Figura 1: Imagem do NHC-NOAA (National Hurricane Center, da National Oceanic and Atmospheric Administration) do dia 14 de novembro de 2020 (12:59 pm EST) mostrando duas tempestades tropicais em atividade: Iota e Theta. Os nomes dados são letras do alfabeto grego, uma vez que a lista oficial de nomes de 2020 já tinha se esgotado.

Lá no meu blog, eu contei aos meus leitores como as tempestades tropicais e furacões no Atlântico recebem seus nomes. Agora para os queridos leitores do Portal Deviante eu vou contar  o que acontece quando a lista de nomes designada para um determinado ano se acaba, que foi o que aconteceu no ano de 2020 e também no longínquo ano de 2005. A Figura 1 mostra uma imagem do NHC-NOAA (National Hurricane Center, da National Oceanic and Atmospheric Administration)  bastante recente, do dia 14 de novembro de 2020 (12:59 pm EST), onde podemos ver duas tempestades tropicais com nomes de letras gregas porque a lista de nomes oficial designada para 2020 acabou.

Nota da autora: a tempestade tropical Iota evoluiu e agora é um potente furacão Categoria 5. Ou seja, Furacão Iota, ameaçando Honduras, Guatemala e Nicarágua.

A lista de nomes para tempestades tropicais e furacões no Atlântico Norte designada para 2020 era:


Arthur
Bertha
Cristobal
Dolly
Edouard
Fay
Gonzalo
Hanna
Isaias
Josephine
Kyle
Laura
Marco
Nana
Omar
Paulette
Rene
Sally
Teddy
Vicky
Wilfred

Como toda lista, na lista usada em 2020 há 21 nomes em ordem alfabética, pulando algumas letras que possuem poucos nomes próprios. Usualmente, 21 nomes são o suficiente para contemplar as tempestades tropicais e os ciclones tropicais (furacões) do Atlântico Norte.

Figura 2: Total de tempestades nomeadas (furacões e tempestades tropicais) por ano, de 1850 até 2015. Em amarelo, são indicadas as tempestades tropicais. Em vermelho, os furacões e em roxo os furacões mais intensos (categoria maior do que 3 na Escala Saffir-Simpson). Imagem do NHC-NOAA.

A Figura 2 mostra a quantidade de tempestades nomeadas (tempestades tropicais e furacões) por ano, desde 1850 até 2015. Essa figura foi obtida no site do NHC-NOAA, que é o departamento máximo no monitoramento de furacões no Atlântico Norte. Observe que na maioria dos anos a quantidade de tempestades nomeadas é inferior a 20. Há evidentemente um destaque para o ano de 2005, que contou com 28 tempestades nomeadas. Agora temos também o ano de 2020, que até esse momento (escrevo em 14 de novembro) registra 29 tempestades nomeadas. A temporada de furacões no Atlântico Norte, climatologicamente falando, vai de meados de maio até 30 de novembro. Sendo assim, o ano de 2020 registra um recorde: é o ano com mais tempestades nomeadas.

Mas o que acontece quando a lista de nomes acaba? Seria usada a lista do ano seguinte? Bom, o critério emergencial é usar letras gregas, em sua sequência, para nomear:

Alpha
Beta
Gamma
Delta
Epsilon
Zeta
Eta
Theta
Iota
Kappa
Lambda
Mu
Nu
Xi
Omicron
Pi
Rho
Sigma
Tau
Upsilon
Phi
Chi
Psi
Omega

Considerando apenas a lista de nomes oficial para cada ano, quando um furacão é muito destrutivo, seu nome é aposentado e outro nome é colocado em seu lugar para que a lista seja reaproveitada 5 anos depois. O que define se um nome será aposentado é a intensidade e o grau de destruição do furacão ou tempestade tropical em questão. Há uma reunião anual que envolve a participação do NHC-NOAA e da WMO (World Meteorological Organization) que define os nomes que serão aposentados a cada temporada e até o momento isso não foi definido.

A questão levantada é: quando a lista oficial acaba e começamos a usar a lista emergencial de letras gregas, o que acontece se tivermos uma tempestade intensa na qual foi usada uma letra grega para nomeá-la? Essa letra grega será aposentada da lista de nomes oficiais? A resposta do NHC é meio confusa. Por exemplo, o Furacão Delta (desde ano, 2020) poderá ter seu nome aposentado como “Delta 2020”, porém o nome Delta permaneceria na lista de nomes auxiliares. Algo semelhante poderá acontecer com o Furacão Iota: o nome Iota continuará na lista de nomes adicionais, porém Iota 2020 estará aposentado. Achei um pouco confuso, provavelmente porque é algo completamente novo. Vamoa aguardar as definições dos profissionais envolvidos no monitoramento de furacões no Atlântico. 

Pensando bem, seria estranho remover uma letra grega da lista de letras gregas que a propósito é o alfabeto grego. Uma possibilidade que coloco aqui (e que já li outros colegas aventarem) é que poderiam criar uma lista anual mais longa, com mais de 21 nomes, uma vez que com as mudanças climáticas pode ser que anos com grande quantidades de furacões e tempestades tropicais como 2005 e 2020 se tornem mais frequentes.

A partir de um levantamento feito pela NOAA, que fez uma revisão bibliográfica em vários artigos (leia aqui), o aumento de 2ºC na temperatura média do planeta pode levar ao aumento na ocorrência de furacões de categoria 4 e 5 na escala Saffir-Simpson (são os chamados major hurricanes na Figura 2, que são os furacões com potencial mais destrutivos). Além disso, essa elevação de 2ºC na temperatura pode levar a um aumento da quantidade de precipitação associadas a esses furacões intensos, o que certamente leva a enchentes mais devastadoras.

Sendo assim, discutir questões relacionadas à nomenclatura dos furacões e eventuais mudanças nas regras já existentes é algo muito relevante, uma vez que dar nomes aos furacões é uma maneira tradicional de comunicar mais facilmente à sociedade a respeito da ocorrência desses fenômenos devastadores. 

Referências bibliográficas