Não importa se você gosta de K-pop ou não, você com certeza já ouviu falar do grupo sul-coreano BTS. Entregando um pouco aqui minha idade, eles são os Backstreet Boys dessa geração. A grande conexão com o público jovem vem não só da massiva presença de seus sete membros nas redes sociais, mas também por causa das letras que falam de saúde mental e outras questões bem conhecidas dos adolescentes e pelas quais todos nós já passamos.

Não é à toa que tudo o que eles tocam vira ouro. Qualquer produto, marca ou serviço endossado pela banda vende igual água. Um dos seus lançamentos mais recentes, a canção Butter, virou hit em questão de horas. Os ingressos para os shows se esgotam em minutos e tudo que os membros postam nas redes sociais tem repercussão imediata.

Mas este artigo não veio para falar de música, mas sim do poder que eles têm vai muito além do Instagram. A fama e sucesso do BTS são tamanhos que seus impactos já afetam a 12ª maior economia do mundo e até mesmo a política do país.

O “fator BTS” na Coreia do Sul e no mundo

Para medimos o impacto financeiro do BTS em 2020, um estudo feito pelo governo sul-coreano mostrou que eles movimentaram mais de 5 bilhões de dólares – mais que todo o PIB de países como Fiji e Maldivas. Isso equivale a 0,5% da economia sul coreana – uma fatia enorme para uma banda de pop. Segundo os dados, as principais fontes de renda são ingressos e mercadorias.

Mas o real impacto do BTS vai muito além do dinheiro. Enquanto outras marcas coreanas como a Samsung, que sempre foram o carro-chefe do país, veem suas reputações manchadas com escândalos, o BTS se prova cada vez mais uma enorme influência do que se chama soft power.

Este termo denota a influência de um país para além da esfera militar e econômica. Um exemplo fácil de entender, é o impacto da indústria audiovisual que exporta modelos e valores americanos para todo o mundo.

No caso do BTS, o sucesso tem levantado muita curiosidade sobre a história e cultura da península coreana, e mais ainda: tem levado muitas pessoas a estudarem o idioma para entenderem melhor as letras das canções. Como consequência natural, as pessoas mergulham em outras questões culturais como moda e alimentação, aumentando a busca por estes produtos fora da Ásia.

E claro que todo isso reflete internamente, tanto que os membros da banca ganharam a Medalha da Ordem de Mérito Cultural em 2018 – uma enorme honraria. E em plena pandemia, o atual presidente, Moon Jae-in, declarou o BTS como “enviados especiais para futuras gerações e cultura” do país para representar a Coreia do Sul na Assembleia Geral das Nações Unidas no último mês de setembro. Os meninos ganharam até passaporte diplomático.

Mas para mim o episódio que realmente marca o poder de influência do BTS veio em dezembro do ano passado, quando questões pessoais dos membros levaram o parlamento coreano a mudar uma lei! Na Coreia, todos os homens devem cumprir um serviço militar obrigatório de 20 meses ao completarem 28 anos. Como o membro mais velho do grupo, Kim Seok-jin, fez aniversário em dezembro e completaria a idade obrigatória, foi aprovada uma lei de exceção para que membros de grupos de K-Pop possam atrasar seu alistamento até os 30 anos.

É muito comum vermos ídolos da música ou cinema dobrarem as regras ou ganharem regalias especiais, mas o caso do BTS é muito emblemático pela sua esfera de influência global e o reconhecimento local forte de um país que poucas vezes conseguiu emplacar modas a nível internacional e vive envolto em questões políticas e bélicas com a vizinha Coreia do Norte.

 

E a política e economia coreanas para além do BTS?

Apesar do boom mundial do K-pop, a economia coreana já viveu melhores momentos. Os últimos governos tiveram dificuldade de reestruturar a economia que não cresce com tanta velocidade quanto antes. Parte do problema está na enorme influência dos grandes conglomerados familiares – os chaebol (se pronuncia: chei-bol) – como caso da Samsung que citei antes.

Estes conglomerados acabam verticalizando e controlando grandes porções da economia, o que limita o impacto de políticas públicas e dificulta o crescimento de pequenas empresas que poderiam desafiar esses oligopólios.

Vários políticos prometeram medidas para limitar este poder, mas não é isso que temos visto. O caso mais emblemático é o da ex-presidente Park Geun-hye que está presa por tráfico de influência e propinas envolvendo exatamente os chaebol.

Como se isso não fosse suficiente, o atual presidente ainda teve que lidar com as consequências das políticas de Trump que sacudiram a região asiática: tanto a guerra comercial com a China quanto a “legitimação” do belicoso Kin Jon-Un na Coreia do Norte.

Por outro lado, a gestão da pandemia foi bem-sucedida, com a Coreia do Sul sendo um dos primeiros países a voltar aos níveis econômicos pré-COVID no primeiro trimestre de 2021 (segundo dados da OCDE) e com perspectivas de manter seu crescimento em 2022 e 2023. Tudo isso graças a uma vacinação rápida e aumento da demanda internacional por produtos de tecnologia produzidos no país.

E não pensem que com essas vitórias o problema está resolvido. 2022 é ano de eleição presidencial e a expectativa é que a vitória fique com o partido conservador, hoje na oposição. Contudo, o parlamento deve continuar de maioria do partido Minjoo – o que pode causar uma paralisação política num momento crucial do desenvolvimento do país pós-pandemia.

Fica claro que o cenário é desafiador para a Coreia do Sul em diversas frentes. E para tristeza dos milhões de fãs de K-pop em todo o mundo, parece que só o sucesso do BTS não será capaz de resolver todos os problemas que o país ainda vai ter que enfrentar.

 

Fontes:

BTS: The band that moves the economy

South Korea Passes ‘BTS Law’ Allowing K-Pop Stars to Postpone Military Service

OECD: Korea Economis Snapshot