Vamos fazer balbúrdia? Eu e a equipe do Portal Deviante queremos te levar para dentro dos muros das instituições de ensino e contar um pouquinho sobre a pesquisa realizada por lá!
Nas últimas semanas fomos surpreendidos com diferentes notícias sobre cortes nos recursos de instituições de ensino federais. Essas notícias iniciaram um movimento de estudantes, professores e funcionários das instituições afetadas para divulgarem para a Sociedade o trabalho que eles vêm realizando nesses espaços. É uma tentativa de mostrar o papel e a importância das instituições de ensino não somente para o avanço da Ciência, mas também na vida de cada um de nós.
Por também fazer parte dessas instituições, esse movimento me deu a ideia de coletar com os meus amigos acadêmicos e com a equipe do Portal Deviante o que cada um deles vem pesquisando atualmente. Só que não bastaria falar sobre essas pesquisas no “linguajar acadêmico” que estamos acostumados e usamos nas nossas publicações científicas. O grande desafio seria explicar o que eles fazem em uma frase/parágrafo para quem não vivencia diariamente essas instituições de ensino.
Sei que essa ideia não é nova, afinal já tivemos as hashtags #MyOneScienceTweet e #MinhaCienciaEmUmTweet para que os cientistas utilizassem o Twitter para falar sobre suas pesquisas. Porém, minha ideia com esse texto é, além de apresentar o trabalho de diferentes pesquisadores brasileiros, que nossos leitores conheçam um pouco mais o trabalho da equipe e saibam o que fazemos nos “tempos vagos” do Deviante/podcasts rs
Então, a seguir, um compilado do que levantei nos últimos dias! Vou apresentar na ordem em que as pessoas me enviaram suas respostas 😊
O Caio Ferreira é da nossa equipe de Biologia e faz seu mestrado em Biodiversidade e Evolução no Museu Paraense Emílio Goeldi. Minha reação quando ele contou sobre a pesquisa foi “deu pra entender, mas eu não me meteria com serpentes hahahah”, avalie se a sua seria a mesma:
“O meu projeto de mestrado é com filogeografia de uma serpente que ocorre na Amazônia e na Mata Atlântica. Como a filogeografia estuda a história das populações de uma espécie, algumas das minhas perguntas são: em qual dos dois biomas a espécie surgiu? Qual a população mais antiga? O quão diferente geneticamente as populações são entre si? Como a espécie ocupou as áreas que ocupa hoje?”
O Alan Boss é meu amigo de sanduíche (doutorado, mas às vezes de comida! :p) que trabalha em um esforço conjunto entre a USP e o INPE. Segundo a tentativa de resumo do que ele tem feito em colaboração com outros cientistas:
“… reaproveitar material que seria jogado fora para combater a poluição eletromagnética que temos hoje, causada pelos mais diversos equipamentos sem fio. Poluição essa que pode, por exemplo, causar interferência em equipamentos de suporte médico.”
A Natália Nakamura (popularmente conhecida como Nanaka) está comigo na equipe de TI e faz seu mestrado em Bioinformática no IME/USP e treinamento técnico no laboratório de Bioquímica e Biologia molecular de algas, dentro do instituto de química da USP:
“O projeto em que trabalho visa a descrever e catalogar o genoma de uma espécie de alga vermelha. As algas vermelhas têm muitas propriedades interessantes tanto em ecologia, sendo importante fonte de nutrientes e filtro natural, metabolismo de nitrogênio e oxigênio etc. Mas também tem muitas aplicações na indústria: elas produzem ágar, um geleificante utilizado em muitas bebidas e alimentos e também em laboratório, e também produzem substâncias com propriedades de proteção UV (filtro solar), antimicrobianas, fitoterápicas, etc.
Eu sou formada em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (FATEC), então meu trabalho é fazer as análises computacionais do genoma, o DNA da alga. Utilizando programas para montar o genoma (que lemos todo fragmentado), encontrar padrões, identificar genes e possíveis vias metabólicas dos produtos de interesse, além de investigar o histórico evolutivo da alga e outros organismos, através da comparação das sequências genéticas. As algas vermelhas foram um dos primeiros grupos com multicelularidade entre outros aspectos, e estudar esse histórico ajuda a entender como evoluíram os aspectos básicos de organismos mais complexos, como nós.”
A Michelle Mantovani (nossa Mihh) fala sobre Química e Engenharia de materiais e fez mestrado em Ciência e Tecnologia/Química na UFABC (segundo ela, precisa escrever o nome completo do programa, grande mesmo, porque tem o “/Ambiental” também):
“Meu trabalho tinha como objetivo sintetizar um catalisador heterogêneo para utilizar em reações orgânicas. O catalisador era sintetizado a partir da glicerina subproduto da fabricação de biodiesel. Com isso dava um fim mais nobre para a glicerina, que normalmente é queimada ou então descartada, porque ela é bem impura e não compensa purificar para conseguir aplicar nos outros usos mais comuns, tipo alimentício e farmacêutico (que precisam de um grau de pureza muito alto). Depois do catalisador sintetizado e caracterizado, ele foi testado em 3 diferentes tipos de reações (funcionou nas 3 😍). Um diferencial desse catalisador é que ele não precisava passar por nenhum tratamento depois de sintetizado. Depois da síntese ele já estava pronto para usar e, depois de usado, ele também podia ser reutilizado sem passar por tratamentos de recuperação 😊”
O Marcel Ribeiro Dantas é todo chique: faz seu doutorado na Sorbonne Université em Paris e é pesquisador no Institut Curie (onde fica a poucos metros da sala onde Marie Curie trabalhou por anos 😊). Ele me contou que:
“Estudo inferência causal em câncer no doutorado, mas sigo com parcerias no Brasil na área de análise de dados de câncer pediátrico. Estou no começo do doutorado, mas o objetivo é avaliar políticas públicas, dados genéticos, epidemiológicos, terapêuticos, e com isso tentar compreender as relações de causa e efeito entre eles.”
Conheço a Luciana Medeiros minha vida toda, já que ela é “prima das minhas primas”. Ela faz seu doutorado em Teatro na UDESC e disse que:
“Minha pesquisa é sobre relação de percepção de cor/luz/sombra e processo criativo de maquiadores/caracterizadores na criação de identidade visual de personagens. Daí vou falar de física, química, biologia, neuropsicologia, artes, tudo junto e misturado agora. 😂😘😘 “
A Crhisllane Vasconcelos (sem sua outra metade Thaís) é da nossa equipe de Saúde, e faz parte do Programa de Pós-Graduação em Genética da UFPE e do Núcleo de Bioinformática da Fiocruz/PE, onde:
“Aplico algoritmos de aprendizagem de máquina em dados de estrutura de proteínas e estrutura de fármacos para encontrar novos tratamentos pra Leishmaniose.”
O Roberto Spinelli (ou mais conhecido como Pena), apesar de não estar associado a uma instituição de ensino, também quis falar sobre as pesquisas e projetos que está desenvolvendo:
“Recentemente fundei um grupo de pesquisa em IA chamado PandorIA. A Nanaka e o Felipe Pi também estão nele, além de outras pessoas de fora do Deviante. A ideia do grupo é discutir não só a tecnologia por trás da Inteligência Artificial, como os impactos e mudanças que ela pode trazer para a humanidade. Fora isso, estou projetando e construindo o submarino do Manual do Mundo; desenvolvendo um algoritmo para calcular a posição do Sol com alta precisão em qualquer lugar do mundo para os próximos dois séculos; e tenho uma pesquisa sobre a cura da velhice também.”
O Felipe Novaes não está associado a uma instituição de ensino federal, fazendo seu doutorado em Psicologia Social na PUC-Rio, mas também mandou sua contribuição:
“Se eu pudesse resumir em apenas uma palavra o que venho estudando, diria ‘sapiossexualidade’. Com um pouco mais de espaço, diria que meu estudo envolve o teste de hipóteses sobre se os níveis distintamente humanos de inteligência e criatividade poderiam ter sido selecionados por seleção sexual. Esse estudo é importante porque pode ajudar a explicar como os seres humanos, mas não outras espécies, são capazes de manifestações culturais tão grandiosas, como a produção de arte, ciência, música e literatura. No final, a capacidade do Homo sapiens de produzir artefatos culturais esteticamente complexos e chamativos pode ter a mesma raiz da capacidade do pássaro caramanchão de produzir ninhos esteticamente chamativos, além de cantar e dançar aparentemente para chamar a atenção do sexo oposto.”
Por fim, para ninguém falar que dei trabalho para todos os meus amigos e não contei nada sobre o que faço:
“No meu pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Informática da UNIRIO, estou interessada em compreender melhor como as organizações ultrapassam suas próprias fronteiras e estabelecem parcerias com outras organizações para que juntas possam atingir objetivos que não conseguiriam sozinhas. Esse tipo de situação é bem comum no governo (como em operações como a Lava Jato) ou em desastres (como as fortes chuvas e deslizamentos comuns aqui no RJ), que precisam do envolvimento de equipes de diferentes órgãos. A ideia é propor algum mecanismo e tecnologias associadas que apoiem todo esse trabalho conjunto.”
Só por essa pequena parcela da nossa equipe podemos perceber o impacto que a inexistência dessas pesquisas teria para a Sociedade. Mais do que isso, se as pesquisas não tiverem incentivo (seja financeiro, político, social…) e acabarem por não ser realizadas, a própria divulgação científica perderá sentido ao longo do tempo por falta de insumos. É importante termos em mente a necessidade de manter essas instituições em funcionamento e a importância que as pessoas que fazem parte delas (estudantes, técnicos e professores) têm para a Sociedade.
E se você também faz parte de uma instituição de ensino, faça como nossos deviantes e explique nos comentários a sua pesquisa em uma frase/parágrafo!