Você que está lendo esse texto, provavelmente está fazendo isso pelo seu celular, computador ou qualquer outro dispositivo eletrônico. O avanço da tecnologia ao longo das últimas décadas nos proporcionou verdadeiras revoluções em diversas áreas. Mas todo esse avanço tecnológico vem com um preço. Fabricar esses equipamentos exige o uso de alguns materiais raros e preciosos como o térbio, o neodímio e o tântalo. Não por coincidência, o Vale do Silício — onde as maiores empresas de tecnologia do mundo estão — leva o nome de um elemento químico fundamental para fabricação de computadores.
Extrair esses recursos causam um desgaste altíssimo à natureza devido ao uso de cianeto, ácido sulfúrico e cloro pela indústria de mineração. Entre as consequências, podemos listar: a poluição do ar e de rios, a devastação da biodiversidade, destruição de paisagens inteiras e prejuízos à trabalhadores e moradores locais. Por outro lado, a Lua e os asteroides do nosso sistema solar são ricos nesses e em outros tipos de elementos. A Lua, por exemplo, possui o hélio-3. Esse composto é considerado o combustível do futuro. A mineração espacial pode trazer trilhões de dólares à economia global e sem destruir o planeta. Mas como é que nós poderíamos fazer isso? A exploração espacial é realmente viável?
A quantidade de recursos no espaço
Os asteroides do nosso Sistema Solar são diversos em tipos de metais e tamanhos. No Cinturão de Asteroides, por exemplo, encontramos desde rochas com 1 metro até planeta anões com quase 1.000 metros de comprimento. Um asteroide relativamente pequeno pode conter trilhões de dólares em materiais industriais como platina, ferro e níquel. A exploração desses recursos em apenas um asteroide, é capaz de suprir nossa necessidade global de minério por muitos anos. Além disso, esses materiais ficariam muito mais baratos e isso inauguraria uma nova fase da humanidade, em que há matéria-prima para construir e fabricar coisas em abundância e sem causar impacto ambiental na Terra.
O professor Gerald Kulcinski, da Universidade de Wisconsin, um dos responsáveis pela pesquisa sobre fusão nuclear nos Estados Unidos, estima que tenha cerca de 1 milhão de toneladas de hélio-3 na Lua. Segundo ele, a energia gerada por apenas 100 toneladas desse gás seria equivalente à que foi usada em todo o planeta no ano de 1998. É realmente impressionante. Além dos Estados Unidos, a China também está investindo muito na indústria espacial para conseguir extrair hélio-3 e outros recursos da Lua em um futuro próximo. Esse gás é um dos propulsores que movem as maiores potências do mundo em direção ao espaço, criando uma nova corrida espacial em busca de recursos valiosos.
O problema da mineração espacial
Pensando no barateamento constante na indústria aeroespacial, em que empresas privadas, como a Blue Origin e a SpaceX, são protagonistas no desenvolvimento tecnológico, ainda é muito caro viajar até o espaço. Há um gasto muito grande só com combustível para sairmos do planeta e entrarmos em órbita.
Apesar de desfrutarmos de uma tecnologia avançada o suficiente para dar os primeiros passos na exploração espacial, essa ainda não é viável. Isso deve-se, principalmente, pela falta de infraestrutura. Uma curiosidade que ilustra o problema da falta de infraestrutura é o ouro nos oceanos. De acordo com a Forbes, há cerca de 20 milhões de toneladas de ouro nos oceanos do mundo, isso equivale a aproximadamente U$ 771 trilhões. Para se ter uma ideia, esse valor é 10 vezes o PIB mundial em 2014. Infelizmente, todo esse ouro está concentrado na ordem de partes por trilhão, o que o torna inviável de ser explorado.
Mas sobre a falta de infraestrutura, pense, por exemplo, no comércio mundial. Atualmente, mais de 90% do comércio mundial é feito através do mar. Mas, para se tornar viável, foi necessário toda uma infraestrutura de rodovias, ferrovias, hidrovias e gruas portuárias. Sem isso, o comércio marítimo em grandes proporções seria extremamente caro.
Esse é o maior problema da exploração espacial, mesmo que um asteroide traga trilhões à economia mundial, explorá-lo custaria mais do que isso. Porém, assim que houver uma infraestrutura mínima construída, cada viagem se tornará mais barata do que a última.
Para a exploração espacial funcionar, precisaríamos de um grande barateamento na questão de foguetes, combustível e transporte. Para viabilizar isso, precisaríamos de bases lunares para auxiliar no trabalho. Lançar foguetes direto da Lua, favoreceria a questão de combustível, por exemplo. Precisaríamos também de impressoras 3D para construir ferramentas, as próprias bases ou até mesmo foguetes de transporte, além, é claro, de trabalhadores muito qualificados.
Uma vez que a infraestrutura esteja pronta, a exploração espacial se tornará extremamente lucrativa.
A questão tecnológica e política
Na questão tecnológica, nós já temos o suficiente para conceber os primeiros passos em direção à exploração espacial. Construir bases lunares com a tecnologia atual é totalmente possível. Além disso, já enviamos sondas até asteroides para colhermos amostras, o que ocorreu como o planejado e foi um sucesso. A sonda Rosetta, por exemplo, foi lançada pela ESA (Agência Espacial Europeia) com a missão de fazer um estudo detalhado sobre o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e o último contato com o cometa foi no dia 30 de setembro de 2016.
Na questão política, falta conhecimento e vontade. Muito provavelmente, esse empreendimento deveria ser um esforço global, um consórcio de vários países com um objetivo em comum. Infelizmente, isso está muito longe de acontecer.
Por sorte, criou-se uma vontade privada de fazê-lo. Não fossem as empresas privadas, nós ainda estaríamos alguns anos atrasados na questão tecnológica. Hoje em dia, mesmo nos Estados Unidos, o investimento na indústria espacial é muito pouco. Governantes não querem pensar nisso. O orçamento do exército americano gira em torno de U$700 bi por ano, enquanto o orçamento da NASA é de apenas U$3 bi, ou seja, 0,42% em relação ao do exército. Criar uma vontade política para exploração espacial talvez seja um obstáculo maior do que a própria questão tecnológica.
Conclusão
A mineração espacial não é ficção científica. Não precisamos de uma nova física, novos materiais ou mesmo novas tecnologias para começar essa exploração. Nós já temos os meio para fazê-lo. Mas, infelizmente, pode ser que esse futuro esteja muito mais distante do que imaginamos simplesmente pela falta de interesse.
Sendo otimista, nós nunca investimos tanto em exploração espacial na história como agora. Depois do fim da guerra fria, perdeu-se o sentido de voltar à Lua e continuar com missões espaciais (com exceção de missões com objetivos de pesquisa).
Agora, com a descoberta de novos elementos na Lua como o hélio-3, voltou o interesse em novas missões espaciais não só pelos EUA, mas também pela China, Índia, União Europeia e empresas privadas.
Com a mineração no espaço, além de obtermos muitos recursos explorando asteroides, também há um avanço muito grande na questão tecnológica e na criação de um comércio espacial bem consolidado. Desde viagens civis, mais estações espaciais até hotéis em órbita para turismo espacial. Para o futuro, teremos de olhar para o espaço com certa prioridade. Tanto para fugir daqui quanto para preservar a própria Terra.