Antes de começar a resenha propriamente dita, preciso fazer um breve disclaimer:
Essa talvez seja a resenha que eu mais me demorei pra escrever. Estou pensando a um bom tempo em como abordar esse assunto. Acho que nessa resenha isso vai ser essencial. Não dá pra simplesmente transformar em palavras os sentimentos que eu tive ao ler o livro. Escrevo com a consciência de que muito provavelmente vou errar em algum ponto e que ninguém tem a obrigação de ficar corrigindo, mas agradeceria mais do que nunca a você, leitor, com vivência e experiência no tema, que contribua aí embaixo na caixa de mensagens. Agora vamos lá.
A primeira coisa que me chamou a atenção no livro é que ele é pequeno MESMO.
Fazia muito tempo que eu não lia um livro tão pequeno. Eu se fosse escolher um nome para o livro não escolheria “manual”, talvez seja mais um desconhecimento meu, mas eu tenho a impressão de que manual tem a informação de instruir sobre algo, e o livro vai mais na linha da indicação do que na linha da instrução propriamente dita. Isso não é um demérito ao livro em si. Foi mais uma quebra de expectativas do que qualquer outra coisa. De forma bem resumida ele traz 11 tópicos para abrir o entendimento do problema que o racismo é no Brasil e te encaminhar para materiais mais aprofundados sobre cada 1 deles.
De certo modo eu acho que é o livro perfeito para você indicar para alguém que esteja querendo começar a entender o tema.
A linguagem é bem pouco técnica e vai muito mais pelo caminho do didatismo. Alguns pontos podem até ser “óbvios”, mas pelo que eu pude perceber a estratégia dela foi justamente essa. Se é “obvio” porque é que tão pouca gente reconhece isso? Porque é tão pouco falado ou exercitado? De uma forma geral eu sinto que o livro foi pensado para dar essa cutucada. Sabe toda essa coisa que você acha que sabe? Não adianta só saber. Você tem que agir.
“Chegamos, assim, à seguinte pergunta: o que, de fato, cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista? O autoquestionamento – fazer perguntas, entender seu lugar e duvidar do que parece “natural” – é a primeira medida para evitar reproduzir esse tipo de violência, que privilegia uns e oprime outros”
E os 11 pontos vão fazer exatamente isso, provocar em nós que queremos acabar com essa violência estrutural da sociedade, o questionamento, para que possamos nos aprofundarmos e seguir questionando e nos contrapondo cada vez mais no dia a dia as violências que nós já naturalizamos.
Falando agora do lugar do privilegiado.
Eu sou uma pessoa que tô quase bingando a tabela do privilégios. Homem, cis, branco, hétero, classe média. Em resumo, se eu for sacar 1500 reais da minha conta num banco, ninguém vai me pedir o documento. Ler esse livro me introduziu a novas formas de me questionar e querer buscar mais informações sobre a vivências as quais eu nunca vou passar na vida. Me ajudou a desmitificar conceitos que se formam muito rapidamente conforme nós vamos tentando nos “descontruir” (eu odeio esse termo mas não achei nenhum melhor).
Apesar de não ser o primeiro livro que eu tenha lido já na intenção de aprender mais, foi o primeiro livro de não ficção que eu li com esse intuito. Devido a minha formação como leitor ser quase que exclusivamente em cima da fantasia, o meu caminho natural foi buscar mais autores negros e entender a narrativa deles. Porém, a fantasia por mais direta que possa ser, ainda usa de muitas alegorias ou situações de reflexão para expressar um ponto. Fez diferença um livro em que está explicitamente escrito “Isso não é maneiro” ou “Esse é o caminho a se perseguir”.
Como conclusão, volto no ponto de que esse é o livro ideal para iniciar reflexões, indicar para todos os seus amigos dentro do lugar de privilégios, ser discutido nas escolas. Esse livro deveria fazer parte da leitura básica de todo cidadão brasileiro.