Essa resenha é uma parceria do Portal Deviante com a Cia. das Letras. Livro de hoje: “Da Minha Janela”, publicado pelo selo Companhia das Letrinhas, escrito por Otávio Júnior e ilustrado por Vanina Starkoff. No último dia 26 de novembro, o livro recebeu o prêmio Jabuti, a premiação mais tradicional da literatura brasileira, na categoria melhor livro infantil.
Otávio Júnior, também conhecido como “O Livreiro do Alemão”, em referência aos projetos de fomento à leitura que desenvolveu no Complexo do Alemão, nos leva a enxergar a favela sob o ponto de vista de uma criança à janela de sua casa, que representa a experiência do próprio autor. A referência à Basílica da Penha (chamada pela criança do livro de “castelo iluminando”) remete particularmente ao Complexo da Penha, onde o autor cresceu e reside. No entanto, conseguimos identificar elementos de todas favelas e bairros periféricos das grandes cidades do Brasil, que podem se sentir perfeitamente representadas nas páginas deste livro.
O livro oferece ao leitor tanto poesia literária quanto poesia visual. Otávio e Vanina extraem o que há de mais belo da paisagem concreta e social que forma esse espaço: as diferentes cores das várias casas são um mosaico de retalhos coloridos; o funk é rima e poesia; banhos de sol nas lajes são partes da praia trazidas para as casas. A obra ainda exalta o cotidiano da comunidade, como as brincadeiras de rua, o ir e vir dos trabalhadores, o concerto de um telhado quebrado pela chuva, e tantas outras cenas do dia a dia.
Ressalta-se também a beleza da favela nos diferentes momentos do dia, como na noite estrelada iluminada por janelas e vaga-lumes, na chuva com arco-íris misterioso que pode esconder um tesouro, e no amanhecer cheio de movimento da gente “indo em busca do seu tesouro”.
O livro também mostra os desafios da comunidade observados do ponto de vista da criança. Os sons de um dia de operação policial são sinais de que hoje não é dia de ir à escola nem de brincar na rua. Nesse momento, as portas e janelas fechadas compõem a paisagem no lugar da agitação cotidiana.
A arte da Vanina Starkoff é baseada em colagens de polígonos e traços digitais com recortes texturizados de tinta, concreto, papel, padrões de tecido de chita, entre outros, tudo isso enriquecido com detalhes como telas desenhadas a mão, grafites e fotografias. O resultado é a exuberância multicolorida que representa perfeitamente a organicidade das paisagens periféricas que se deseja representar.
Por fim, o autor ainda questiona ao leitor sobre o que ele vê de sua janela, um convite para que nós também reparemos nas belezas e nos desafios que podemos extrair daquilo que está à nossa vista diariamente. Como é a vista da nossa janela? Um ambiente urbano ou rural? Popular ou elitizado? Planejado ou orgânico? Cada janela tem a sua beleza a ser descoberta por um olhar atento.