Não é de hoje que observamos o aumento considerável de produtos cada vez mais diversos nas prateleiras dos mercados. Entre os produtos que chamam a atenção dos consumidores, ultimamente destacam-se as carnes vegetais.

Repletos de estigmas e preconceitos, os produtos plant-based (baseados em plantas) estão entrando cada vez mais no imaginário do brasileiro e tornando-se opções viáveis para a obtenção de proteína na alimentação. Vamos conhecer um pouco mais sobre eles neste texto?

Com o consumidor buscando alimentos que sejam pautados em sustentabilidade e ética animal, estima-se a possibilidade de as carnes vegetais representarem cerca de um terço do mercado total de produtos cárneos até 2041. A startup de carne vegetal Livekindly Collective levantou cerca de 300 milhões de dólares neste ano ao projetar aos investidores uma transformação total do sistema alimentar em vigência [1]. Observa-se ainda a atuação em ascensão de grandes conglomerados como a BRF nesse segmento.

É certo que esta inovação chegou para ficar e que teremos muitas novidades e discussões a respeito do tema em breve. Entre os maiores estigmas com relação ao produto, destaca-se os argumentos que dizem que a carne vegetal seria “uma carne falsa” ou mesmo uma espécie de produto para diminuir o sofrimento do vegetariano por não poder comer “carne de verdade”. Esse pensamento é reflexo da compreensão errônea sobre o que seria uma carne “real” ou “de verdade” e dos valores das pessoas que observam na alimentação plant-based um estilo de vida.

A carne vegetal na verdade é categorizada como toda matéria prima vegetal manipulada para que possua gosto, textura, sabor, cor ou cheiro parecidos com a carne [2]. Existem diferentes receitas para a formulação deste tipo de carne, como: a utilização de frutas ou partes (jaca e casca de banana); combinação de cereais, farinhas e temperos (permite formulações mais complexas, como linguiça e hambúrguer ou picanha; como por exemplo a soja) e até mesmo formuladas a partir de sementes (grão de bico).

Dentro do grupo dos consumidores, existe um certo cuidado com a nomenclatura da matéria prima vegetal manipulada para exercer o mesmo papel da carne na refeição [2]. Trabalhando com coxinha de carne de jaca, por exemplo, os formuladores chamarão seu produto final de “coxinha de jaca”.

Para eles, fazer a alusão com a carne é uma forma de trabalhar com a memória afetiva dos mesmos, uma vez que existem pessoas que estão querendo iniciar o estilo de vida, porém não conseguem desapegar dos alimentos que comiam até aquele momento.

Também é um jeito de demonstrar a maior variabilidade que as matérias primas vegetais obtém, não somente sendo “a salada” nas refeições. Agora, as formulações vegetais ganharam o paradigma do protagonista da refeição, “a carne”. Desta forma, garante-se mais opções tanto ao iniciante quanto aos formuladores mais experientes, além de acarretar em receitas melhoradas e criativas.

 

Buscando atrair clientes que estejam curiosos com as novas tendências culinárias, a nova aposta das hamburguerias em todo o país se centram nos produtos de origem vegetal [3]. Na imagem: preparo de 3 hamburgueres feitos com base em vegetais em um prato.

O estudo dos comportamentos dos adeptos da carne vegetal se centra na ressignificação do alimento vegetal na vida dos consumidores. É comum que muitos pautem suas ações de consumo baseados na responsabilidade socioambiental, dos quais destaca-se o princípio de igualdade entre todos os seres vivos. Por meio da substituição de ingredientes, na adaptação de receitas e do processo de transformação, obtém-se a elevação de status dos alimentos e de cadeias agroalimentares que antes eram subvalorizadas.

No entanto, existem estudos de nutrição que relacionam a alimentação vegetariana com a deficiência de minerais e proteínas que são mais presentes em alimentos cárneos de animais [4]. No caso das proteínas, apesar destes componentes vegetais presentes em uma dieta diversificada apresentarem os mesmos aminoácidos essenciais para o desenvolvimento humano, a falta da relação das mesmas com outros componentes (como em complexos lipídios-proteínas) diminui a sua absorção pelo trato gastroinstestinal, diminuindo sua biodisponibilidade.

Existem formulações mais complexas que possibilitam ao vegetariano o desenvolvimento de alimentos onde todas as necessidades nutricionais são sanadas. Destaca-se pela boa digestibilidade entre os produtos vegetais a utilização de concentrados de proteínas de soja nos produtos formulados, baseado em leite, tofu e isolado proteico de soja. Porém, entre os brasileiros ainda existe um certo desconhecimento da utilização dos produtos de soja quando não relacionados aos alimentos industrializados.

 

A carne vegetal produzida por grandes indústrias sofre a crítica de veganos justamente por ser um produto ultraprocessado (com quantidade alta de gordura, sódio, açúcar e aditivos). Especialistas recomendam o consumo de receitas caseiras [5]. Na imagem: churrasco na grelha com diferentes itens vegetais.

No cenário brasileiro, autoridades estão observando a necessidade de regulação das condições de produção destes alimentos, garantindo atribuições para a venda de alimentos seguros, rotulagem e segurança jurídica aos produtores [6]. O Departamento de inspeção de produtos de origem vegetal do Ministério da Saúde (Dipov/Mapa) infere que o processo de regulação em estudo necessita levar em consideração as características de inovação inerentes de cada formulador, além da fixação em documento das terminologias que são únicas desta frente de produção.

Desta forma, espera-se que sejam trabalhadas condições de fiscalização e controle para a produção em larga escala destes alimentos no país, fazendo com que se diminuam erros processuais e garantindo maior segurança nutricional para o consumidor, seja ele vegetariano, ocasional ou curioso!

O mercado de produtos como a carne vegetal possui potencial de remodelar diversos detalhes da cadeia produtiva. Como ficará a questão da fiscalização sanitária? E a produção em pequena escala? Não deixe de comentar suas opiniões, caro leitor(a), e até a próxima!

 

Referências:
[1]: BLOOMBERG. Startup de carne vegetal levanta mais de 300 milhões para crescer no mundo. Portal Cofina Media, 2021. Disponível aqui.
[2]: HIRDES, Lidiane da Silva. “Eu faço carne vegetal, mas não sou açougueiro”: uma etnografia sobre a produção e circulação de alimentos associados ao estilo de vida vegano. 2018. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pelotas.
[3]: VITÓRIA. Já ouviu falar em carne vegetal? Saiba como a proteína é preparada. Redação Folha Votória, jul. 2019. Disponível aqui.
[4]: COUCEIRO, Patricia; SLYWITCH, Eric; LENZ, Franciele. Padrão alimentar da dieta vegetariana. einstein, v. 6, n. 3, p. 365-373, 2008.
[5]: FIRMINO, Carol. Não se engane: mesmo parecendo saudável, “carne” vegetal é ultraprocessada. Portal Viva Bem 21 out. 2020. Disponível aqui.
[6]: BEEFPOINT, Equipe. Regulação da carne vegetal tem início no Brasil. Portal Beefpoint, 31 mar. 2021. Disponível aqui.