Olá, leitores! 2020 se provou como um ano cheio de paradigmas com relação a higiene em nossas vidas. A limpeza completa de objetos se tornou um hábito em lares que valorizam a saúde mais do que tudo no cenário de pandemia (tendência que veio para ficar no momento histórico do “novo normal”). Entre as organizações mais importantes para o mundo moderno temos as indústrias de alimentos, que sofreram mudanças radicais até para conter o vírus e não afetar os funcionários e o padrão de higiene dos seus produtos! Então que tal lermos mais sobre os inúmeros esforços dessas instituições que mudaram tanto?
Logo no início do isolamento social foram comuns alguns vídeos de pessoas correndo desrespeitosamente para as estantes de supermercados com medo de um possível desabastecimento, o que gerou certo pânico e receio com relação a capacidade da indústria de alimentos de se adaptar a nova realidade. Porém, a mesma tem provado que segue firme e forte nessa pandemia em muitos setores!
De fato, muitas coisas mudaram nestes momentos, como por exemplo a organização estratégica das indústrias. Um pouquinho no passado, a associação entre a higiene no trabalho e a higiene pessoal era muito forte, e geralmente confundida com a higienização das mãos [12]. Com o treinamento sobre as técnicas asseio-banho nesse meio, melhores cuidados com a higiene do cabelo, das unhas, boca, orelhas, proteção de ferimentos, utilização de cosméticos e troca periódica de uniformes foram sendo aos poucos absorvidos no cenário industrial, também cuidando de outros riscos da segurança alimentar como a contaminação cruzada (usar um equipamento contaminado em outro alimento). A contaminação entre os funcionários e os encargos com a saúde foram problemas levantados na hora de remodelar a logística de produção dessas empresas no cenário da covid-19…
Diferente de outros setores que tiveram que demitir muitos trabalhadores, a indústria alimentícia contratou mais de 6 mil funcionários até junho! Com a representação de 9,7% do PIB brasileiro, as fábricas de alimentos utilizaram algumas metodologias diferentes para manter o desempenho. Existem fábricas de sorvete que preferiram montar túneis de desinfecção, com o monitoramento da temperatura dos funcionários na entrada [1]. Também existiram algumas reorganizações de turnos para manter o espaçamento dos funcionários, mas tiveram empresas que preferiram montar barreiras de policarbonato para garantir a distância de 1,5 metros entre cada colaborador [2]!
O uso de máscaras já era obrigatório para alguns setores, mas a obrigatoriedade agora parece ser a norma para todos, até para visitantes e caminhoneiros. Existem muitos produtos e portes de fábricas diferentes no cenário alimentício, sendo que a mudança não foi homogênea para todas elas. Algumas preferiram priorizar o abastecimento em farmácias e hospitais, por exemplo. De forma geral, todas parecem mais atentas aos sinais de funcionários doentes, que antes até iam trabalhar com uma gripezinha ou um resfriadinho (não pude evitar a piada), contrariando a resolução RDC 216/2004 da ANVISA, que proibiria o funcionário de trabalhar em condições anormais de saúde [3].
O cenário brasileiro parece estar em plena adaptação à nova realidade nesse setor, contrariando por exemplo os Estados Unidos, onde 20 unidades precisaram ser fechadas por terem se tornado foco de contaminação (unidades famosas até, como da Tyson Foods e JBS USA). O cenário de aglomeração e de desrespeito às normas sanitárias contribuíram e muito para que 3 mil funcionários pegassem o vírus, dificultando a linha de produção, a produtividade e o abastecimento em algumas cidades [4]! Mais recentemente na Alemanha o maior frigorífico do país também decidiu fechar após 3.127 colaboradores testarem positivo para o vírus, em um total de 6.500 empregados da Tonnies [13]. Ou seja, lutar contra o vírus de forma higiênica não é mais uma opção, é crucial para sequer conseguir se manter aberto. A produção segue abaixo do esperado nestes países, tanto pelo afastamento dos adoecidos quanto pelo distanciamento dos trabalhadores dos frigoríficos ainda em funcionamento…Mas aqui em terras tupiniquins tivemos uma valorização muito forte da carne bovina brasileira, influenciada também pela flutuação do câmbio e o mercado chinês [5]. E não podemos esquecer dos novos acordos de comercialização com a Arábia Saudita e a Tailândia, com novas fábricas credenciadas para exportar carnes para estes países [6]. Estas regiões com alta quantidade de muçulmanos seguem preceitos diferentes ao abate humanitário para a produção da carne, preferindo o ritual da jugulação cruenta (nome nada legal? calma que vou explorar isso em outro texto, juro!). Ou seja, apesar do momento de incertezas em que vivemos, um novo cenário industrial está se formando, e os paradigmas com higiene parecem se tornar mudanças que vieram para ficar!
Claro que as indústrias não tiveram que se adaptar de um momento para o outro… Postulados de higiene e de prevenção de acidentes já fazem parte da realidade tanto para os protocolos internacionais de exportação quanto para a alimentação do dia-a-dia do brasileiro, representado pelas VISA’s (tanto municipal quanto federal), o Ministério da agricultura, as resoluções do Ministério da saúde e outras legislações pertinentes de qualidade e de selos [7]. A ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) chegou até mesmo a lançar um guia para ajudar na adaptação à Covid-19[8]. Trabalhadores comprometidos em evitar o contágio dentro e fora do trabalho fazem parte do movimento de melhoria das indústrias na área de higiene.
Existem muitas mudanças no macro cenário alimentar, e algumas começaremos a perceber logo. Vale destacar o alinhamento das grandes indústrias com a coalizão “Nós”, que visa a reabertura do pequeno varejo e a ajuda financeira na forma de descontos adicionais na reposição de estoque [10]. Não somente isso, mas também teremos no projeto o estímulo ao compartilhamento de informações seguras vindas da imprensa, associações e institutos de pesquisa (muito importante nesse cenário de negacionismo da ciência e de Fake News).
Um cenário bacaninha das fábricas têm atiçado a curiosidade estrangeira até para os produtos mais regionais! O crescimento da panificação e confeitaria brasileira têm atendido a demanda do mercado latino, como a Colômbia, Porto-Rico e México. O nosso pãozinho de queijo mineiro está sendo requisitado mundo afora! Até mesmo açaí, açúcar, farofa e refrigerante de guaraná estão crescendo na mentalidade de outras nações, ajudando o mundo a conhecer um pouco sobre o que gostamos aqui no nosso país e ajudando na permeabilidade cultural de um mundo cada vez mais globalizado [11].
Junto com o aumento das vendas online (muitos clientes preferem não arriscar com idas ao mercado), consolida-se um cenário que estava emergente na indústria de alimentos, de comunicação mais efetiva com o consumidor final [2]. Soma-se a isto o cenário de exportação em ascensão e veremos mudanças para melhorar o atendimento ao consumidor e uma realidade de alimentação que o Brasil precisa, tendo suas potencialidades regionais e a higiene como princípios norteadores.
Espero que tenhamos entendido um pouco de como o cenário de qualidade tem ajudado o mercado nacional. Notícias de melhoria e perseverança merecem ser compartilhadas, não é mesmo? Conhece alguma grande mudança em uma fábrica perto da sua cidade ou no cenário alimentar da sua região? Não deixe de comentar suas experiências e até a próxima!
Referências
[1]: R7. Indústrias de alimentos adotam medidas de proteção durante pandemia do novo coronavírus. Balanço Geral, Rio de Janeiro. 29 mar. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mar. 2020;
[2]: NETO, João Sorima. Com coronavírus, indústria de alimentos contrata 6 mil e abre turnos no país. O Globo, Economia. 10 mar. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mar. 2020;
[3]: DUTRA, Luiza. 15 hábitos comuns que oferecem riscos a saúde e que antes eram considerados aceitáveis, mas com a pandemia do coronavírus, não são mais. Food Safety Brasil, 8 abr. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mar. 2020;
[4]: RURAL, O Presente. Covid-19 infectou mais de 3 mil funcionários de frigoríficos nos EUA, diz sindicato. O Presente Rural, Notícias saúde. 29 mai. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mai. 2020;
[5] RURAL, O Presente. Preços da indústria sobem 0,12% em abril puxados por alta de alimentos. O Presente Rural, Notícias segundo IBGE. 29 mai. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mai. 2020;
[6]: PRASER, Anna Luisa. Brasil vai exportar carnes e miúdos bovinos para a Tailândia após 5 anos de negociações. Rádio Agência Nacional, 26 mar. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mai. 2020;
[7]: AGRÍCOLAS, Notícias. Indústria de alimentos reforça ações de prevenção e proteção. Notícias Agrícolas, 6 mai. 2020. Disponível aqui. Acesso em 31 mai. 2020;
[8]: ABIA. BOAS PRÁTICAS NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS • COVID-19 RECOMENDAÇÕES ÀS ASSOCIADAS E AOS COLABORADORES. Associação Brasileira de Indústria de Alimentos, 2020. Disponível aqui. Acesso em 31 mai. 2020;
[9]: ÉPOCA. Como a pandemia vai transformar o setor de alimentos. Revista Época, Negócios Online. 17 abr. 2020. Disponível aqui. Acesso em 31 mai. 2020;
[10]: REDAÇÃO. CADE aprova coalizão entre grandes marcas de alimentos e bebidas. Promoview, Canal Varejo, 30 mai. 2020. Disponível aqui. Acesso em 31 mai. 2020;
[11]: DINO. Alimentos típicos do Brasil conquistam cada vez mais o paladar do estrangeiro. Portal Terra, 29 mai. 2020. Disponível aqui. Acesso em 30 mai. 2020;
[12]: ANDREOTTI, Adriana et al. < b> Importância do treinamento para manipuladores de alimentos em relação à higiene pessoal. Iniciação Científica Cesumar, v. 5, n. 1, p. 29-33, 2003. Disponível aqui. Acesso em 15 jun. 2020;
[13]: WELLE, Deutsche. Alemanha fecha maior frigorífico do país após registrar mais de mil novos casos de coronavírus. Portal G1, mundo. 20 jun. 2020. Disponível aqui. Acesso em 23 jun. 2020.