Nunca vi, nem comi eu só ouço falar (e às vezes, nem isso).

O que é o carste? Onde vive? Do que se alimenta?

É provável que você nunca tenha ouvido ou lido essa palavra. O carste é um tipo de relevo que tem forte relação com a geologia daquele lugar. Tá parecendo estranho? Tá né? Mas segue o texto, que no final você vai conseguir entender.

As rochas calcárias

O termo Carste tem origem no alemão Karst e é o nome de uma região que está entre norte da Itália, sudoeste da Eslovênia e noroeste da Croácia. Mais ou menos aqui óh:

O nome da região na língua local tem um significado aproximado de campo de rochas calcárias. Foi a primeira região em que o fenômeno foi estudado. Mas que fenômeno?

A dissolução das rochas calcárias. (podem ser outras rochas também, mas sobretudo, as calcárias, belê?)

Não existe ainda um consenso sobre quais tipos de rocha que compõem as áreas cársticas. Isso por que existem feições morfológicas causadas por dissolução em outros tipos de rochas, como os quartzitos.

Ou seja, a dissolução das rochas é essencial para a determinação de uma área como cárstica é essencial, mas não determinante. É importante também a ocorrência de certas formas de relevo que são associadas ao processo.

Quais formas? Pera, que isso eu falo mais pra frente no texto. Primeiro, vamos entender como assim dissolução? A pedra derrete?

A dissolução

Normalmente está associada à dissolução química das rochas carbonáticas. Prestenção aqui, que essa parte é complicadinha. Vamos lá. A água linda, H2O entra em contato com o dióxido de carbono CO2 . Onde? Bom, pode ser na atmosfera ou no solo. Normalmente as raízes das plantas emitem CO2 , ou a matéria orgânica que está no solo, em decomposição. O resultado é o ácido carbônico:

H2O + CO2H2CO3

Bom, beleza. Ao passar pelas fissuras das rochas carbonáticas o ácido corrói o carbonato de cálcio que faz parte delas (CaCO3 ).

Aqui, vou contar uma coisa procês. Tudo na natureza é interligado e as coisas acontecem, quase sempre, pelo conjunto de fatores relacionados. Normalmente, chove muito nos lugares onde tem as áreas cársticas, o que permite que um grande volume de água consiga dissolver um outro igual volume de rochas. Outra coisa importante é que a vegetação e o solo ajudam esse grande volume de água infiltrar e se acumular na zona freática, e aí dissolver as rochas.

Outras rochas podem sofrer da dissolução, além das carbonáticas calcita e dolomita, são elas: halita, gipsita, quartzito, minério de ferro (hematita) e outras.

As feições cársticas

Vocês lembram que eu comentei que não bastava dissolver, era preciso também apresentar uma série de formas de relevo que eram associadas né? Pois muito que bem, essas formas também são chamadas de feições cársticas.

Tem uma que é super famosinha e todo mundo conhece, mas vou deixar por último ahahaha.

Dolina

As dolinas normalmente são depressões arredondadas formadas pela dissolução da rocha no terreno abaixo dela. A dolina pode ser formada por abatimento, quando a rocha sob ela é dissolvida e a parte de cima ou o “teto” não suporta o peso e colapsa; pode ser formada também por dissolução, a rocha no subsolo é dissolvida causando as depressões e etc. Ah, a união de várias dolinas forma outra feição, a uvala.

A figura abaixo é uma representação em 3D do relevo de um lugar no município de Umburanas, na Bahia. Percebam a feição arredondada que está em destaque. É uma dolina. Na figura ao lado, é possível ver a mesma dolina, agora já pela imagem de satélite do lugar.

 

Sombreamento do relevo em (Umburanas BA)

 

Dolina vista em imagem de satélite

Percebam, na foto abaixo, a ocorrência de uma dolina. É comum que nesses pontos mais baixos do relevo, ocorra o acúmulo de água, como nesse caso.

Dolina em Ourolândia (BA)

Poljes

Os poljes são largas depressões fechadas, podem atingir comprimentos e larguras de dezenas de quilômetros com paredes abruptas e fundo plano rochoso, ou mais comumente de argilas ou depósitos lacustres.

Morfologias fluviais e cársticas

Nesse grupo serão agrupadas algumas feições, pois todas tem seu processo de formação associado aos processos fluviais (de rios). Os vales cegos são caracterizados pela interrupção abrupta da paisagem diante da ocorrência de um sumidouro. O sumidouro é o ponto onde um rio ou drenagem escapa para o subssolo.

Sim, é isso mesmo. Está bem lindo lá, o rio correndo no vale, na superfície, quando é fé (expressão tipicamente mineira) o rio infiltra em alguma falha e começa a correr no subssolo. Não basta isso, ele pode voltar a correr em superfície, através de uma ressurgência.

Reparem nas indicações que eu fiz na foto abaixo. Aqui, é a cachoeira do Recanto Verde, em Ibicoara, na Bahia. É uma cachoeira que surge em uma ressurgência (em amarelo) e termina em um sumidouro (vermelho). Normalmente, em uma cachoeira, a água depois que cai, forma o leito rio. Aqui não, ela segue para o subsolo.

Por último, mas não menos importante… elas…

Cavernas

Começando que, o nome mais adequado é cavidade. E cavidade é todo e qualquer buraco espaço no subsolo ou na superfície que caiba um ser humano, com ou sem abertura (no caso das cavernas oclusas). Não necessariamente uma cavidade pode ser uma caverna. As cavidades também podem ser abismos e abrigos.

Ou seja, podem ser de tamanho bem pequenininho, tanto em altura, largura ou profundidade. Ou serem gigantescas como a caverna de Son Doong, no Vietnã.

Não existe um único motivo para a formação das cavernas, existem várias gêneses descritas pelos espeleólogos.

As cavidades de um modo geral, tem grande valor cultural arqueo e paleontológico para nossa sociedade. Mas essa conversa, fica para outro dia.

 

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Para esse texto, consultei:

PILÓ, L.B. “Geomorfologia Cárstica”. Revista Brasileira de Geomorfologia, Volume 1, nº1 ,2000.