Lá estava eu buscando algum lazer de frente à TV. De repente, escutei uma pessoa entrevistada afirmar que evita comer carne vermelha para não desenvolver diabetes. Por declarações anteriores, a pessoa parecia confundir muitos conceitos de nutrição, mas essa associação em especial eu nunca tinha ouvido falar. Percebi que estava de frente a um novo mito da alimentação. Será que realmente há alguma relação entre diabetes e o consumo de carne vermelha?
No texto de hoje, irei retornar a uma antiga série de 2021 para ajudar nessa desmistificação. Afinal, precisamos temer a diabetes tipo II quando comemos carne? Mas não era só o açúcar a preocupação do diabético? Vamos nessa!
A diabete tipo II, ou diabetes mellitus, é uma condição de saúde da qual o pâncreas de uma pessoa não produz a quantidade de insulina necessária para metabolizar todo o açúcar presente no sangue em forma de glicose [1]. A insulina é a enzima que ajuda a transportar essa glicose para dentro das células, assim garantindo suprimentos de energia para o corpo.
Diz-se que a pessoa está diabética quando o pâncreas não possui quantidade suficiente para garantir o transporte de glicose para dentro das células, aumentando o índice glicêmico (de glicose) no sangue. Por manter alto índice de açúcar fora das células, a pessoa desenvolve problemas de saúde como inflamação sistêmica.
A natureza desse diagnóstico leva dificuldade à vida das pessoas como pressão alta, doenças cardiovasculares, demência e outros agravos à saúde. Ao todo, uma pessoa pode ter redução de 15 anos de vida quando a diabetes encontra-se descompensada.
É uma doença de caráter multifatorial, do qual não somente a quantidade de açúcar é o fator em análise. A sensibilidade insulínica também é um critério que diminui a efetividade da insulina, ou seja, faz com que ela não seja tão boa em transportar a glicose livre no sangue às células.
Há muitos fatores associados à sensibilidade insulínica. Alguns são mais conhecidos, como tabagismo, sedentarismo e obesidade. Já outros estão começando a ser desvendados mais atualmente, como genética, estresse biopsicossocial e até mesmo fatores dietoterápicos do indivíduo.
O fator dietoterápico diz respeito à composição alimentar pessoal. Esse indicador destaca ainda sua independência de frequência de exercícios físicos, do índice de massa corpórea (IMC), da idade e do histórico familiar [3]. Para ele, só basta a presença ou ausência de certos nutrientes na alimentação para afetar a sensibilidade insulínica.
Em estudos de comparação dietética, descobriu-se que dietas prudentes (com maior frequência de ingestão de frutas, vegetais, peixes, aves e grãos) possuem redução significativa de risco para diabetes em comparação com a dieta padrão ocidental [1]. Esta possui em destaque alimentos como ultraprocessados, carne vermelha e outras enriquecidas com gordura saturada.
A carne vermelha pode ser entendida como todo produto oriundo de órgãos, músculos e outros tecidos de bovinos, caprinos, ovinos e suínos [4]. Quando bem dosada, a alimentação desse segmento de cárneos incita muitos benefícios ao indivíduo. Porém, há registros de doenças associadas com a alta frequência de alimentação com base em carne vermelha, como: doenças cardiovasculares, cancros, aterosclerose, artrite reumatoide e degeneração macular. O padrão ocidental de alimentação é definido pela alta ingestão de produtos cárneos em detrimentos de outros alimentos.
Não se sabe ao certo como a carne vermelha pode auxiliar o processo diabético. A principal linha de pesquisa ressalta a importância de aminoácidos ramificados, ácidos graxos saturados de cadeia longa, ferro, nitratos e a carcinogênica nitrosamina sejam os principais responsáveis pela alteração da sensibilidade insulínica [4]. Outros componentes como fosfatidilcolina também são importantes nessa análise.
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Outros estudos ainda analisam o papel da quantidade e balanceamento de macronutrientes no perfil da resistência insulínica (RI) do indivíduo [1]. Esses elementos são o nitrogênio, o fósforo e o potássio, presentes também nos componentes relacionados acima. Há muitos mecanismos que ainda precisam de elucidação nesta área.
Concluindo, podemos dizer que uma alimentação NÃO MODERADA está associada com maiores possibilidades de desenvolvermos a sensibilidade e a resistência insulínica. Essa condição pode levar ao desenvolvimento da diabetes tipo II ao longo dos anos. Ambos estão fortemente associados, mas em ciência não existem respostas simples como gostaríamos.
Portanto, saiba os riscos da alimentação de carne vermelha. Busque refeições que preconizam quantidades moderadas desse alimento. O World Cancer Research Fund indica uma quantidade de 43 gramas/dia para lidar com necessidades nutricionais de maneira geral [6]. Sempre trabalhe com seu nutricionista para estudar melhor seu perfil alimentício.
O que achou desse texto? Consegue imaginar outros mitos modernos da alimentação? Traga seus pensamentos aqui nos comentários e até a próxima!