Eu já vou abrir com uma confissão aqui:
É uma falha gravíssima minha como leitor NUNCA ter lido nada, absolutamente NADA de literatura de cordel até hoje. Sério, apesar do meu gosto pela literatura, eu nunca fui um estudante “assíduo” nas aulas de literatura do ensino médio, então eu não sabia nem o que caracterizava um cordel. E tenho que dizer, depois de ler esse livro eu fiquei encantado com a métrica e a força das palavras que compõem esse livro.
O tema ajuda? Ajuda muito.
É um livro cheio de histórias fortes e impactantes. Histórias negligenciadas pela minha raça durante séculos. E que ganham nesse livro o mais auto destaque. Mas foi a forma que me encantou. O estilo do livro faz das narrativas ainda mais heroicas, ornam muito bem com os feitos dessas mulheres cheias de coragem. Acho que nenhum romance teria feito jus aos seus feitos. O cordel foi uma forma LINDA de transmitir suas narrativas e suas vidas. Se você, tal como eu, nunca tinha lido um cordel na vida, dê uma chance a esse livro. Aposto que, como eu, você vai se encantar.
Esse livro segue na minha trajetória de botar em prática o que eu entendi do também excelente Pequeno manual anti racista. Ler e conhecer autoras e heroínas negras faz parte da nossa luta diária para combater o racismo. E esse livro escolheu histórias maravilhosas que não só contam da luta do povo negro pelo reconhecimento dos seus direitos, como atravessam a interseccionalidade para falar do apagamento das mulheres negras nessa pouca história que é conhecida. Por exemplo, nós estudamos no colégio a história de Zumbi. Grande líder na luta contra a escravidão. Mas nós não ouvimos falar de Dandara, esposa e também líder do quilombo de Palmares. Muito mais do que era esperado para o papel de esposa, foi também uma líder guerreira. Comandou ações militares junto ao marido. E ela, pelo menos nas minhas aulas, nunca foi mencionada.
Impossível não entender
que essas histórias foram apagadas com o claro objetivo de retirar os símbolos que essas mulheres representam. Todas elas a sua maneira foram símbolos de avanços. Desde as princesas africanas escravizadas, à primeira mulher negra a ter um livro publicado. Todas elas são um farol para mudanças. E é justamente por isso que esse livro é essencial para a educação das nossas crianças.
Eu entendo que temos que aprender sobre os clássicos da literatura brasileira. Eu particularmente não gosto dos clássicos, mas entendo a importância e concordo que eles tenham que ser ensinados na escola. Mas chegou muito a hora de incluirmos mais diversidade nesse currículo. Esse livro deveria ser leitura obrigatória para todas as crianças brasileiras. Ele é uma forma excelente de ensinar diversos conteúdos com uma mesma mídia.
Pode até parecer clichê,
mas eu gostei demais de todas as histórias. Não tem como escolher uma melhor. Que todas elas sejam reverberadas e amplificadas até que todos saibamos das suas lutas e glorias. Livro indispensável a qualquer um!