O feijão (Phaseolus vulgaris L.) é uma cultura amplamente difundida no Brasil, que é o maior produtor e consumidor mundial.
É um dos protagonistas do imaginário da mesa brasileira. É arroz-feijão, botar água no feijão, comer feijão pra ficar forte. Além dos vários tipos de feijão, é feijão carioca (que surgiu em Palmital, interior de São Paulo, e de carioca só tem a semelhança com uma raça de porco), feijão preto (o mais consumido pelos cariocas), feijão fradinho, feijão branco, feijão de corda. E ainda têm os pratos, preparados com esses vários tipos, como o feijão tropeiro e, claro, a clássica feijoada.
Feijão tropeiro aliás, cujo nome conta sua história, era um prato preparado desde o período colonial, quando o transporte de diversas mercadorias era feito por tropas a cavalo ou em lombos de burros e seus condutores, os tropeiros, durante a viagem tinham que se virar com os alimentos disponíveis. Assim, preparavam pratos à base de feijão, farinha de mandioca, torresmo, ovos, cebola e temperos.
Já o feijão-caupi é uma cultura de origem africana, introduzida no Brasil na segunda metade do século XVI pelos colonizadores portugueses no Estado da Bahia.
O feijão azuki é uma variedade que foi trazida para cá pelos imigrantes japoneses no início do século XX. Tem grãos pequeninos, variando em coloração do marrom bem avermelhado até quase roxo. É popular na culinária japonesa para fazer doces, ou cozinhar com arroz glutinoso, um prato chamado sekihan (um de meus favoritos). A veriedade é também exaltada por suas propriedades nutricionais e de benefícios a saúde.
Outro ingrediente popular nos pratos japoneses é o broto de feijão moyashi, um grão bem redondinho e miúdo, de cor verde escura, cujos brotos são consumidos crus em saladas, ou refogados, e até em ensopados.
Mas além desses nomes mais populares, existem centenas de variedades de feijão cultivadas no Brasil e no mundo. O próprio feijão carioca, que é o preferido de 60% dos brasileiros, segundo a Embrapa, é resultado do cruzamento natural de outras variedades do grão, e desde seu surgimento já foram desenvolvidas mais de 42 variações dele.
E toda essa popularidade não é à toa. Além de ser fácil e rápido de cultivar (vide o clássico experimento do feijão no algodão), os feijões também são fáceis de transportar e difíceis de estragar quando crus. Ainda são fontes de proteínas, fibras, carboidratos complexos, vitaminas e minerais.
Bom, já deu para perceber que os feijões são mundialmente reconhecidos por sua riqueza nutricional e versatilidade culinária. Além disso, eles fazem parte do grupo das leguminosas, que inclui também a lentilha, o tremoço, o grão de bico, a soja e a ervilha, cujas histórias se entrelaçam com a da humanidade.
O feijão é um dos alimentos mais antigos do mundo. Relatos indicam que tipos selvagens, similares a variedades crioulas — comumente com grãos mais miúdos — foram encontradas na região central das Américas, como no México, datando de 7.000 anos AEC (antes da era comum), a partir de onde teriam se espalhado por toda a América do Sul.
Um segundo local de origem do cultivo é atribuído ao sul dos Andes, mais especificamente ao norte da Argentina e sul do Peru, em sítios arqueológicos datando de 10.000 AEC, de onde possivelmente se desenvolveram os cultivares com sementes mais graúdas, como o Jalo.
E o terceiro, mas não menos importante centro de domesticação do feijão, é a Colômbia. Estudos de eletroforese permitiram identificar que os tipos de proteína presente em grãos provenientes dessas três regiões são diferentes, permitindo afirmar a existência de três origens distintas da domesticação dos grãos.
O fato é que, a partir daí, a variedade desenvolvida nas Américas se espalhou pelo mundo, sendo também encontrada em regiões da Europa, Ásia e África. A maioria dos estudiosos acredita que as guerras da antiguidade também teriam ajudado a espalhar a planta no mundo, uma vez que as tropas usavam o feijão como alimento nas viagens rumo aos campos de batalha.
Na Grécia e Egito antigos, os feijões eram cultivados e cultuados como símbolo da vida. Os antigos romanos também utilizavam o feijão em festas gastronômicas e até como forma de pagamento de apostas.
A Embrapa Arroz e Feijão tem desenvolvido há décadas pesquisas sobre os cultivares de feijão, e desvendando sua variação genética, através do mapeamento de marcadores moleculares e de DNA repetitivo, permitindo assim o melhoramento genético dos feijões, através da combinação genética, para obter grãos de melhor qualidade e cultivo mais produtivo.
Além disso, o cultivo de leguminosas pode ser um valioso aliado no combate às mudanças climáticas, não só por produzirem alimentos ricos em proteínas e com menos impacto ambiental do que a criação de animais, mas também por serem as maiorais na fixação do nitrogênio no solo, beneficiando as demais plantas ao redor. Essa fixação é feita na verdade por bactérias, principalmente do gênero Rhizobium, que se alojam nos nódulos das raízes das leguminosas e captam o nitrogênio do ar, transformando-o em amônia, um nutriente essencial para as plantas.
E você, já comeu feijão hoje? Que tal plantar um pézinho de feijão?