Olá leitoras e leitores! Inspirado pelo “espírito do ano novo”, eu decidi fazer um texto um pouco diferente.
Não vou falar de ciência hoje, mas compartilhar algumas reflexões que eu tenho toda virada de ano e que imagino que muita gente que acompanha um canal de divulgação científica compartilhe. Vou falar daquele sentimento estranho bem comum em niilistas no fim de ano.
Niilismo em poucas palavras
Bom, o primeiro estranhamento que pode aparecer é: “mas você está fazendo um texto sobre a virada de ano e ele está saindo só no dia 07”. Se você pensa assim, você não deve compartilhar do sentimento niilista do fim de ano.
Mas o que é esse niilismo, afinal? A palavra vem de nihil, que significa nada, em latim. Basicamente é uma corrente filosófica que questiona os valores, convenções, convicções dadas como absolutas, em especial, pelo menos no meu caso, as interpretações e atribuições de sentido sobre o mundo. Atribuições essas que não apenas costumam ser arbitrárias mas que tendem a não se enxergar como arbitrárias.
Vamos para alguns exemplos. A ideia de que, para termos uma vida plena, temos que estudar, arrumar um emprego, se casar, ter filhos, se aposentar, curtir um pouco a aposentadoria (de preferência sem dar muito trabalho pros filhos, ainda que eles tenham o dever moral de cuidar dos pais) e morrer.
Isso está implantado na nossa mente em um tanto tão fundo que tomamos isso como verdade (eu mesmo, sigo direitinho). Mas não é. Isso é uma ideia criada pela sociedade, mas não é algo que deva ser seguido por ser absoluto.
Não existe sentido na vida, então vou entrar em letargia e não fazer mais nada da vida?
Não é bem assim. Eu vejo o niilismo como uma ferramenta pra ajudar na desconstrução dos sentidos e objetivos de vida prontos que a sociedade nos impõe. Se entendemos que as coisas não têm um sentido absoluto, podemos ressignificá-las.
Claro que isso não funciona em qualquer caso, não podemos achar que um leão é um cachorrinho e ir fazer carinho na barriga (ou podemos, mas temos que arcar com as consequências… não recomendo).
Porém, muitos sentidos podem sim ser repensados. Por exemplo, o fato de eu estar gordinho ou gordinha não precisa ser visto como algo ruim só porque a sociedade quer. É importante, sim, cuidar da saúde, isso é algo que não temos muito como ressignificar sem assumir consequências, o que vale tanto pra quem está acima do peso quanto pra quem é viciado em procedimentos estéticos e cirúrgicos. Então, se eu estou gordinho, mas saudável, dane-se o que a sociedade pensa.
Pra não me estender muito sobre o assunto, vou deixar aqui dois links pro meu canal favorito no YouTube, o Ludoviajante.
Nesse primeiro ele fala, também, sobre como o Niilismo não é necessariamente algo negativo.
Ele aborda isso mais no podcast dele, mas esse é só pra apoiadores =D
O segundo traz algo mais prático sobre Niilismo e Existencialismo frente ao sentimento de vazio que muita gente tem enfrentado.
Se você está se sentindo vazio, além de assistir ao vídeo, procure ajuda profissional.
Niilismo e fim de ano
Sabe aquela ideia de que quando você está com lombriga e vê uma coisa gostosa elas começam a atacar (não sei se isso é real… Tarik, faz um Spin sobre isso pra gente). Pois então, o fim de ano é isso pra mim. É a época em que o meu niilismo mais ataca (aniversário em segundo lugar).
Todo fim de ano, com os malditos rojões perturbadores de bichinhos e aqueles fogos de artifício que são bonitos e não fazem muito barulho, com as pessoas fazendo promessas de como vão mudar no outro ano, das mensagens de whatsapp com fotos de pessoas vestidas de branco desejando feliz ano novo…
Tudo isso ataca meu niilismo num tanto. É tiro e queda, já começo a pensar em como tudo aquilo é a comemoração de uma data convencionada para marcar a passagem de um período que utilizamos para contar um determinado intervalo de tempo quando, aproximadamente, o pedaço de rocha ao qual a gente está atraído por gravidade chega em um ponto no espaço em relação ao Sol que escolhemos arbitrariamente. E que esse mesmo pedaço de rocha é um ponto insignificante no espaço e no tempo, que está e vai ficar ali por um mísero período de tempo em relação ao tempo do universo.
Ressignificando o fim de ano
Aí você pode pensar: “e como não ficar na bad em relação a isso?”. Pelo contrário, isso é o que me dá vontade de viver. Por dois motivos.
O primeiro, é que se a Terra é um cocozinho de bactéria na imensidão do universo e só vai existir por um curto período de tempo (embora muito maior que o da existência humana), então tudo que é ruim na humanidade perde muito da sua importância.
O segundo, que é o objetivo desse texto, é que se aquilo não tem um sentido em si, eu tenho mais liberdade pra atribuir um sentido que me seja útil.
Na verdade, eu vejo beleza no que muita gente faz com o ano novo. Essa data acaba sendo um momento pra que as pessoas possam apertar o botão de reset e mudar os rumos daquilo que não está bom na vida: sair de um relacionamento abusivo, procurar um emprego melhor, começar um curso ou mesmo renovar o ânimo naquilo que já faz.
De fato, eu só fui perceber a beleza nisso depois de muitos anos de crítica a esse tipo de pensamento. É claro que muitas dessas promessas e resoluções de mudança dão em nada, mas não são todas. O ano novo não muda a sua vida por si só, mas dá aquela forcinha que ajuda muita gente.
Pra mim, o ano novo tem um sentido um pouco diferente, que volta naquele primeiro motivo de o niilismo me dar sentimentos motivos. A virada de ano sempre me renova a lembrança da insignificância da vida humana e me motiva a buscar meu próprio sentido da vida.
Bom, é essa minha mensagem. Feliz período que convencionamos a chamar de ano e que convencionamos que se iniciou no sábado passado!