Nitidamente as notícias falsas prejudicam qualquer área de conhecimento, pois negam toda evidência científica e metodológica. Na área da saúde não é diferente, podendo colocar em situação de risco parte da população. Como notícias falsas passaram de “misturar leite com manga você morre”, e chegaram até “vacinas podem causar autismo, que tudo faz parte de uma conspiração da indústria farmacêutica”, sem dúvida é um mistério.
Imaginem a seguinte situação: você chega no consultório do fisioterapeuta relatando “uma dor nas costas, mais especificamente na região lombar” e conta toda a história natural da doença. O fisioterapeuta então vai te falar, embasado cientificamente, sobre o que leva à dor, como um vício postural que leva a uma sobrecarga na região lombar, tendo como resultado as dores. Porém, ao sair da clínica, você recebe uma corrente do Whats de sua tia, que recebeu da amiga, sobre dor lombar estar relacionada ao consumo de arroz, sem referências nenhuma, só um link que leva ao um site muito suspeito. Em qual dos dois você vai acreditar, na sua tia ou no seu Fisioterapeuta? Parece bobo, não é?
A história acima foi exagerada, porém vem se tornando aos poucos realidade. A partir do momento em que desacreditamos nos profissionais responsáveis, que tiveram uma formação com um embasamento científico para chegar até aquela conclusão, as fake news são algo que vem acontecendo no meio jornalístico de modo gigantesco e gradualmente estão englobando a área da Saúde.
AS VACINAS
O caso das vacinas está relacionado a uma teoria lançada pelo pesquisador Andrew Wakefield, no ano de 1998 em Londres, na qual ele associava um número de 12 crianças que tinham vestígios do vírus de sarampo no corpo, com problemas gastrointestinais que levariam a uma inflamação no cérebro, consequentemente causando autismo. Na hipótese apresentada, ele associava especificamente uma vacina, a MMR, que protege contra caxumba, rubéola e sarampo. Uma simples hipótese elevou o alerta da sociedade inglesa, a qual apresentou uma diminuição nas vacinas no mesmo ano. Logo esse pensamento refletiu no restante do mundo.
Nos EUA o discurso saiu da vacina MMR e passou para o timerosal, componente antibactericida que está presente em algumas vacinas. Já aqui no Brasil, os pais se reúnem em grupos de Facebook e Whatsapp e lá a discussão passa pelos efeitos colaterais, a segurança nas doses, uma conspiração da indústria farmacêutica, dentre outros.
Apenas um artigo científico foi capaz de causar uma grande preocupação no meio da saúde ao redor do mundo, mesmo sendo provado que o pesquisador Wakefield tinha conflito de interesse ao publicar o estudo, tendo seu visto de médico cassado e sendo considerado ‘inapto’ para exercer a profissão, , que havia dúvidas na metodologia adotada e inúmeros artigos científicos que contradizem o artigo em questão. O fato é que as notícias falsas são postas mais em evidência do que suas contradições.
Já é um consenso entre os profissionais que o número de pessoas vacinadas vem diminuindo. No Brasil os dados não são claros em relação a porcentagem da diminuição das vacinas, há uma discordância entre os dados apresentados pelo Ministério da Saúde. O fato é que os profissionais estão em alerta sobre um provável surto de doenças que já tinham sido erradicadas.
Um caso recente envolvendo a comunidade anti vacinas nos EUA, vem de um surto de catapora acontecendo no estado da Carolina do Norte, onde 36 crianças apresentaram a patologia, na escola do ocorrido tem-se uma taxa de dispensa de vacinas por motivos religiosos.
Outro caso recente foi a perda da certificação da erradicação do sarampo no Brasil, depois de casos apresentados no Pará. Como principal motivo está a baixa adesão da vacinação, sendo de 80% quando o ideal seria de 95%. De acordo com o atual Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “o país iniciará um plano com duração de uma ano para retornar ao status”. O Brasil apresenta 48 casos,os EUA apresenta 206 enquanto a Venezuela tem 283 confirmados. Ainda de acordo com o Ministro “Neste mês (03/19), iniciaremos o fortalecimento da atenção básica, com a criação de uma secretaria própria no organograma do Ministério da Saúde. Esse nível de atenção será prioritário para garantir a retomada dos índices de vacinação adequados no país e acompanhamento da saúde dos brasileiros”.
SOBRE OS OMBROS DE GIGANTES
Combater as notícias falsas não é uma tarefa simples e temos um longo caminho para percorrermos, o início dessa caminhada é pelo método científico.
O método de forma geral é a ordem imposta aos diferentes processos indispensáveis para se chegar a um determinado resultado. No meio científico passa a ser um conjunto de processos empregados na investigação para se chegar na verdade (1). O método científico pode sim apresentar erros, porém a melhor forma de corrigir é por meio do mesmo.
Voltando ao caso do fisioterapeuta citado acima, sobre dores lombares, temos a disposição uma série de artigos, livros e autores que mostram o que levou a determinada dor e os meio de tratamento que devem ser adotados, ou seja, o que quer que seja dito por um profissional responsável, passa por todo método para se chegar a essa conclusão.
Já no caso do artigo da confiabilidade da vacina, o mesmo foi questionado já na época de sua publicação. Outros artigos com metodologias semelhantes foram feitos e chegaram a conclusão totalmente diferentes, logo o artigo do Wakefield, foi contestado e desmentido.
Sem o método científico estaríamos lidando com as crenças e dogmas. A ciência permite conhecer os fenômenos e questioná-los, possibilita o acréscimo de conhecimentos sobre aqueles já adquiridos e possibilita que a humanidade caminhe em um crescente de conhecimentos sobre as coisas. O conhecimento científico nos permite agir com segurança e precisão. Nos ajuda a evitar riscos e perigos (2).
O PAPEL DO PROFISSIONAL EM SAÚDE
Em meio a isso tudo onde ficam os profissionais de saúde? Como lutar contra as correntes do Whatsapp no grupo de família, e fazer chegar na população geral a má informação?
Já falamos do embasamento científico anteriormente, porém, mais importante do que referências é colocar em uma linguagem de forma que qualquer um entenda, não adianta o profissional se esconder sobre um jaleco branco, falar palavras difíceis e achar que fez seu papel.
Existem diversos sites que desmentem boatos de internet. Vou deixar uma lista na referências. Voltado especificamente na área da saúde, o ministério lançou uma forma diferente, pois se é no Whatsapp que as notícias são propagadas é lá que elas tem que ser desmentidas. Criaram um número para o qual pode-se mandar aquela corrente e vão revelar se a notícia é verdadeira ou não. O número é (61)99289-4640.
Acho que já falei demais, vou deixar uma série de textos que vão dar continuidade no assunto, caso tenham interesse. Só foram abordadas as notícias falsas. A falta de embasamento científico na área da saúde também entra bastante nas pseudociências – homeopatia taí, né? -, mas isso pretendo abordar em outro texto.
REFERÊNCIAS USADAS NO TEXTO:
CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários. 3.ed. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1983.
VIZZOTTO, M ; ET. AL. Breve reflexão sobre a importância do método cientifico.Copyright © 2016 Instituto Metodista de Ensino Superior CNPJ 44.351.146/0001-57.
MAIS SOBRE O TEMA:
Sobre o inicio do mito do autismo relacionado a vacina
Ferramenta do ministério da saúde para Fake News
Diminuição das vacinas no Brasil
Noticias falsas comuns na saúde
Comunidade antivacina esta ligada ao surto de catapora nos EUA
Doenças erradicadas ameaçam voltar ao Brasil
PODCAST SOBRE OS TEMAS:
Scicast 268 sobre vacinas
Scicast 285 Zika
Scicast 277 Doenças Negligenciadas
Trivela – Saúde pública e as propostas dos candidatos
Dragões de Garagem 87 vacinas
Dragões de Garagem 137 vacinas e escolhas
MFC 255 as teorias da conspiração foram longe demais
SITES PARA DESMENTIR BOATOS: