Um monte de clichê de romance policial junto! É como eu definiria esse livro em pouquíssimas palavras. Mas como aqui eu não preciso ter a profundidade de um tweet. Vamos à resenha completa!
Então, é aquilo. Clichê não é ruim, só é ruim quando é malfeito. E esse livro acerta em quase todos eles. A premissa básica da história já é muito boa. Isso ajuda bastante. Mas o mais legal de tudo são os personagens.
A história se passa em grande parte em um lar de idosos, desses chiques na Inglaterra. Só de se passar na Inglaterra já dá pra imaginar o tipo de pessoa que vive lá, né?
Aí que entra o toque do autor, ele consegue adaptar a imagem dos típicos idosos ingleses para personagens cheios de personalidade, ainda que ele tenha adaptado essas personalidades de outros livros, como por exemplo, tem CLARAMENTE uma tentativa de Miss Marple. Outra personagem é uma amalgama de diversos estereótipos de agentes do MI-6. Essa inclusive é minha personagem preferida.
É o tipo de coisa que você vê bem menos retratado na ficção como um todo. Tá! Você é um superagente fodão, desativa bomba com chiclete, salva o mundo duas vezes na semana e tudo mais. Mas você faz isso quando você é jovem. Quando tu chega nos 70, a idade não deixa mais tu sair pulando muro e caindo do outro lado do mesmo jeito. Mas tu não deixou de SER aquela pessoa. Como que tu vive uma vida “““comum””” depois disso tudo que você viu e fez. É complicado. E o autor desenvolveu essa personagem com bastante carinho. Ficou muito legal mesmo.
A dinâmica da trama é bem boa também,
você acompanha o livro no ponto de vista de diferentes narradores e com diferentes estilos literários. Achei as transições bem-feitas entre um e outro.
São intercalados capítulos em primeira/terceira pessoa, além das anotações do diário da ““Miss Marple””. É bom para variar um pouco do lugar comum de livros de romance policial em terceira pessoa.
Acompanhamos também a história em dois núcleos principais: o Clube do Crime das Quintas feiras (o clube de idosos detetives), que é o mais divertido, e o grupo da polícia tentando solucionar o caso. Nesse último eu achei que há uma queda brusca na originalidade.
Mas fora a parte dos personagens, ele é um livro OK. Ele cai muito no lugar comum de vários romances policiais: crime acontece, suspeitos são levantados, novas provas vão aparecendo, novos crimes vão acontecendo, as pessoas que a história deixa como obvias são descartadas, tem um grande plot twist e o grande assassino é revelado. 90% dos romances policiais ficam dentro dessa receita.
Um tema que eu achei que permeou a trama como um todo foi a questão da comunidade europeia em oposição à comunidade britânica. O livro não faz nenhuma menção explicita ao Brexit nem nada, mas por diversas vezes ele traz o ponto da imigração de europeus pra dentro da Inglaterra e suas implicações sociais, achei um ponto bem explorado pelo autor.
Porém os personagens fazem o livro realmente valer a pena.
Tem coisas que só a idade traz pra gente, muito provavelmente se eu lesse esse livro uns 5 anos atrás, eu não teria a mesma percepção que eu tive agora. Hoje com 31 anos e uma filha de 3, eu já tenho uma breve perspectiva do que é a passagem do tempo, e no final das contas o livro é muito sobre isso.
O tempo passa e, como diria Uhtred, filho de Uhtred (Leiam as crônicas saxônicas!!), “O destino é inexorável”. A idade chega e você tem que encontrar um jeito de lidar com isso dentro de você, a não ser que você queira se entregar por completo, tem um personagem que trata bastante disso até. Ele não é um dos principais da história, mas levanta uma discussão bem legal sobre o jeito como encaramos a morte.
O grupo principal são idosos bem ágeis e espirituosos, mas eles moram numa comunidade muito diversa. O autor consegue mesmo, sem ter uma PUTA construção de todos os personagens, contar bem a história de todos ali, e de forma bem sensível. Muitos temas complexos são discutidos no livro através das histórias desses personagens e, na minha opinião (de leigo), ficaram muito bem abordados.
Chegando aqui pro final, a mensagem que fica é: leia, vale muito a pena. Provavelmente não é um livro que você vai botar em destaque ali na sua estante, mas que você vai poder pensar nele o bastante para indicar como leitura leve de final de semana para um amigo.