Kill la Kill é um anime do estúdio Trigger lançado entre 2013 e 2014 e conta a história da novata Ryuko Matoi chegando na escola da cidade em que ela morava quando mais nova e tendo que lidar com a estranha hierarquia de lá, liderada pela famosa Satsuki Kiryuuin.
Ryuko teve o pai morto e sua única pista é metade de uma tesoura gigante usada pelo assassino, e ela fará de tudo para encontrar essa pessoa e se vingar. É um argumento de narrativa bem comum em mangás de ação liderados por personagens masculinos.
Nessa escola existem personagens com Uniformes Goku, feitos de um tecido especial que é capaz de elevar sua proeza física e mental até o limite, te dando poderes. Estas roupas também têm um ranking e uma hierarquia, tendo combates diários na escola, e uma ordem que tem que ser obedecida antes de chegar no chefão.
A história de Ryuko realmente começa quando encontra, na casa em que ela morava com o pai, uma roupa falante chamada Senketsu, que se alimenta de sangue. Na primeira luta em que a Ryuko derruba sangue nele, o Senketsu muda de forma, fica bem sexy, e demonstra ser uma roupa de ranking máximo, igual à da Satsuki.
Antes de falar qualquer coisa, quero reiterar que a leitura em japonês da palavra “kill” é “kiru” (キル) e significa matar. Porém, existem outros ideogramas que também são lidos como kiru, tal qual os verbos “cortar” e “vestir”, que trazem camadas para o título desse anime. Então o título pode ser lido como “vestido para matar” ou “cortar para vestir” ou “vestir para cortar” ou “cortar para matar” e todas as permutações possíveis dessas palavras, que fazem sentido, já que o tema e o Sistema de Magia são baseados em roupas.
Na escola, a Ryuko também faz amizade com uma menina da sala dela, chamada Mako Mankanshoku, que traz não só o alívio cômico como o suporte emocional para a protagonista.
O lance de Kill la Kill é o espetáculo visual que simula e faz referência a animes de garotas mágicas com transformação, focando especificamente na forma sensual das personagens femininas. Esse aspecto em específico pode ser desconfortável e desagradável de assistir, principalmente se a pessoa não está acostumada com esse aspecto cômico de mangás e animes voltados para garotos jovens, e também se elas não estiverem cientes da intenção de paródia.
O spoiler que eu vou dar nesse parágrafo é importante para esse entendimento, mas pode pular se não quiser ler. O vilão final são alienígenas que querem dominar a Terra através dos tecidos das roupas Goku e cujo arauto é a super-top-CEO-do-mundo-da-moda Ragyou Kiryuuin, mãe da Satsuki.
Narrativamente falando, os vilões são fracos. Pois eles aparecem só nos 45 minutos do segundo tempo. Mas, até lá, você tem o desenvolvimento da Ryuko, o seu crescimento para usar o Senketsu corretamente, junto com sua metade de tesourona, sua amizade com a Mako, sua relação com a Satsuki, que tem um twist interessante, e as relações dos outros personagens da escola, que, mesmo não sendo importantes para avançar o literal plot, têm sua importância para esse crescimento da Matoi.
O anime se utiliza de técnicas de animação e piadas de referência à outros animes que são mais engraçadas se você percebe que foi feito por uma equipe querendo contar a jornada dessa menina percebendo que a vingança dela estava direcionada para a entidade errada. Além de zoar transformações, dar zoom na bunda das meninas todas e ter um grupo revolucionário nudista, um homem do bdsm, uma vilã que tem uma banda, uma estilista super forte e críticas severas à desigualdade social japonesa, espelhadas na hierarquia da escola.
Mesmo com as questões semi-sexuais das roupas (inclusive tem um episódio inteiro sobre aceitar que, se você e a roupa estão fundidos então você está, tecnicamente, pelada), não existe nenhum casal canônico. Os fãs podem ler o que quiserem onde quiserem, mas o cânon não estabelece relações românticas entre nenhum personagem.
As roupas são o lance, ter ou não, vestir ou não. Você é quem você é, e sua roupa tem como/pode refletir isso, e não o oposto. Você não pode deixar uma saia curta controlar você. É uma premissa interessante de explorar e esse anime de lutas fantásticas e poderzinhos faz isso.
Eu gosto de Kill la Kill. Tem seus machismos, suas piadas infames, seus momentos desnecessários e tem um vilão que é muito mal estabelecido. Mas mesmo com isso tudo, o que ficou para mim no final foi a valentia e a vitória, a amizade entre as personagens, a vontade de tornar o mundo um lugar melhor, mais livre e mais igualitário. E a confiança de vestir o que eu quiser.