Com o avanço das tropas aliadas em solo afegão, em janeiro de 2002 Bush deu início à expansão do combate ao terrorismo no mundo. Segundo ele, o mundo não seria um lugar seguro enquanto houvesse nações dedicadas a financiar, abrigar e promover grupos terroristas. A tais nações ele deu o nome de Eixo do Mal, nominando especificamente ao Iraque, Irã e Coréia do Norte.

Assim, para “garantir a paz e estabilidade ao mundo”, Bush defendeu que fosse realizada a invasão do Iraque, a deposição de Saddam Hussein e a organização de um governo simpático aos interesses da Casa Branca. Afinal, de acordo com a Doutrina Bush, era preciso criar condições globais para a expansão da liberdade pelo mundo e, por liberdade, entendia-se: Estado Democrático; liberdade de expressão e culto; e livre comércio.

Apesar de todo o interesse econômico que o grupo de apoio ao Partido Republicano possuía na região e que nos ajuda a compreender este movimento, a declaração de guerra à Saddam Hussein também partiu de uma leitura feita sobre o onze de setembro e que o relacionava aos conflitos ocorridos no Golfo Pérsico, em 1991. De certa maneira, entendeu-se que a não invasão ao Iraque naquela oportunidade era uma das causas diretas do atentado ao World Trade Center. Assim, para superar os equívocos do pai, George Bush Jr. apresentou duas justificativas para essa nova guerra: 1) o Iraque possuía armas químicas e nucleares de destruição em massa e 2) poderia haver alguma ligação entre Saddam Hussein e o grupo de Osama Bin Laden.

Foi desta maneira que, em março de 2003, com o apoio da Grã-Bretanha, sem autorização explícita do Conselho de Segurança da ONU e sem o respaldo de China e Rússia, tropas americanas invadiram o Iraque. Em apenas um mês a cidade de Bagdá foi tomada, Saddam Hussein encontrava-se foragido e um governo democrático começava a ser desenhado. Enquanto um novo governo não tomava posse, tropas permanentes foram instaladas em território iraquiano, passando a conviver com ataques armados e explosões de bombas protagonizados por grupos de resistência nacionalistas e/ou islâmicos.

Derrubada da estátua de Saddam Hussein, abril 2003.

Apesar dos avanços imediatos, o cenário de resistência e ação de grupos insurrecionais fez com que, já em 2006, a inteligência estadunidense declarasse que o Iraque havia se convertido em um território fértil para o florescimento de organizações terroristas, muito mais do que na época em que era governada por Saddam. Não por menos, neste mesmo ano, o número de soldados americanos mortos chegou a 3 mil, com mais de 20 mil feridos.

Do lado iraquiano, os mortos chegaram à casa das centenas de milhares e os custos da guerra para os EUA chegavam à cifra de US$ 200 bilhões, superando em muito as expectativas iniciais, de US$ 60 bilhões. Porém, ainda que os números apontassem para um desastre total, também no final de 2006, Saddam Hussein foi encontrado, preso e executado. Diante deste acontecimento, Bush declarou a vitória americana contra um poderoso inimigo do Eixo do Mal.

Terminava, então, a primeira fase de guerra ao terror. Após o onze de setembro, entre 2001 e 2006 o foco da política externa dos EUA foi o Oriente Médio. Durante esse período, o vácuo de liderança provocado por essa estratégia, o avanço da globalização e o crescimento da participação da China no mercado internacional permitiram uma reorganização das grandes nações ao redor do mundo. Enquanto os EUA lutava suas guerras, o mundo mudou rapidamente.

A soberania americana sofreria outro golpe com a crise econômica de 2008. Internamente, ela foi responsável por colocar um fim na hegemonia neoconservadora nos EUA que havia começado ainda no governo de Ronald Reagan (1981 – 1989). De outra maneira, também marcou o primeiro grande refluxo do processo de expansão da Globalização, tornando-se uma ameaça ao estilo de vida de uma nova classe média surgida neste período.

Conforme bem demonstrou Branko Milanovic (2017), os anos entre 1988 e 2008 foram um período de grande crescimento econômico e redução da pobreza mundial. Em trinta anos, o número de pessoas vivendo na faixa de extrema pobreza, em todo o mundo, caiu para 9% e algo em torno de 1 bilhão de pessoas ascenderam às classes médias.

Banner de campanha de Barack Obama, 2008

Nos Estados Unidos, a perda dos ganhos dos últimos anos, com o estouro da bolha imobiliária, e o temor das camadas mais baixas da população de retornar a patamares de consumo e bem-estar também mais baixos, levaram a um rechaço do modelo econômico Republicano de corte mais fiscalista. Neste contexto, o candidato Barack Obama surgia restaurando as tradições liberais progressistas do Partido Democrata (VIDAL, 2018), prometendo uma reforma mais contundente no campo da saúde e a garantia de que os anos de prosperidade não ficariam para trás.

Como era de se esperar, a crise econômica monopolizou os debates presidenciais, deixando em segundo plano os temas de política externa, sem que se soubesse, de fato, o que Obama pensava sobre o assunto. Porém, a dúvida não prevaleceria por muito tempo. Convencido pela ala militar de que uma vitória contra o Talibã era possível, ainda em fevereiro de 2009, Obama aumentou para 68 mil o número de soldados no Afeganistão, chegando a quase 100 mil em dezembro. O objetivo era garantir uma vitória final em um prazo de 18 meses, gerando as condições necessárias para o início de uma retirada pacífica e ordeira. Ao mesmo tempo em que o Afeganistão voltava à pauta, as missões de combate dos EUA no Iraque terminariam em 2010, o que viabilizou a retirada oficial do exército americano já no ano seguinte.

Enquanto a situação no Iraque era celebrada e os destinos do Afeganistão permaneciam incertos, no dia 02 de maio de 2011, os EUA anunciou que finalmente, após quase dez anos de perseguição, a caçada a Osama Bin Laden finalmente terminava. Segundo o que foi reportado, um grupo paramilitar em conjunto com forças da marinha e da CIA, invadiram o esconderijo de Osama em Abbottabad no Paquistão. O líder da Al-Qaeda foi morto e seu corpo foi jogado ao mar, em respeito às suas crenças religiosas.

Não muito distante dessa data, Obama anunciou que concorreria à reeleição. Porém, ao contrário do que poderia sugerir, aquela notícia não representava o fim dos problemas para Obama no Oriente Médio, afinal de contas, desde outubro de 2010 teve início àquilo que ficaria conhecido como “A Primavera Árabe” e que mudaria a balança de forças na região, resultando no fortalecimento de novos grupos terroristas. Da mesma maneira, teria como efeito o reposicionamento das potências na região e o acordo entre antigos rivais.

“Primavera Árabe”, manifestação no Egito, 2011.

Aquilo que começou em forma de manifestações populares pelas ruas de importantes capitais no Oriente Médio e regiões da África, resultou na queda de regimes autoritários de longa duração na Tunísia e no Egito, em 2011. Diante do apelo dos manifestantes por mais democracia e participação política, bem como o entusiasmo da opinião pública internacional com o assunto, a administração Obama mediu seus passos para a tomada de ações, de modo a não desencorajar as manifestações, ao mesmo tempo em que não prejudicasse os interesses dos EUA na região.

A estratégia de Obama foi a de se postar como um líder mundial sem promover uma atuação direta nos eventos. A exceção a essa estratégia ocorreria na Líbia, por conta da revolta contra o governo de Muammar al-Gaddafi e que acabou por se transformar em uma guerra civil, efetivamente. Diante do uso desproporcional de força militar de Gaddafi contra seus opositores, em 19 de março de 2011, os EUA e nações europeias deram início a operações de bombardeio a alvos na Líbia com o uso de drones e mísseis de cruzeiro.

Outro importante evento ocorrido neste mesmo período e que contou com a participação americana foi a guerra civil na Síria. Entretanto, diferente da Líbia que contou com a atuação direta, no caso sírio, os EUA trabalharam no suporte a rebeldes, como o Exército da Síria Livre. A ajuda americana envolveu: treinamento militar, o envio de recursos financeiros e o compartilhamento de relatórios de inteligência.

Porém, como dito, a situação na Síria era bem diferente do que se via na Líbia, pois Bashar Al-Assad contava com o apoio da Rússia e do Irã, o que tornava o êxito das ações rebeldes ainda mais difícil. Ao mesmo tempo, um terceiro grupo passou a compor as disputas na busca pela instauração de um novo regime no país: o Estado Islâmico do Iraque e Levante ou, simplesmente, o Daesh.

Daesh em território sírio

Não há dúvida de que a participação dos EUA naquela região ganhou novos contornos por conta das vitórias empreendidas pelo Daesh. Aliás, a presença de um novo inimigo não apenas mudou os rumos dos conflitos na Síria como obrigou que novas tropas americanas fossem enviadas ao Iraque ainda em 2014. Também por isso, novos acordos foram selados e antigos rivais desde o Irã ao Talibã, russos a americanos, passaram a compor forças no combate ao Estado Islâmico.

A preocupação de que uma nova onda terrorista se espalhasse pelo mundo e chegasse ao solo estadunidense fez com que o tema do Daesh fosse uma pauta relevante nas eleições de 2016. Porém, as discussões não falavam sobre o aumento da intervenção dos EUA na região. Ao contrário, a solução passava pela resolução das guerras intermináveis (Afeganistão e Iraque).

Essa mistura de nacionalismo patriótico, de defesa dos interesses econômicos americanos e um maior afastamento dos imbróglios internacionais melhores identificadas no discurso de America First do candidato republicano, Donald Trump, que acabaria sendo eleito naquele ano.

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Referências

MILANOVIC, Branko. A Desigualdade no Mundo: uma Nova Abordagem Para a era da Globalização. Coimbra: Actual Editora, 2017.

PECEQUILO, Cristina Soreanu. A política externa dos Estados Unidos. 2 ed. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2005.

VIDAL, Camila Feix. Polarização Partidária e Política Externa nos Estados Unidos (1936-2012). Revista Brasileira de Ciência Política, no 25. Brasília, janeiro – abril de 2018, pp 167-204.

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Terrorism, War, and Bush 43: Crash Course US History #46

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