O livro se passa na Bahia do período FULL COLONIAL REAL OFICIAL do Brasil. E vai contar a história de um daqueles nomes que eu deveria ter aprendido nas aulas de literatura, mas não passei nem perto. Gregório de Matos. Poeta, advogado, playboy, milionário e filantropo. O próprio BOCA DO INFERNO!
O mais interessante é que o livro é tanto uma história de vingança e assassinato, quanto é um retrato FIEL da Bahia no século XVII. A cidade em sí é um personagem do livro tanto quanto os outros. Ela consegue nos colocar diretamente nas ruas de Salvador e sem muito esforço. Eu nunca fui a Salvador, mas tenho uma imagem mental das áreas turísticas pelo menos. E a descrição dela faz com que eu imediatamente forme a imagem muito nítida do ambiente. Eu não sei se é porque o Rio de Janeiro tem uma parte da sua arquitetura colonial ainda mal e porcamente preservada, mas eu tenho uma imagem de como deveriam ser as ruas e o ambiente dessa ainda muito mal explorada colônia do império português.
E como eu disse,
a trama principal é o assassinato de um FIGURÃO da época por um grupo de “opositores políticos”. Do qual o nosso tão fonastrão poeta não faz parte, mas mantinha relações próximas com os envolvidos. É curioso notar que, diferente de uma visão romantizada que às vezes formamos do passado, naquela época era cada um por si e deus contra todos. Não existem “mocinhos” na história. Você acompanha a trama majoritariamente pelo ponto de vista de um grupo. Mas não quer dizer que eles estejam certos. Eles só têm interesses que entram em conflito com outros grupos e isso é resolvido no modo mais extremo possível.
Apesar de tudo acompanhamos muito também da vida de Gregório de Matos. Ele de certo modo é o personagem que me pareceu mais fora do ambiente. Ele parece muito o estereótipo do poeta romântico. Pode ser um anacronismo da minha parte, mas não me soou muito dissonante do tom geral do livro. Ele é um avatar do amor romântico em um lugar extremamente duro de se viver. Ele me soou muito aquela ideia romantizada do bardo de RPG. Como eu disse, pode ser só a minha lente já cheia de cultura POP americanizada julgando de maneira equivocada um personagem que para outros pode ser muito verossímil.
Além de uma excelente narrativa,
outro elemento de imersão profunda é o vocabulário. Ouve um EXTENSO trabalho de pesquisa da autora para adequar as falas e o palavreado o máximo possível do que deveria ser no período. Então, é uma chuva de inflexões estranhas e palavras de português arcaico que até que eu que MODESTIA A PARTE (adoro dizer isso porque você nunca tá sendo modesto falando assim né? Você só fala isso porque as pessoas vão te julgar babaca se não falar…) tenho um vocabulário extenso, tive que ficar pensando se uma frase era um elogio ou um xingamento.
E acaba que o livro faz um retrato tão fiel daquela época, que hoje em dia soa até estranho a falta de problematização bem presente em livros que retratam a nossa realidade, seja ela fantástica ou não. Sim, porque era uma época desgraçada. As leis eram basicamente um conjunto de regras malucas que misturavam conceitos católicos romanos com as mais variadas invenções de séculos de monarquia. Então tudo sempre ficava na subjetividade. (Agora que eu escrevi isso aqui, não me parece que mudou TANTO assim. Mas isso é uma discussão pra outro texto.) Isso traz um certo dinamismo para a narrativa. Você nunca sabe pra que lado os ventos irão soprar. De forma que o final realmente me surpreendeu.
Para concluir
eu diria que ele é um livro que vale MUITO a pena ser lido, não só por quem curte romances históricos, mas por quem curte uma boa narrativa de disputa. O livro é dinâmico e profundo ao mesmo tempo. Não esperava nada menos de um livro ganhador de um prêmio Jabuti. Mas ainda sim me impactou muito positivamente essa leitura.