O dia era 4 de Julho de 2012, Emerson Sheik dispara com a bola para fazer o gol que faria o Corinthians conquistar a América pela primeira vez, um evento tão importante quanto acontecia na sala de conferências do CERN em Genebra, o anuncio da descoberta do bóson de Higgs.

Sim caros leitores, confesso que não resisti ao impulso de dar um título “clickbait” para meu primeiro texto aqui no Deviante.  É claro que anunciar o fim da física dessa forma seria de uma pretensão acima dos 14 TeV, sendo assim prefiro que vocês encarem esse título como uma provocação.

Historicamente pessoas muito mais importantes que eu anunciaram que o fim estava próximo, mas a natureza e a evolução do nosso pensamento científico sempre mostrou que a história não é bem assim.

O caso mais clássico é o do fim da física clássica, em 1901 nas palavras de Lord Kelvin. Uma das maiores autoridades em física na época, sugeriu que os estudos sobre a teoria dinâmica de Newton no século XVII, que regia o movimento dos astros e era a base de todo o desenvolvimento científico da primeira revolução industrial, eram como um céu belo e iluminado sendo obscurecido com duas nuvens. Mais tarde dariam origem a duas tempestades: a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica, duas teorias que basearam a ciência do século XX e junto com o seu desenvolvimento tecnológico.

Pouco mais cem anos depois dessa gafe (?) de Kelvin, aqui peço desculpas por estar ajudando a perpetuar um estigma sobre um dos maiores cientistas da história e para me redimir, deixo esse artigo que explica esse causo muito melhor.

Voltando ao 4 de Julho de 2012, no segundo maior acontecimento daquele dia em Genebra, o diretor do Cern, RolfHeuer, anunciava aquela que seria a maior descoberta (ou pelo menos mais cara) desse século até agora. Muitos jornais na época chamavam-na de Partícula de Deus, erro histórico protagonizado pelo editor do livro que se chamaria “The Goddamn Particle”, nome em alusão a dificuldade que é detecta-la, mas que em nome da moral e dos bons costumes mudou o título para “The God Particle: If the Universe Is the Answer, What Is the Question?”.

A descoberta do Higgs (para os mais íntimos) é realmente um marco para o nosso entendimento da natureza, pois fecha uma teoria que por sua causa se torna muito bem estabelecida: a do modelo das partículas elementares. Não cabe a esse texto explicar como funciona o mecanismo de Higgs, proposto por Peter Higgs em 1964; deixo para o próximo texto.

Diante desse cenário, sofremos de uma crise existencial na física teórica. Nosso experimento de alguns bilhões de doláres respondeu o que seria a última pergunta sobre o modelo padrão, mas desde então não respondeu mais nada, nem trouxe outras grandes perguntas. No máximo, alguma pequena dica sobre algo estranho que foi observado. Será que estamos diante de nuvens parecidas àquelas que Lord Kelvin contemplou? Será que não existe vida além do modelo padrão? Qual deve ser nosso próximo passo

Percebam que quando filosofo se a física acabou ou não, não quer dizer que não existam problemas a serem resolvidos, isso tem aos montes: energia escura, matéria escura, violação de CP, inflação… Isso sem falar em outras áreas da física que estão a todo vapor, produzindo conhecimento e tecnologia. A questão aqui é que não sabemos se essas perguntas precisam de teorias além daquelas estabelecidas para resolver esses problemas. Propostas não faltam; alias hoje em dia se vive uma guerra nos “bastidores” dos institutos de física mundo afora de cientistas querendo emplacar suas teorias. De dimensões extras a supercoisas, fato é que a física é uma ciência empírica e somos sempre reféns do experimento, do que a natureza nos mostra.

Mas nem tudo é tristeza: ser físico teórico é antes de tudo um exercício de abstração e criatividade, por isso me proponho nos próximos textos a trazer as motivações e como funcionam teorias que estão sendo desenvolvidas hoje, mas provavelmente serão usadas somente pela Federação para fazer a Enterprise funcionar.


Armando Fernandes da Silva Físico, apreciador do caos e lider da gangue dos niilistas.