No outro dia na escola, Alex fez uma brincadeira com Marquinhos usando uma pequena peça de metal, entregou ao amigo pedindo para que tentasse entortar aquilo. Marquinhos tentou de todas as formas com as mãos e com os pés. Quando desistiu, entregou a peça de volta a Alex que entortou o metal com facilidade deixando o amigo em êxtase.
Naquele dia, ficaram a manhã inteira cochichando sobre o que Alex poderia fazer com sua super força. Talvez levantar um ônibus ou até um caminhão, tanta conversa só terminou quando tiveram uma chamada da professora de português.
Durante o intervalo, pensaram em uma ideia bem sem noção para fazer uns testes na semana e tentar combater o crime no sábado. Era um plano doido, ainda não sabiam como iriam fazer para impedir um crime, mas Alex passou a semana inteira comprando jornal e vendo noticiário policial. Falando disso, Alex ficou perplexo com as barbaridades que leu e viu. A mãe pegou o garoto assistindo esses programas policiais e ele ficou proibido de fazer isso.
– Você não vai combater o crime, garoto! É só uma criança! – reclamou a mãe, ficando bem preocupada.
No outro dia, Alex teve uma ideia, esperou o intervalo para contar a Marquinhos e não irritar outro professor novamente.
– Cara, olha isso aqui. Tem esse acesso ao viaduto, sempre tem roubo lá, li no jornal três vezes, vi na TV também – contava apontando para umas anotações dele.
– Isso é a “alça” do viaduto, cara. Por que acha que vai ter nesse final de semana? – perguntou o amigo.
– Na reportagem, o dono de um bar disse que sempre tem assalto ali, então deve ter novamente, né? – explicou Alex.
– Então… Por que a polícia não faz uma tocaia ali? – ficou curioso Marquinhos.
– É.. Não sei. Bem, a gente fala com o Arthur, ele leva a gente e ficamos esperando ali perto – afirmou Alex.
– Parou! O meu irmão não vai topar! Perder um dia do final de semana… Tem nem perigo, meu caro – falou Marquinhos.
– Vou contar e mostrar o meu poder, ele vai topar! Tenho certeza! – falou todo confiante.
– Hum… Isso talvez funcione, temos que inventar algo para você dormir lá em casa, eu tenho um drone pequeno que vai ajudar a gente nisso, vou pintar para ficar mais camuflado – comentou Marquinhos embarcando na ideia de envolver o irmão.
Desconfiado da mãe, Alex tentou não mostrar entusiasmo com a ideia, desconfiava que estava sendo vigiado por ela. Outra coisa que fazia, eram testes escondidos dentro de casa para entender por quanto tempo os efeitos duravam.
No final de semana, os dois tinham planejado tudo, iriam até o local no final da tarde com o Arthur, os dois ainda riam quando Alex mostrou a super força para ele erguendo aquela grande pedra no jardim deles. O plano era ficar observando o local e pegar os bandidos de surpresa durante uma tentativa de assalto, Marquinhos tinha pintado dois mini drones para usar como câmeras, optou por comprar dois novos menores que ficariam ainda mais escondidos, era uma ideia bem ruim com certeza.
– E aí? Você já pensou num nome? Não curtiu aquela minha ideia de ontem? – perguntou Marquinhos.
– Cara, “espetáculo” não pareceu um bom nome, que tal “giga boy”? Tipo a internet que tanto quero ter? – sugeriu Alex com um grande sorriso depois de passar horas escolhendo esse nome.
– Mas… Olha isso, Marquinhos! – falou Alex mostrando uma revista.
– “HD”? Tem certeza, Alex? Parece estranho e você nem se dá com computadores! E se fosse “disk boy”, hein? – questionou Marquinhos.
– Eu faço as tarefas na cloud e navego na internet, o que mais você quer?! Não é esse nome, gostei desse “Tera”! Que tal? – sugeriu Alex bem feliz.
– Parece legal, se você curtiu, tá ótimo! É você mesmo quem vai usar, depois a gente pesquisa para ver se já não tem alguém usando. Vamos arrumar tudo, o Arthur vem já chamar a gente – avisou o amigo.
– Certo, vou preparar o lanche, já volto – disse Alex indo do quarto para a cozinha.
Passou quase uma hora, então saíram no final da tarde em direção ao local escolhido. Chegaram lá quase escurecendo. Marquinhos pediu para seu irmão encostar o carro para mandar os drones camuflados, levou alguns minutos, mas conseguiu posicionar os dois com certa facilidade.
– Quem diria que aquelas horas perdidas com esses brinquedos serviriam para algo, né? – disse Arthur com tom de crítica, mas conseguindo um belo sorriso de satisfação do irmão mais novo.
Depois foram para uma lanchonete próxima dali, eram os clientes mais jovens, pediam algo de tempos em tempos para distrair o dono do local enquanto Alex e Marquinhos se revezam na vigília usando o tablet.
– Tem certeza que é seguro? Como vocês sabem que o Alex não vai acabar morto? – perguntou Arthur um pouco arrependido de participar daquilo.
– Nós já te dissemos, tá tranquilo, o Alex aguenta até tiro por mais de uma hora pelas minhas contas – falou o irmão mais novo.
– Nós fizemos os testes à tarde. No máximo, fica roxo como uma pancada, saca só – Alex disse isso mostrando uma certa pança e algumas marcas roxas.
– Putz! Que merda é essa, Alex! – disse Arthur um pouco assustado.
– Tranquilo, cara. Não sinto dor alguma, só na hora, mas eu aguento e isso some de manhã, tá tranquilo – disse Alex sem tirar o olho do tablet.
– Não entendo como fui convencido por vocês, eu não entendo – disse Arthur bem arrependido.
– Olhem! Eles… os caras estão escondidos bem ali – disse Alex falando baixo para não chamar a atenção de outras pessoas.
Marquinhos correu para o lado do amigo junto com Arthur, estavam ali vigiando há mais de uma hora, estavam começando a ficar entediados. Pelo aparelho, a câmera do drone tinha captado a imagem de um homem agachado vigiando os carros passando e outra pessoa mexendo em um celular no meio do matagal.
Bem próximo daquela lanchonete, duas figuras, uma mulher morena e um homem branco alto observavam a turma já há algum tempo. Seguiram os garotos de carro sem serem notados. Observavam, anotavam e registravam discretamente tudo que viam.
– Vamos lá! Você deve detonar esses três bem rápido! – disse Marquinhos.
– Não! Vão ser só caras na mata, a gente precisa esperar a ação deles, vou pagar, esperem aqui – ordenou Arthur enquanto foi na direção do caixa.
– Ele deve ter razão, vamos levar as coisas para o carro? – sugeriu Alex.
– Bora! – concordou Marquinhos levando o tablet e um carregador extra.
Não demorou muito desde que Alex voltou, viram uma luz que talvez fosse do celular de um dos bandidos. Eles saíram do matagal correndo armados em direção da pista. Os três entraram rapidamente no carro. Arthur acelerou o mais rápido possível tentando não chamar a atenção de ninguém. Alex pegou com dificuldade sua fonte de poder que tinha preparado, tirou de um depósito de plástico o lanche que tinha feito, um sanduíche com queijo, espinafre, cenoura e um bocado de catchup para mudar o gosto. Tentou o engolir o mais rápido que podia. Arthur teve que fazer uma manobra brusca com o carro para desviar de dois ciclistas, quando chegando na descida para o local, Marquinhos gritou com ele.
– Esquece! Esquece! Segue reto! – gritou Marquinhos bem angustiado.
– O que foi? O que foi? – perguntou Arthur tentando olhar para trás.
– Ele se engasgou, Arthur! Tô ajudando esse trouxa aqui! Passa direto e entra na primeira esquina para me ajudar – disse o garoto bem preocupado com o amigo que tentava gesticular freneticamente..