Juro que não é clickbait ou título só para chamar a atenção. “O homem que confundiu sua esposa com um chapéu” é o título de uma das histórias narradas pelo neurologista e escritor Oliver Sacks (in memorian). Neste livro ele relata diversos casos de pessoas com distúrbios neurológicos.
Quem foi Oliver Sacks?
Oliver Sacks foi professor, neurologista e escritor, com grande habilidade para escrever estudos de caso sobre pacientes com distúrbios neurológicos de maneira clara e envolvente, de modo a fazer pessoas sem conhecimentos médicos, entender o funcionamento dos distúrbios, como eles afetam a vida dessas pessoas e em seu entorno.
Escreveu best sellers, tais como o que dá nome a este texto, Enxaqueca, Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos e Tempo De Despertar, que inspirou o filme de mesmo nome.
Trecho do filme “Tempo de despertar”
Ele faleceu em 2015, e o diagnóstico de câncer terminal o inspirou a escrever uma linda carta sobre a vida, gratidão e o morrer (O link leva para a tradução da carta).
Publicação original do New York Times
O livro conta diversos casos de pessoas com distúrbios neurológicos. O relato que dá nome ao livro, conta o história de um músico e professor que perde a capacidade de reconhecer as pessoas pelo conjunto de suas características físicas. Ele começa a notar esta dificuldade quando, em sala de aula, deixa de reconhecer seus estudantes pelos seus rostos, passando a identificá-los pela voz.
Ele não estava perdendo a visão, ele perdeu a capacidade de identificar rostos. Gerando situações embaraçosas e cômicas, tais como cumprimentar hidrantes como se fossem crianças, por exemplo, e outras situações que passavam por simples enganos ou piadas.
Ele só passou a considerar seriamente a situação após o diagnóstico de diabetes, quando foi ao oftalmologista e descobriu que havia algo errado nas partes visuais do cérebro e foi consultar um neurologista. Eis que ele vai a uma consulta com Oliver Sacks, que é quando ele decide ir embora e tenta vestir sua esposa como se fosse um chapéu, que estava próximo a ela.
Mas isso era somente uma das características de sua agnosia visual. Em testes posteriores ele mostrou facilidade em reconhecer pessoas e objetos por traços característicos, não pelo conjunto. Ele também era pintor e suas obras foram se modificando ao longo dos anos, desde obras realistas até obras mais abstratas, dando a entender que esta mudança se deu pela evolução da doença.
O mais incrível é notar que ele não percebe a perda de suas capacidades neurológicas e adapta sua rotina de acordo com as habilidades que restaram.
Em outro relato, a personagem é uma mulher que perdeu a propriocepção. Com isso ela deixa de fazer coisas consideradas básicas e simples, como a capacidade de expressar emoções e controlar o próprio corpo. Sentar e falar se tornam atividades que exigem grande concentração e foco. E o texto narra o processo de perda da propriocepção e como ela lida com isso, e a solução para lidar com o ser desencarnada.
Além da falta de sensações e perda de parte da cognição, o excesso também pode ser um problema e causar diversas doenças e transtornos, tal como a chamada neurossífilis, representada no conto doença do cupido, no qual Sacks relata a historia de uma mulher idosa que passa a se sentir muito bem e apresentar interesse por homens mais novos.
Ela teve a doença quando mais nova, mas a essa só passou a ter cura a partir dos anos 40, quando a penicilina passou a ser usada como fármaco (A primeira edição do livro foi no ano de 1985). O tratamento para a doença suprimia a mesma, não a curava, permitindo seu retorno muitos anos depois em forma de neurossífilis.
Estas são algumas das historias narradas no livro, que mostra o quanto nosso cérebro é potente e plástico, podendo se adaptar a adversidades que nem podemos imaginar que sejam possíveis. E como lidamos com as pessoas que apresentam tais condições.
Ficha técnica:
Título original: The man who mistook his wife for a hat
Páginas: 272 Formato: 14.00 X 21.00 cm
Peso: 0.356 kg
Acabamento: Livro brochura
Lançamento: 14/08/1997
ISBN: 978-85-7164-689-6
Selo: Companhia das Letras