A República Democrática Federal do Nepal é um país pequeno, com 147.181 Km2de área, aproximadamente 27 milhões de habitantes e seu Produto Interno Bruto (PIB) é calculado em torno de 70 milhões de dólares. Mas, além das estatísticas socioeconômicas, o dado mais conhecido deste pequeno país é o fato de ser a rota mais explorada por quem deseja alcançar o pico mais alto do mundo, o cume do Monte Evereste.
Alpinismo, sabemos, é um esporte de risco. Além de boa técnica, são importantes um ótimo preparo físico e mental para os desafios da escalada; uma grande capacidade de planejamento para estudar rotas, períodos mais favoráveis para a aventura; uma equipe de apoio bem preparada; e dinheiro, muito dinheiro. Mesmo para uma subida de uma montanha não tão desafiadora, o equipamento utilizado não é barato. Para uma subida ao monte mais conhecido do mundo, o valor pode ser incrivelmente alto.
O Evereste é o prêmio desejado por quase todos aqueles que têm o alpinismo como atividade, seja como hobby, seja como profissão. No entanto, há muitos anos, críticas têm sido feitas a quem deseja chegar ao cume sem preparo e sem experiência, utilizando os serviços de expedições profissionais.
Entre abril e maio de 2019, diversas pessoas morreram diante das condições climáticas adversas na montanha. Segundo relatos, havia um grande “engarrafamento” de pessoas a caminho do ponto mais alto da montanha. Segundo dados oficiais, 11 pessoas morreram durante a temporada de escalada neste ano. Considera-se que todos foram atingidos pelo denominado “mal da montanha”, isto é, tonturas e fraquezas decorrentes da baixa inalação de oxigênio devido ao ar rarefeito em altitudes elevadas.
A Betway conversou com dois experts, Manoel Morgado e Ayesha Zangaro, sobre esses e outros desafios. Na entrevista, Morgado comenta que um escalador inexperiente, por exemplo, pode dar um gás muito grande para chegar ao topo, esquecendo de que ainda precisa ter energia para a descida. Para Zangaro, dentre os motivos para este ter sido um dos anos com mais mortes estão: empresas pouco qualificadas para fazer a logística e o lucro do governo do Nepal, que tem no montanhismo sua maior renda.
A notícia das mortes no Evereste, que pode ter chamado a atenção de muitos leitores, não é, entretanto, novidade. Mortes não são acontecimentos raros.
Entre 1981 e 2019, 253 pessoas morreram na escaldada da montanha mais alta do mundo. Reparem que, na década atual (que só se encerra em 2020), o total de mortes já supera em muito os períodos anteriores. A principal explicação para tantos mortos é o aumento da comercialização de excursões ao pico. Desde a década de 1990, muitas empresas oferecem um pacote de subida ao Evereste, o que leva muitas pessoas com muito dinheiro e pouco preparo a tentar realizar uma escalada que já é difícil para alpinistas experientes, que dirá para amadores ou mesmo apenas curiosos.
Uma das principais tragédias aconteceu na temporada de 1996, quando algumas excursões comerciais foram apanhadas já no trecho final da subida, por uma súbita e violenta tempestade que causou a morte de 15 pessoas. O jornalista Jon Krakauer, ele próprio um alpinista amador que havia sido contratado para escrever uma matéria para uma revista especializada sobre a proliferação dessas excursões pagas, compôs um relato valioso sobre a situação, o livro “No ar rarefeito”. Em contraposição às impressões do jornalista, um dos guias profissionais de uma dessas expedições, o russo Anatoli Boukreev – apontado por Krakauer como um dos responsáveis pela morte de diversos clientes – escreveu a sua versão da história, “A escalada”. Apesar das diferenças óbvias de opiniões dos respectivos autores, as duas obras se relacionam e se complementam, compondo um panorama sobre essas empresas de aventuras e o tipo de clientes que são atraídos por elas, desde pessoas muito bem preparadas para o desafio até outros cujo principal atributo é ter grana para comprar a vaga.
E qual é o valor necessário para garantir uma vaga numa dessas expedições? Entre taxas cobradas pelo governo do Nepal, contratação de sherpas, comissão da empresa, quem tiver interesse pode pagar entre 30 mil e 90 mil dólares americanos. Não é para quem quiser, portanto.
É preciso ressaltar que, ao contratar uma expedição, o cliente não adquire o direito de chegar até o pico, mas a vaga em uma equipe profissional e experiente que fará o que for possível para leva-los até lá. O pagamento não garante o direito a chegar ao final, pois muitos outros fatores (condições do tempo, condição física do alpinista) são determinantes.
Por fim, vale a pena ressaltar um aspecto mórbido: devido ao derretimento das neves, no caminho até o pico o explorador cruza com diversos cadáveres de pessoas que morreram na montanha e ali permaneceram, pois a recuperação dos corpos é muito difícil.
Se mesmo com todos os riscos e preços incluídos, você, caro leitor, ainda se dispuser a enfrentar tal desafio, então, o conselho principal é: preparar-se, física e mentalmente. As dificuldades são imensas, incluída a frustração de poder chegar muito perto e, por razões de segurança, retornar antes de chegar ao objetivo.
Este texto é uma parceria com a Betway
Fontes consultadas para este artigo
“No ar rarefeito: um relato da tragédia no Everest em 1996” – Jon Krakauer
The Bodies Of Dead Climbers On Everest Are Serving As Guideposts
Site oficial da Embaixada do Nepal
Dados do gráfico extraídos de The Hymalayan Database