de agentes biológicos costuma aparecer para vocês? A galera paga a insalubridade direitinho? Hehe. Vamos conversar para enriquecer ainda mais essa discussão!