Todo mundo sabe a importância da agricultura para a humanidade, sem ela não temos comida. Todo mundo sabe, também, o quão importantes são as florestas, seja pela biodiversidade que elas possuem ou pelo apelo ambiental (sequestro de carbono, influência no regime de chuvas, entre outras coisas). Porém, o que poucos pensam é naquilo que sustenta tudo isso: o solo!
Para alguns a própria palavra solo é uma bela de uma frescura, afinal, é só um monte de terra onde a gente pisa, então para que precisa de um nome “técnico”? Essa frase foi dita pelo meu marido quando estávamos começando a namorar e eu estava entrando no mestrado, então eu sei que é assim mesmo que as pessoas pensam.
Mas é só um amontoado de terra mesmo? Na verdade o negócio é bem complexo e muitas definições existem e estão corretas de acordo com o foco do estudo (para agrônomos é o sustento das lavouras, para os engenheiros civis é onde vai ficar a base de uma construção e para os engenheiros ambientais é o que precisa ser descontaminado, por exemplo). Dito isto, vou colocar aqui o comecinho da definição da Wikipédia para servir de ponto de partida.
“O solo é um corpo de material inconsolidado que cobre a superfície terrestre emersa, entre a litosfera e a atmosfera. Os solos são constituídos de três fases: sólida (minerais e matéria orgânica), líquida (solução do solo) e gasosa (ar)”.
Ou seja, aquilo em que pisamos é uma interação entre partículas sólidas, líquidas e ar onde ocorrem muitas reações químicas e que serve de abrigo para diversos organismos. Quem estuda esse meio super heterogêneo acaba tendo que entender da física (estrutura), química (composição e interações químicas) e biologia (organismos e suas funções) do solo, o que pode ser bem complicado dada a grande diversidade de rochas originárias, clima e organismos que existem ao redor do mundo. Sem esquecer as diversas combinações entre os três fatores.
De uma forma bem geral, as partículas sólidas são compostas, em proporções variáveis, de fragmentos de rocha, minerais primários e secundários. Os minerais primários e secundários são resultantes do intemperismo (vento, chuva, alterações bruscas de temperatura ou ação de microrganismos) nas rochas, que se fragmentam mais e mais ao longo de centenas ou milhares de anos, podendo sofrer grandes alterações em sua composição. Os minerais primários são a rocha-mãe quebradinha e os de origem secundária, os minerais de argila, óxidos e hidróxidos de alumínio e ferro, entre outros, que possuem tamanhos e formatos variáveis desde pedras maiores até materiais que se tornaram tão finos que adquiriram certas propriedades denominadas coloidais (o que significa que essas partículas possuem cargas elétricas). As proporções destas partículas permitem definir a textura do solo e seu tipo. Aliás, você sabia que existem muitos tipos de solo? Não vou descrever todos agora, mas se quiser saber quais temos no Brasil, é só clicar aqui.
Juntamente com as partículas minerais, temos a matéria orgânica que, devido a estrutura de suas moléculas super complexas, também possuem cargas e, assim como as menores partículas do solo, são capazes de reter e estocar íons, impedindo que eles sejam facilmente levados pela água da chuva, além de ser fonte direta de nutrientes ao ser decomposta pelos microrganismos do solo.
A solução do solo é basicamente água que fica armazenada nos poros. Nessa água temos diversos nutrientes em sua forma iônica, que é a forma que as plantas absorvem esses nutrientes. Existe um equilíbrio entre nutrientes retidos nas cargas do solo (indisponíveis para as plantas) e aqueles dissolvidos na solução do solo. Sempre que a planta absorve água e nutrientes, parte do que está estocado na fase sólida (partículas/matéria orgânica) vai para a solução do solo e se torna disponível. Também é nessa sopinha nutritiva que ocorrem as reações químicas, afinal temos muitas substâncias e elementos químicos para interagir.
O ar preenche os demais poros do solo e fornece gases para plantas, microrganismos e reações. Além disso, os poros cheios apenas de ar servem de abrigo para organismos de tamanhos diversos, dos maiores aos microscópicos, e fornecem espaço para as raízes das plantas crescerem.
Agora, você já ouviu falar de “solo compactado”? Provavelmente sim. E com a simples explicação acima, já consegue entender o que foi afetado e quais as conseqüências disso? Exatamente. Um solo compactado perdeu sua estrutura e não possui mais poros. As conseqüências, obviamente, são menos espaços para retenção de ar e água e para organismos crescerem. E por que eu perguntei isso agora? Só para mostrar como você já entende um pouquinho desse complexo maravilhoso (<3).
Acho que ficou bem óbvia a importância da interação entre todas as fases e porque é preciso muito estudo para a manutenção de um solo saudável. Só um punhado de terra um ova, não é mesmo? O conhecimento de como funciona o solo nos permite um manejo adequado para que possamos continuar explorando sem degradar e, assim, manter nosso sustento e ainda preservar a natureza.