A Casa Branca foi inaugurada no último ano da administração de John Adams, em 1o de novembro de 1800, dia de Todos os Santos. Adams e sua esposa Abigail foram os primeiros moradores oficiais a habitar o casarão. Além deles, muitas famílias passaram por lá, não apenas aquelas ligadas aos presidentes, mas também aos funcionários e hóspedes.
Além de palco para muitos nascimentos e histórias ricas de vida e vitalidade, a Casa Branca também foi cenário de catástrofes. Em 1812, durante a guerra contra os ingleses, o palacete foi vítima de um ataque militar que o deixaria ardendo em chamas. Anos mais tarde, em 1841, William Henry Harrison seria o primeiro presidente a morrer em seu quarto presidencial. E não seria ele a única morte a ser registrada naquela morada ao longo da história.
Este fato faz com que lendas de assombrações sejam um fato recorrente, marcando anedoticamente a história da residência oficial do Presidente dos EUA. Existem ao menos umas duas dúzias de relatos de assombrações, aparições de almas penadas ou de visitantes costumeiros que rondam a casa, tocam piano ou cuidam dos jardins. Ao menos é o que dizem.
Segundo Edward Lengel, o historiador chefe da White House Historical Assossiation, o primeiro relato de fantasma na Casa Branca aconteceu após a morte de Abraham Lincoln, no final dos anos 1860, durante a administração de Ulysses Grant. Depois disso, surgiram boatos que diziam que, ainda na época em que Lincoln morava no casarão, sua esposa, Mary Todd, havia tido contatos paranormais com espíritos errantes de soldados durante a Guerra Civil. Ela teria dito que ouviu o ex-presidente Andrew Jackson aos risos e que sua gargalhada vinha justamente do quarto onde ele dormia. Além dele, ela também teria visto, por várias vezes, o espírito de seu filho Willie que faleceu na época em que eles viviam por lá.
Desde então histórias de aparições de antigos moradores foram constantes, principalmente até a década de 1930. Durante a administração de Woodrow Wilson, Dolley Madison (esposa de James Madison, o quarto presidente dos EUA) foi vista cuidando das plantas no Rose Garden, um dos jardins da Casa Branca, quando ele estava prestes a passar por reforma. Coincidentemente, ou não, a reforma foi cancelada.
Além da Senhora Madison, outra primeira-dama que teria seguido com suas rotinas de trabalhos domésticos mesmo depois da morte foi a própria Abigail Adams, que supostamente foi vista andando pela lavanderia da Casa Branca, carregando lençóis para estender.
Assim como elas, outros presidentes foram vistos rondando por lá. Thomas Jefferson, por exemplo, famoso por conta de sua coleção de violinos, teria aparecido pelos corredores do casarão, tocando o instrumento em diferentes horas do dia. Nessa lista de ex-presidentes, William Henry Harrison, não poderia faltar.
A maioria desses relatos está concentrada no último quarto do século 19 e o início do século 20, tendo diminuído a sua frequência após o final da segunda guerra mundial. Para quem acredita nessas lendas, tal fato está relacionado com uma grande reforma realizada durante a administração de Harry Truman, entre 1948 e 1952. Naquela oportunidade, boa parte da ala interna da mansão foi demolida.
Mesmo assim, existem relatos de atividades paranormais até os dias de hoje. Michele Obama, a primeira-dama de 2008 até 2016, alegou ter ouvido sons tenebrosos e visto coisas inexplicáveis enquanto morou por lá. As filhas do presidente Bush, o antecessor de Obama também contam ter visto um piano sair pela lareira aos sons de música clássica. Já o irmão de Bill Clinton, Roger, quando se hospedou em um dos quartos da Casa Branca, na década de 1990, alegou ter sentido a presença do Presidente Abraham Lincoln.
Sobre Lincoln, novamente, Ronald Reagan conta que o seu cão, Rex, recusava-se a entrar no quarto que pertenceu ao presidente responsável por vencer a Guerra Civil, latindo incessantemente para a direção do dormitório. Isso somente ajudou a reforçar o fato de que o famoso presidente de barba e cartola é aquele que possui um maior número de aparições “documentadas”.
Entre os relatos, e realmente são muitos, o que mais chama a atenção é a história contada por Winston Churchill. Certa vez, o primeiro-ministro britânico, que se hospedava na Casa Branca, estava saindo da banheira, completamente nu – apenas fumando um charuto -, quando se deparou com Lincoln bem diante de si. Perante a aparição fantasmagórica, Churchill teria dito: “Senhor presidente, o senhor me pegou desprevenido”.
Sobre a fama de ser um lugar mal-assombrado, é interessante vermos a maneira pela qual os presidentes tratam essa história. O próprio Truman, em 1946, escreveu uma carta para sua esposa dizendo ter ouvido barulhos no corredor de seu quarto, sem que ninguém tenha passado por lá. Na carta ele disse, “É melhor você e (nossa filha) Margie voltarem e me protegerem antes que alguns desses fantasmas me carreguem.”
Teria sido esse o motivo da grande reforma de 48 a 52? Não saberemos a resposta, afinal de contas, o ex-presidente sabia esconder seu medo. Certa vez, quando perguntado pela esposa se ele realmente acreditava na presença de espíritos de presidentes perambulando pela Casa Branca, ele respondeu dizendo:
“Tenho certeza de que eles estão aqui, e não estou muito preocupado em me encontrar com qualquer um deles. […] Tenho certeza de que o velho [Andrew Jackson] poderia me dar bons conselhos e provavelmente me ensinar bons palavrões […]. E tenho certeza de que o velho Grover Cleveland poderia me dar algumas importantes instruções sobre como lidar com alguns líderes políticos. Então, eu não irei trancar minhas portas ou barrá-los caso algum dos velhos idiotas nas fotos no corredor quiserem sair de seus porta-retratos para uma conversa amigável”.
O resultado de todas essas histórias é a criação de uma fonte extra de recursos para a residência oficial do presidente dos EUA. Além da parada de fantasias de Halloween que acontece anualmente, quando os presidentes recebem crianças vestidas a caráter, existe também um tour especial focado nas lendas de assombração e que contam com a participação de atores vestidos a caráter, usando réplicas dos trajes usados pelos presidentes já falecidos.
Neste caso, resta dizer que, mesmo que não apareçam para assombrar, o rosto deles nas notas de Dólar são presenças confirmadas.