As questões relacionadas ao trabalho do professor são muito parecidas com passar dos anos. Porém, hoje compreendemos que o processo de ensino aprendizagem precisa ser fortemente atrelado às experiências que nossos estudantes vivem. E quando dizemos viver, estamos falando de toda a experiência, principalmente com os meios digitais.
Nesse sentido, existe uma grande dificuldade de acompanhar a dinâmica das interações que nossos estudantes realizam no digital, sobretudo com os games. O objetivo aqui não é transformar professores em gamers (quem dera!) mas sim atentar os docentes para ter uma escuta sensível, como teoriza o Clifford Geertz, para entender o que mobiliza os jovens de hoje.
Ainda existe um discurso muito forte de resistência com relação as mudanças que as tecnologias digitais vem realizando na nossa sociedade e com os games não é diferente: não é incomum ouvir de professores o discurso que “sala de aula não é lugar de brincar”.
O professor Eucídio Arruda em sua tese de doutorado no diz que, com o advento do tecnicismo (com base nas concepções industriais tayoristas/fordistas) nas primeiras décadas do século XX, o currículo escolar não deveria ter espaço para o ócio e o lúdico. Porém, depois de muitas décadas de debates os games são atualmente vistos por alguns pesquisadores como elementos de aprendizagem possíveis na educação, constituindo-se como potencializadores para o processo de ensinoaprendizagem de duas formas: através serious games, ou seja, jogos com objetivos de aprendizagem e a utilização das narrativas dos games como elementos relevantes para determinados conteúdos.
A presença dos games nos processos formativos traz aprendizagens significativas, aprendizagens essas que têm ligação com o nosso viver e problemas cotidianos, já que aprender é visto por Marrie Cristine Josso como descobrir novos meios de pensar e fazer diferente.
Processos formativos mediados pelos games possibilitam espaços significativos, criativos e autorizantes para os sujeitos que interagem com essas mídias. Isso favorece a produção de compreensões de e autonomia diferenciados, elementos importantes do processo de formação, levando em consideração suas experiências de vida na sua formação no e pelo jogo.
Então, você sabe o que seu aluno joga? Talvez tenha surpresas com as relações possíveis desses jogos com sua sala de aula. Mas isso é assunto para um outro texto.
Társio Roberto Macedo Educador, torcedor do Vitória, nerd mobile, e pai de Victor. Doutorando em Educação (UFBA), tem como missão mostrar que ciência e educação precisam ser tão legais quanto abraços e chocolate quente.