Isso mesmo que você leu no título: viver próximo da sua vovozinha afeta sua taxa de sobrevivência. Isso foi o resultado encontrado por dois estudos publicados na revista Current Biology [1-2] que avaliaram famílias entre 1700 e 1900. De acordo com os resultados, netos que residiam próximo de suas avós apresentavam um aumento de 30% na taxa de sobrevivência.

Esses estudos surgiram com o objetivo de entender a longevidade feminina explicando assim a “hipótese da avó”,  que relaciona essa longevidade com uma possível contribuição para sobrevivência de sua linhagem.

Antes de entrarmos no assunto, vou explanar brevemente o que é a hipótese da avó. Essa teoria foi desenvolvida por George C. Williams em 1957 e tenta explicar o porquê da existência da menopausa, uma vez que tal fenômeno só é vivenciado por 3 espécies (humanos, orcas e baleias-piloto). Assim, essa teoria diz que, em certa idade, torna-se mais evolutivamente benéfico para o sexo feminino garantir a sobrevivência de sua segunda geração (seus netos), do que usar a energia para continuar a procriar a sua primeira geração.  

A existência da menopausa está relacionada com a sobrevivência dos genes através da segunda geração.

Dessa forma, pesquisadores Finlandeses desenvolveram um estudo avaliando registros em igrejas do país que possuem dados de famílias, nascimentos e óbitos entre  1731 e 1890. A partir destes dados foi possível perceber que crianças entre 2 e 5 anos com avós vivos apresentavam uma probabilidade 30% maior de sobrevivência quando comparados a crianças com avós falecidos. No entanto, algo bem curioso sobre esses resultados é que, quando avós paternos viviam mais de 75 anos, a probabilidade dos netos com menos de 2 anos falecerem era 37% maior.

Antes que você seja maldoso e imagine que vovós paternas com mais de 75 anos sejam assassinas, saiba que o pesquisador David Coall [3] justificou esse dado como resultado da divisão de atenção dos pais, uma vez que as famílias nessa época tendiam a residir com os avós paternos, que nessa idade também demandavam cuidados devido a doenças e incapacidades. Assim, os pais no lugar de receber ajuda para cuidar dos filhos, dividiam a atenção para cuidar também dos avós.

Porém, também era necessário saber se essa relação é afetada pela proximidade com as boas velhinhas ou somente com o fato destas estarem vivas. Assim pesquisadores Canadenses conduziram um estudo semelhante acrescentando distância geográfica entre os netos e os avós como uma variável. A partir dos seus resultados foi possível perceber que a presença das avós influenciava não somente na sobrevivência dos netos como também na quantidade de filhos gerados, isso porque mulheres que moravam mais próximas de suas mães, apresentavam uma maior quantidade de filhos.

Ambos os estudos apoiam a “hipótese da avó” e mostram a importância que a vovozinha tinha para a permanência das suas próximas gerações. No entanto, esses achados não podem ser confirmados no mundo moderno, pois as famílias atualmente tendem a ter menos filhos e a possibilidade de morar a distância é muito maior. Porém os pesquisadores ressaltam que algo que pode ser verificado nos dias atuais é a influência dos avós na saúde mental dos netos.

Agora e você? Concorda com os resultados? comenta aqui como sua avó influenciou sua vida.   

“Dedico este texto a velhinha que mais amei e que me ajudou a viver mais. Fazem 4 anos que ela se foi, e todos os dias eu sinto sua falta.”

 

Capa por Rod Long em Unsplash.

Referência:

[1] CHAPMAN, S N., et al. Limits to Fitness Benefits of Prolonged Post-reproductive Lifespan in Women. Current Biology (2019).

[2] ENGELHARDT, S C., et al. Using Geographic Distance as a Potential Proxy for Help in the Assessment of the Grandmother Hypothesis. Current Biology (2019).

[3] GUPTA, S., Evolutionarily, grandmas are good for grandkids — up to a point, Science News (2019).