Já parou para pensar o quanto esse conceito varia de pessoa para pessoa? O quanto ele é culturalmente imposto nas sociedades? Bom, em pleno ano de 2019, ainda nos deparamos com mitos, exigências de ‘’certificado de virgindade’’, cirurgias de reconstituição de hímen, fantasia sexuais relacionadas a tirar a virgindade de alguém e, além de tudo, vemos muito tabu e preconceito sobre o assunto.
As preocupações, conceitos e histórias sobre virgindade são diferentes entre homens e mulheres. Sabe-se que os meninos, geralmente, são estimulados a perder logo a virgindade, seja por pornografia ou até influência da família. Quem não conhece alguma família em que apenas o filho pode dormir fora de casa e a filha não? Ou quem pode dormir com a namorada em casa? Isso não é tão comum na realidade das mulheres, ainda existem muitas que têm muito receio de iniciar a vida sexual. A virgindade feminina, muitas vezes, é vista como sinal de pureza e, historicamente, representou diversas coisas, como garantia de fidelidade e submissão.
Ao longo da história, aproximadamente do final do século XIX, com as mudanças do poder que a religião exercia na sociedade, com maiores representações do feminino e do feminismo nos ambientes, com a contracepção ao alcance das mulheres, com o ‘’sexo’’ visto em novelas, filmes, revistas, lojas, literatura, etc. e a partir do momento que a educação sexual começou a trabalhar a igualdade entre os sexos, essa ‘’fascinação’’ ou ‘’veneração’’ pela virgindade, começou a ser derrubada.
Mas, sim, ela ainda exerce influência social na maioria das culturas e não é nada diferente no nosso país. Ainda pode-se conhecer pessoas que vêm o início da vida sexual como um perigo, algo angustiante, um pecado, algo sujo, algo que vai virar sua vida ao avesso e não é bem assim (Vale ressaltar que estamos falando sobre sexo com consentimento!!!!).
Devemos saber que o sexo faz parte da nossa natureza e nosso corpo está preparado para isso, mas sim, você pode escolher o momento, a pessoa e até escolher se não quer fazer. A sexualidade está muito além da reprodução e acaba envolvendo desejos, prazeres e valores.
Infelizmente, além de toda a pressão da sociedade e de si mesmo, ainda há os receios de se contrair alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) e/ou de haver uma gravidez e existe o medo (especialmente das mulheres) sobre a repressão dos pais, dos médicos, dos amigos e da religião.
VIRGINDADE SE RESUME À PENETRAÇÃO?
Não mesmo! Não deveríamos associar virgindade à penetração! Por exemplo, existem mulheres lésbicas que optam por não fazer penetração e conseguem sim ter prazer e uma vida sexualmente ativa. Além disso, existem outras formas de sexo além de pênis-vagina, também há o sexo anal e oral. Sabendo-se disso, sobre mulheres, será que o hímen intacto representa a virgindade?
Primeiro, que tal sabermos o que é e para que realmente serve o hímen?
Na real mesmo, o hímen não tem utilidade nenhuma! Ele não possui terminações nervosas (consequentemente, não dói), não protege contra infecções, nada, nadinha. Ele apenas existe e não faz diferença alguma ter ou não.
Ah, mas por que sangra? Por que dói?
O sangue realmente pode vir do rompimento do hímen, a quantidade varia entre as mulheres e a dor pode ocorrer devido ao ‘’estiramento’’ da vagina, que passou a vida inteira quietinha, então a primeira vez pode causar incomodo sim. Porém, vale lembrar que quanto mais lubrificada e relaxada a mulher estiver, menos incomodo irá sentir. O sangramento pode ocorrer na segunda ou terceira vez da mulher também, depende do seu tipo de hímen.
Existe mais de um tipo de hímen?
Siiim! De forma geral, existem 4 tipos:
– Hímen anular: É o mais comum, e condiz com o nome, o furo no meio lembra o formato de anel.
– Hímen complacente: Ele é mais flexível, podendo não ser rompido durante a primeira relação sexual com penetração.
– Hímen cribriforme: Possui vários buraquinhos, ele é considerado resistente. Mas, não significa que causa dor, ok?
– Hímen imperfurado: ele é bem raro, como o nome diz, ele não possui perfurações. Os furos no hímen são extremamente importantes, pois servem para a passagem da menstruação. Quem possui esse tipo de hímen, necessita de intervenção cirúrgica.
O MÉDICO TEM COMO SABER SE SOU VIRGEM?
A resposta é NÃO! É antiético informar a outras pessoas (como os pais) e impossível afirmar quando e se alguma pessoa perdeu a virgindade (lembrando que não estamos falando em casos de estupro). É possível sim, no caso de mulheres, ver se o hímen foi rompido ou não, porém é necessário saber que existem diversos tipos de hímen e que eles podem ter se rompido de diferentes formas, como na masturbação (com penetração de algo) e em alguma pratica esportiva, por exemplo.
VIRGINDADE É TABU!
Virgindade não se resume a dor, nem sangramento e não define o caráter e valor de uma pessoa! E, apesar das repressões em relação a virgindade feminina, os homens também passam por inseguranças, expectativas e medos. É normal! Todo mundo está sujeito a isso, independente de gênero, idade ou com quem se relaciona.
A falta de informação ou a vergonha de perguntar sobre o assunto não contribuem para que essa etapa seja mais tranquila. Espalhar a sementinha da informação ajuda as pessoas que têm medo e não têm com quem conversa, além de torna-las mais seguras e conscientes! Podemos fazer nossa parte!
Principais referências:
KNIBIEHLER, Yvonne. História da virgindade, São Paulo: Editora Contexto, 2016. Cruz, Dilson Ferreira da. La virginité féminine, mythes, fantasmes, émancipation. Paris: Odile Jacob, 2012.
ALTMANN, Helena. Educação sexual e primeira relação sexual: entre expectativas e prescrições. Rev. Estud. Fem., Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 333-356, ago. 2007.
Michele Santos. Bióloga, especialista em Saúde Pública, pesquisa e busca levar conteúdos sobre saúde e educação sexual através do projeto ‘’Conheça seu Corpo’’, nas redes sociais. Adora animais, com bastante ênfase em gatinhos e doguinhos. Não dispensa um chocolate e uma boa risada.