O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) é um órgão criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial em conjunto com as Nações Unidas (ONU), com o objetivo de fornecer informações sobre o estado das mudanças climáticas para governos do mundo todo. O IPCC cumpre, simultaneamente, um papel acadêmico e político — visto que é chave para a tomada de decisões e negociações governamentais referentes ao tema. Alvo de críticas e elogios, os relatórios da organização são, sem dúvidas, os documentos mais importantes com relação há mudança climática no nível internacional.

Imagem 1: Logo com sigla do IPCC, fonte: MCTIC

Antes de começarmos, alguns adendos:

Essa é a segunda vez em que eu falo sobre mudança climática no Deviante. Para a explicação resumida sobre o que é o aquecimento global, você pode ler o texto anterior aqui. Ele também cobre um aspecto extremamente relevante para a compreensão dos fenômenos do clima: afinal, por que tantos artigos científicos parecem errar suas previsões?.

Também não será a última vez que eu trago o tema, pretendo cobrir vários aspectos do estudo da mudança climática. Os textos serão titulados como “Mudança Climática: <algum aspecto relevante da discussão>”, para facilitar a busca.

O leitor pode ter notado que os termos “mudança climática” e “aquecimento global” estão sendo utilizados alternadamente, permita-me roubar um trecho da outra publicação:

Uma distinção importante: os conceitos de mudança climática e aquecimento global são interconectados, mas levemente diferentes. Aquecimento global diz respeito ao aumento da temperatura média da superfície do planeta, enquanto mudança climática se trata de um termo mais amplo que pode ser entendido como as consequências deste aumento (como uma relação de causa e efeito). Por ser um termo que abrange o próprio aquecimento global, “mudança climática” será empregado ocasionalmente como substituição.

 

Como o IPCC funciona

O trabalho do IPCC opera como uma mistura curiosa entre produção acadêmica autoral e meta-análise. O painel conta com cerca de 195 membros, mas a maior parte, da produção dos relatórios vem do trabalho de milhares de cientistas especialistas que voluntariam seu tempo para a produção dos documentos.

Os relatórios produzidos pelo IPCC geralmente contam com uma versão completa — detalhando em algumas milhares de páginas os métodos, pesquisas e como os resultados foram analisados e as possíveis projeções extraídas — e com uma versão direcionada para criadores de políticas públicas (governos, empresas e organizações), essa segunda é um resumo do artigo completo.

Dentre as publicações do IPCC, existem quatro que chamam particular atenção: os relatórios dos grupos de trabalho (1, 2 e 3) e o relatório de síntese. Essas não são as únicas publicações, mas são as mais relevantes.

Não é hipérbole dizer que os relatórios dos grupos de pesquisa são aguardados por governos, pela comunidade acadêmica e até mesmo pelos veículos de mídia do mundo todo. Mas o que são os 3 grupos de trabalho do IPCC e o que cada um deles faz? Bem, eles tentam responder 3 perguntas simples: “Como/por que acontece?”, “Como somos e seremos impactados?” e “Como impedimos?”. Junto de cada explicação estarão alguns dados presentes nos últimos artigos publicados pelos grupos.

 

Grupo de trabalho 1

O grupo 1, recebe o título de Working Group I: The Physical Science Basis” (“Grupo de Trabalho I: A base científica física”), trata-se do grupo que estuda o “Como/por que acontece?”. Como o nome diz, o grupo 1 busca entender os fenômenos físicos que geram a mudança climática. De acordo com o site, em tradução livre (*WG: Working Group = Grupo de trabalho):

Os tópicos científicos avaliados pelo WGI* incluem: gases de efeito estufa e aerossóis na atmosfera; mudanças de temperatura no ar, terra e oceano; o ciclo hidrológico e mudanças nos padrões de precipitação (chuva e neve); condições climáticas extremas; geleiras e mantos de gelo; oceanos e nível do mar; biogeoquímica e o ciclo do carbono; e sensibilidade climática. A avaliação do WGI combina observações, estudos paleoclimáticos, estudos de processos, teoria e modelagem para fornecer uma imagem completa do sistema climático e como ele está mudando, incluindo a atribuição (ou causas) da mudança.

De forma resumida, o grupo 1 serve de embasamento teórico para os trabalhos dos grupos seguintes.

O último relatório publicado pelo Grupo 1 foi o Climate Change 2021: The Physical Science Basis, que apresentou o estado da arte na nossa compreensão sobre o funcionamento dos fenómenos que resultam na mudança climática.

Imagem 2: dois gráficos lado à lado: Gráfico (a): mudança em temperatura média da superfície do planeta por década entre 1850 e 2020, nele é possível ver um aumento significativo e sem precedentes iniciando em 1850, com aumento constante até 2020; Gráfico (b): temperatura média da superfície registrada, com ação humana, em comparação com a temperatura esperada levando em conta apenas fatores naturais. Em 2020, a temperatura esperada seria de um aumento pouco maior que zero em relação à temperatura de 1850, enquanto a temperatura com a ação humana é maior que 1.0. Fonte: Climate Change 2021: The Physical Science Basis

 

Grupo de trabalho 2

O grupo 2 recebe o título de Working Group II: Impacts, Adaptation and Vulnerability, (“Grupo de Trabalho II: Impactos, adaptação e vulnerabilidades”), o grupo se descreve como:

O IPCC Working Group II (WGII) avalia os impactos das mudanças climáticas, desde uma visão global até uma visão regional dos ecossistemas e da biodiversidade, e dos seres humanos e suas diversas sociedades, culturas e assentamentos. Ele considera suas vulnerabilidades e as capacidades e limites desses sistemas naturais e humanos para se adaptar às mudanças climáticas e, assim, reduzir os riscos associados ao clima, juntamente com as opções para criar um futuro sustentável para todos por meio de uma abordagem equitativa e integrada para esforços de mitigação e adaptação em todas as escalas.

O grupo 2 geralmente é o que tenta responder a pergunta “Como seremos impactados?”, estuda os resultados da mudança climática nos ecossistemas, como eles impactam culturas e sociedades, e analisa quais são os pontos mais vulneráveis, que devem ser protegidos a fim de mitigar os efeitos irreparáveis e impedir novas quebras do equilíbrio climático do planeta.

O ultimo relatório publicado pelo grupo 2 foi o “Climate Change 2022: ImpactsAdaptation and Vulnerability”. O estudo focou em, entre outras coisas, demonstrar os riscos do aquecimento global em curto e longo prazo. Uma forma de exemplificar os riscos globais da mudança climática é através da tabela de riscos por área do planeta, presente no artigo (todos os riscos com nível de confiabilidade alto ou médio), segue:

Pequenas Ilhas

  • Perda da biodiversidade terrestre, marinha e costeira e dos serviços ecossistêmicos
  • Perda de vidas e bens, risco à segurança alimentar e interrupção econômica devido à destruição de assentamentos e infraestrutura
  • Declínio econômico e falência da subsistência da pesca, agricultura, turismo e perda da biodiversidade de agroecossistemas tradicionais
  • Redução da habitabilidade de ilhas de recife e não recife, levando ao aumento do deslocamento populacional
  • Risco à segurança hídrica em quase todas as pequenas ilhas

América do Norte

  • Resultados de saúde mental sensíveis ao clima, mortalidade e morbidade humana devido ao aumento da temperatura média, extremos climáticos e riscos climáticos combinados
  • Risco de degradação dos ecossistemas marinhos, costeiros e terrestres, incluindo perda de biodiversidade, função e serviços protetores
  • Risco aos recursos de água doce com consequências para ecossistemas, redução da disponibilidade de água superficial para agricultura irrigada, outros usos humanos e qualidade da água degradada
  • Risco à segurança alimentar e nutricional por meio de mudanças na produtividade e acesso à agricultura, pecuária, caça, pesca e aquicultura
  • Riscos ao bem-estar, subsistência e atividades econômicas devido a riscos climáticos em cascata e combinados, incluindo riscos a cidades costeiras, assentamentos e infraestrutura devido à elevação do nível do mar

Europa

  • Riscos para pessoas, economias e infraestruturas devido a inundações costeiras e fluviais
  • Estresse e mortalidade de pessoas devido ao aumento de temperaturas e extremos de calor
  • Perturbações nos ecossistemas marinhos e terrestres
  • Escassez de água para múltiplos setores interconectados
  • Perdas na produção agrícola devido a condições extremas de calor e seca e tempo severo combinado

América Central e do Sul

  • Risco à segurança hídrica
  • Efeitos graves na saúde devido ao aumento de epidemias, em particular doenças transmitidas por vetores
  • Degradação dos ecossistemas de recifes de coral devido ao branqueamento dos corais
  • Risco à segurança alimentar devido a secas frequentes/extremas
  • Danos à vida e infraestrutura devido a enchentes, deslizamentos de terra, elevação do nível do mar, ondas de tempestade e erosão costeira

Australásia

  • Degradação de recifes de coral tropicais rasos e perda associada de biodiversidade e valores de serviços ecossistêmicos
  • Perda de sistemas humanos e naturais em áreas costeiras de baixa altitude devido ao aumento do nível do mar
  • Impacto nos meios de subsistência e rendimentos devido à diminuição da produção agrícola
  • Aumento da mortalidade e morbidade relacionadas ao calor para pessoas e animais selvagens
  • Perda de biodiversidade alpina na Austrália devido à diminuição da neve

Ásia

  • Danos na infraestrutura urbana e impactos na saúde e bem-estar humano devido a inundações, especialmente em cidades e assentamentos costeiros
  • Perda de biodiversidade e deslocamento de habitats, bem como perturbações associadas em sistemas humanos dependentes em ecossistemas de água doce, terrestres e oceânicos
  • Branqueamento de coral mais frequente e extensivo e subsequente mortalidade de coral induzido pelo aquecimento e acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar, ondas de calor marinhas e extração de recursos
  • Declínio nos recursos pesqueiros costeiros devido ao aumento do nível do mar, diminuição da precipitação em algumas regiões e aumento da temperatura
  • Risco para a segurança alimentar e hídrica devido a extremos de temperatura aumentados, variabilidade de chuvas e seca

África

  • Extinção de espécies e redução ou perda irreversível de ecossistemas e seus serviços, incluindo ecossistemas de água doce, terrestres e oceânicos
  • Risco para a segurança alimentar, risco de desnutrição (deficiência de micronutrientes) e perda de meios de subsistência devido à redução da produção de alimentos de culturas, criações e pesca
  • Riscos para a saúde e meios de subsistência em comunidades costeiras devido a danos na saúde do ecossistema marinho
  • Aumento da mortalidade e morbidade humana devido ao aumento do calor e doenças infecciosas (incluindo doenças transmitidas por vetores e diarreia)
  • Redução da produção econômica e crescimento e aumento da desigualdade e taxas de pobreza
  • Aumento do risco para a segurança hídrica e energética devido a seca e calor.

Imagem 3: Gráfico com projeção do comportamento climático nas próximas décadas (2022-2100) de acordo com 5 cenários, o cenário SSP1-1 apresenta adesão completa a políticas de controle do clima, resultando em uma estabilização no aumento da temperatura global em aproximadamente 1.5ºC e início de um declínio até 2100, enquanto o cenário SSP5 representa nenhuma adesão, resultando na continuidade do aumento como está, chegando a quase 5ºC em 2100, fonte: Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability

 

Grupo de trabalho 3

O grupo 3 é chamado de Working Group III: Mitigation of Climate Change” (Grupo de Trabalho III: Mitigação da Mudança Climática), o grupo responsável por tentar responder a pergunta “Como impedimos?”, o grupo se descreve da seguinte forma:

A mitigação das mudanças climáticas é alcançada limitando ou impedindo as emissões de gases de efeito estufa e aumentando as atividades que removem esses gases da atmosfera. Os gases de efeito estufa podem vir de uma variedade de fontes e a mitigação climática pode ser aplicada em todos os setores e atividades. Estes incluem energia, transporte, edifícios, indústria, gestão de resíduos, agricultura, silvicultura e outras formas de gestão de terras.

 

O WGIII apoia a abordagem orientada para soluções do IPCC, mas não defende opções específicas de mitigação. Ele adota uma perspectiva de curto prazo relevante para os tomadores de decisão no governo e no setor privado, bem como uma perspectiva de longo prazo que ajuda a identificar como os objetivos de políticas climáticas de alto nível podem ser alcançados. O WGIII aborda todos os aspectos da mitigação, incluindo viabilidade técnica, custo e ambientes que permitiriam a implementação das medidas. Ambientes que permitem incluem instrumentos políticos, opções de governança e aceitabilidade social. Sinergias e compensações com medidas de adaptação são de crescente interesse, bem como co-benefícios, riscos e ligações ao desenvolvimento sustentável. Para atender a essas necessidades, o WGIII é altamente interdisciplinar em caráter.

Enquanto o grupo 2 apresenta algumas opções para mitigar a mudança climática, o grupo 3 foca completamente em explorar essas opções, desde a proposição de políticas públicas até adoção de tecnologias como a captura de carbono.

A última publicação do grupo 3 foi o relatório: Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change.

Imagem 4: As emissões globais de gases de efeito estufa antropogênicos líquidos (Global net anthropogenic GHG) entre 1990 e 2019. Observa-se uma clara tendência a crecimento de emissões. Fonte: Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change.

Imagem 5: (b) Emissões históricas acumuladas líquidas de CO2 antropogênicas por região (1850-2019), América do Norte, Europa e Ásia Oriental são as maiores, com 23%, 16% e 12%, a América Latina representa 11%.
(c) Emissões líquidas de gases de efeito estufa antropogênicos per capita e por população total, por região (2019). Os 3 maiores são a América do Norte, o grupo de Austrália, Japão e Nova Zelância, e Europa Oriental e a Ásia Central. Fonte: Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change.

O Relatório de Síntese

O leitor que entrou clicou nos hiperlinks presentes nesse texto pode ter se deparado com a sigla “AR6” na frente dos documentos listados, isso significa que o grupo que fez o relatório estava trabalhando no sexto Assessment Report (Relatório de Avaliação).

O Relatório de Síntese é nada mais do que, como o nome deixa claro, a síntese do trabalho realizado nos últimos Assessment Reports publicados pelos grupos de trabalho. Ou seja, a “junção” dos relatórios dos grupos 1, 2 e 3.

O objetivo do Relatório de Síntese é propor de forma mais direta o que precisa ser feito. Tivemos 6 Relatórios de Síntese publicados nos anos 1990, 1995, 2001, 2007 e 2014, com o último sendo publicado nesse ano, em 2023, com o nome de AR6 Synthesis Report: Climate Change 2023. A versão para decisores de políticas públicas já está disponível, o relatório completo será publicado em breve (entre a escrita e a publicação desse texto, o relatório foi publicado, você encontra-o aqui).

O próximo Relatório de Síntese é previsto para ser publicado em 2028, ano em que os países do mundo se reunirão para analisar o progresso do Acordo de Paris, que tem como objetivo deixar o aumento da temperatura bem abaixo de 2ºC, se esforçando para limitar a 1,5ºC.

 

Críticas

O IPCC é alvo de críticas com certa frequência. Como qualquer estudo científico, suas conclusões e estimativas sofrem com a possibilidade de ficarem defasadas com o tempo, por isso a necessidade de atualizações e retificações dos trabalhos.

Os críticos mais fervorosos do IPCC tendem a ser negacionistas climáticos, pessoas e grupos que rejeitam a ideia de que a temperatura da superfície do planeta vem aumentando devido à ação humana (e, portanto, rejeitam o princípio que embasa os relatórios) ou aquelas que acreditam que a temperatura está aumentando e que isso é uma coisa boa. Tratei dos argumentos desses grupos no último texto sobre mudança climática.

Dentro da comunidade científica, uma crítica comum ao IPCC é que a entidade é branda demais na sua abordagem, apostando em tecnologias que não temos acesso fácil (como a captura da carbono) ou “fazendo média” do problema, minimizando a percepção sobre a potencial catástrofe climática em curso.

Defensores dizem que isso é efeito colateral da formação dos relatórios, que fazem a meta-análise da totalidade (ou próximo disso) dos artigos publicados durante o período do Assessment Report. Argumenta-se que os estudos mais preocupantes estão inseridos nos reports, mas levados com devida desconfiança, sendo atribuídos para cenários mais extremos ou tendo suas consequências notadas em níveis de confiabilidade mais baixos.

Dessa forma, artigos que mostram as consequências mais graves e extremas da mudança climática são sub-representados pelo IPCC, como este que mostra que aumentos pequenos na temperatura global já podem causar consequência catastróficas na ativação de Tipping Points.

 

Um pálido ponto azul…

Apesar das críticas, gostaria de reiterar o que foi dito no início do texto: “os relatórios da organização são, sem dúvidas, os documentos mais importantes com relação há mudança climática no nível internacional.

O IPCC é extremamente necessário, e é o único órgão na sua posição: capaz de estimular o debate e tomada de ações em nível acadêmico, político e social, em uma escala mundial. Mas eu queria apontar outro aspecto: o relatório do IPCC é voltado, principalmente, para políticos capazes de tomada de decisão — presidentes, congressistas, deputados, etc. — pessoas que, no regime democrático, deveriam nos representar.

A publicação é, sobretudo, uma ferramenta para embasar a produção de leis e medidas que impeçam… bem, o colapso de boa parte do mundo como conhecemos. Não vou pedir para que o leitor ande de bicicleta ao invés de dirigir, nada do tipo, pois o problema existe em macro escala, é um problema advindo do nosso modelo de produção extremamente agressivo e danoso, mas vou pedir para que apoie políticas públicas que ajudem a lidar com o problema de verdade. Apoie medidas de estruturação, regulação de práticas danosas ao clima e ajude a elevar vozes que tentam falar sobre a questão. Existe uma falta de divulgação sobre o tema no Brasil.

Aquecimento global não é um vírus ou um meteoro em direção a Terra, os efeitos catastróficos são sentidos a longo prazo, então se torna difícil gerar a comoção: as pessoas vão se acostumando ao desaparecimento de espécies e destruição dos sistemas ecológicos e sociais.

Para terminar o texto, quero emprestar o início e o fim da reflexão de Carl Sagan ao se referir a uma imagem da Terra capturada pela sonda Voyager 1. Sagan não era climatologista, era astrônomo, mas era preocupado com o tema e foi um dos primeiros cientistas a falar que o aquecimento global era real, em um discurso para o Congresso Norte Americano em 1985.

Olhem de novo esse ponto. É aqui, é a nossa casa, somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas. O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada “superestrela”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali — em um grão de pó suspenso num raio de sol.

 

Já foi dito que astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o “pálido ponto azul”, o único lar que conhecemos até hoje.

Este “pálido ponto azul” é, e por muito tempo ainda será, o único lar que temos, temos de lutar para protegê-lo.

Fontes

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Carl Sagan testifying before Congress in 1985 on climate change – purple TELEVISION. (2023, January 25). Purple. https://purple.fr/television/carl-sagan-testifying-before-congress-in-1985-on-climate-change/

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