Essa resenha é uma parceria do Portal Deviante com a Cia da Letras, que disponibiliza livros do seu catálogo para os nossos redatores escreverem as resenhas. Livro de hoje: Stalker
A Suécia não é um lugar tão tranquilo assim! Talvez você não tenha se ligado, mas toda a área da Escandinávia é atualmente um polo de produção literária no melhor estilo de DETETIVÕES! Acho que todo mundo deve conhecera trilogia Millenium, mas ela é só a pontinha do ICEBERG (referência não intencional) que hoje é a literatura policial Escandinávia. Existe todo um universo de detetives (fictícios) que já são mundialmente famosos resolvendo casos nesses países que nós sempre associamos com segurança.
Lars Kepler é o nome do autor de Stalker, mas acho importante ressaltar que esse nome é um pseudônimo utilizado pelo casal Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril para publicar seus romances. (E convenhamos, foi melhor ter escolhido um pseudônimo mesmo, porque os nomes deles são PÉSSIMOS pra fazer nome de casal. Seria o que? Alexandera? Alexandraer? Lars ficou melhor pra todo mundo.)
E por que é importante isso? Porque o livro apresenta pontos de vista de ambos os gêneros. E, por mais que um autor seja genial, é sempre difícil se colocar totalmente dentro da experiência vivida exclusivamente por um outro gênero (no sistema binário ou não). Achei que os pontos de vista trazem muita intensidade na diferença de visão entre ambos os gêneros e que isso é um puta ponto alto livro.
Outro ponto é: Eu não sabia, mas esse não é o primeiro livro da série de livros que acompanham a vida do detetive principal do casal, o Joona Linna. É na verdade o Quinto da sequência de livros deles. Foi uma experiência CURIOSA, ler uma história que tem várias referências a fatos dos livros anteriores e não saber exatamente como esses fatos se desenvolveram. MAS, PORÉM, CONTUDO, TODAVIA os casal tem uma imensa habilidade de não transformar isso em obrigatório para a leitura. Eu consegui pegar a história toda sem nunca ter lido os livros anteriores. Não sei se foi o fato desse livro ser um certo “recomeço” para o Joona, o que fez com que o passado fosse sempre um background e não um motor da narrativa. Mas eu não perdi nada da experiência desse livro por não ter lido os outros.
Dito tudo isso vamos começar a falar do livro em si. (É foi mal, as vezes eu me prolongo nas introduções, my bad). Tenha sempre em mente que o livro é um romance policial, ele segue aquela estrutura básica, um assassinato, investigações desse assassinato, mudanças bruscas de direção conforme novas pistas/outros assassinatos vão aparecendo, fore shadowing do assassino, a polícia tenta perseguir um inocente, um detetive mais fodão é quem tem as pistas certas e acha antes de todo mundo a resposta certa. É MUITO RARO, um romance policial sair muito dessa linha básica, mesmo os mais inovadores mantem essa estrutura básica. E esse não é um desses casos. Isso é ruim? Não acho. Estruturas clássicas estão ai para serem usadas. Pra mim o verdadeiro talento nesses estilos é você saber usar bem os clássicos.
Nesse caso, eles atingiram esse objetivo. Os personagens são cativantes, todos eles tem um ponto de vista bem genuíno que contribui para a formação do suspense. Eu pessoalmente não curto o estilo de policial Sherlock Holmes dos filmes mais recentes que é o arquétipo básico do Joona. Sou muito mais team Poirot (Agatha Christhie RAINHA, o resto NADINHA) no estilo de investigação. Mas existe um trabalho de humanização forte do Joona que diferencia ele dessa idealização super inteligente/super porradeiro.
Eu achei que o livro ia efetivamente discutir a questão da super exposição moderna, onde todos divulgamos muita informação sobre nós mesmo, e como isso pode ser utilizado por pessoas que queiram nos rastrear. O nome sugere isso né? Mas não é o que acontece. Isso é muito mais um enfeite da trama do que uma discussão. O assassino persegue e mata mulheres, ponto. Não passa disso. Obviamente no decorrer da trama, é explicado o motivo dessa perseguição, mas não passa nem perto de discutir o ponto. É muito mais expositivo do que reflexivo.
No geral é um ótimo livro, vale a leitura para os amantes do tema, repito, eu consegui pegar o background como um todo, mas pra quem quer entrar a fundo na história, talvez seja mais produtivo começar do primeiro livro.