Essa resenha é uma parceria do Portal Deviante com a Cia da Letras, que disponibiliza livros do seu catálogo para os nossos redatores escreverem as resenhas. Livro de hoje: “Labirinto de histórias”, publicado pelo selo Companhia das Letrinhas.

Esta é mais uma parceria entre os artistas Stela Barbieri e Fernando Vilela, totalizando mais de vinte trabalhos juntos (conheça mais sobre suas obras em www.stelabarbieri.com.br e www.fernandovilela.com.br). Segundo os próprios autores, foram buscadas inspirações para as ilustrações deste livro nas versões consagradas dos contos de fadas ilustrados pelos artistas Gustave Doré (1867), Leslie Brooke (1904), Arthur Rackham (1909 e 1919) e Lorenzo Mattotti (2010). Para além das inspirações citadas, a arte do livro traz sua própria originalidade, sendo possível identificar os traços característicos de Fernando Vilela, sobrepondo o uso de pincéis com sua inconfundível técnica de carimbos (como pode ser visto nesse vídeo de 2008).

Os traços do artista Fernando Vilela.

Pela sua estrutura, a história é indicada para leitores já iniciados, seja em leitura autônoma ou em leitura compartilhada.

Na história, os irmãos gêmeos Bento e Manu partem numa aventura mágica em busca da bruxa engraçada e atrapalhada conhecida como “Bruxa Abdula e sua matula”, tão presente nas histórias contadas pela sua avó. Mas as crianças acabam passando por uma jornada errante na qual caem em diferentes contos de fadas tradicionais em seus momentos cruciais, interagindo com os seus personagens. Assim, a busca pela Bruxa Abdula se transforma em uma grande intersecção de contos.

A viagem entre os diferentes mundos se dá através da sentença mágica descrita no livro da Bruxa Abdula encontrado pelos irmãos:

Para a “magia do dois” acontecer, os irmãos gêmeos devem dar as mãos e se concentrar no lugar para onde querem ir. Depois, devem falar juntos a frase mágica: “Eu, você, nós dois!”. Dessa forma, os irmãos serão transportados para o lugar que imaginaram. Se estiverem com mais pessoas, todos devem dar as mãos e falar juntos o número total do grupo. Por exemplo, em cinco deve-se falar: Eu, você, nós cinco!”

Conforme as duas crianças vão passando pelos diferentes contos, e vão levando consigo as respectivas personagens (primeiro a Chapeuzinho Vermelho, depois os três Porquinhos, e outros assim por diante), a sentença mágica é repetida de forma acumulativa. Tal recurso de repetição e acumulação tende a agradar as crianças na leitura, pois lhes possibilita prever a frase a ser dita junto com a contagem que é realizada, além da expectativa gerada: “para onde vão agora”?

A jornada de mundo em mundo até encontrar a Bruxa Abdula culmina em um labirinto caleidoscópico em que é possível ver todos os contos ao mesmo tempo, bem como os espaços para novas histórias que ainda estão para serem contadas.

A forma com que cada leitor interage com o livro varia de acordo com o seu repertório. Quando já se conhece os contos de fadas citados, a experiência da leitura tem a possibilidade de ser mais plena. Mas mesmo quando a criança não os conhece, a história por si só tem elementos suficientes para diverti-la, além de poder ser uma introdução à cada um desses contos para a criança.

Labirinto de História é, ainda, um tributo à tradição das contações de histórias (tanto oral quanto de leitura), representada no livro pela avó, cujas histórias são fonte de inspiração para os netos conhecerem as diversas fábulas e ainda criarem a sua própria aventura. Esperamos que os leitores de todas as idades se divirtam com este crossover de contos de fadas!