Durante a puberdade, a maioria das mulheres passam por alterações psicológicas, físicas e biológicas. O sistema reprodutor passa a funcionar, e surge a menarca, a primeira menstruação, que acontece por volta dos 12 anos de idade.
Mas, o que é menstruação?
A menstruação, em si, pode ser resumida como a eliminação de sangue e parte de endométrio, quando os hormônios FSH e LH diminuem drasticamente nas taxas sanguíneas. Claro, isso quando não há fecundação. Este evento dura, em torno de 3 a 7 dias e os ciclos costumam ter 28 dias. Isso ocorre até em torno dos 50 anos de cada mulher, quando acontece a menopausa, quando encerra sua vida reprodutiva (pelo menos de forma natural).
A menstruação vai muito além de algo biológico, ela envolve toda uma dimensão social e cultural que está presente no nosso dia-a-dia e afeta a forma como lidamos com esse período. O tabu acerca da menstruação é tão grande, que muitas mulheres nem falam sobre isso. Há muito silenciamento! Apelidam o período menstrual de ‘’regra’’, ‘’naqueles dias’’, ‘’de Chico’’, etc. Muitas têm vergonha de mostrar o sangue, mostrar os absorventes, principalmente para o sexo oposto. Fora as diversas culturas que dão diferentes significados, umas até consideram as mulheres impuras nesse período.
Muitos anseios e tabus giram em torno da menstruação. Existem as cólicas, os ‘’vazamentos’’, TPM, as dores e inchaços nos seios, etc. Além disso tudo, mais um ‘’probleminha’’ de brinde: os absorventes!
É inegável que os absorventes são revolucionários, ajudaram e ajudam muitas mulheres no dia-a-dia. Só que, hoje, com tanta tecnologia, avanços e informações, não podemos parar no tempo e nos determos à praticidade, sem levar em conta os danos que isso pode causar ao meio ambiente.
Mas, sempre foi assim? Como, antigamente, as mulheres conseguiam se virar nas suas fases menstruais? Nem sempre existiu o clássico absorvente descartável, não é mesmo? Já perguntou como sua mãe, vó e bisavós lidavam com isso?
Ao longo da história, e como tudo sempre foi rodeado de tabus, existem poucas informações. Há relatos de que as mulheres colocavam proteções no canal vaginal, mas os mais conhecidos e utilizados foram toalhinhas, que as mulheres improvisavam e forravam suas calcinhas com camadas de tecido, qualquer um que elas tivessem disponível. Eram lavados e utilizados novamente. O problema é que os tecidos nem sempre têm uma boa absorção e as formas de higienização nem sempre eram corretas.
Por volta de 1890, os primeiros absorventes descartáveis eram comercializados. No Brasil, eles começaram a se popularizar na década de 50. Hoje, apesar de serem muito comuns em nosso país, é contrastante saber que existem lugares do mundo em que as mulheres não têm acesso, seja por tabu, por morarem em localidades isoladas ou não poderem pagar por eles. Atrapalhando assim, suas rotinas, como deixarem de ir à escola ou de trabalharem durante o período menstrual.
Atualmente, o mercado conta com diversas marcas e tipos, como os absorventes noturnos, os internos, os sem abas, os ultrafinos, os de cobertura seca, etc. Existem até os protetores diários que são utilizados no período intermenstrual.
De forma geral, o clássico absorvente descartável é formado basicamente por celulose, polietileno, adesivos termoplásticos, propileno, papel siliconado, polímero superabsorvente e agente controlador de odor.
Agora, já parou para imaginar o quantos estes resíduos são danosos para nosso meio ambiente? Que tal vermos alguns números?
Em média, cada mulherutiliza cerca de dez absorventes descartáveis em casa ciclo menstrual. O que dá dez mila quinze milabsorventes utilizados da puberdade até a menopausa. Já imaginou?
Sabe o pior? No Brasil, não existe reciclagem para este material. Consegue ter dimensão do problema? Esse resíduo fica em lixões e aterros sanitários até se decomporem, o que demora cerca de CEM anos! Além de poderem contaminar o ambiente por conta dos seus aditivos químicos.
Dá para reciclar?
Bom, no Canadá, uma empresa chamada Knowaste, consegue separar os componentes dos absorventes e os reciclar, transformando-os em telhas e madeiras sintéticas. Já a empresa neozelandesa Envirocomp, consegue fazer a compostagem! Infelizmente, nenhuma das alternativas ainda chegou ao Brasil.
Vale lembrar que o impacto ambiental desses produtos vem muito antes de seu descarte. Começa na extração e no processamento da produção do plástico e da celulose, feitos a partir de petróleo e árvores, respectivamente. A produção do plástico requer muita energia e cria resíduos de longa duração, já a celulose precisa de uma forte fiscalização para que a madeira utilizada seja certificada e assim, sustentável.
Mas, o que fazer para diminuir essa poluição?
Atualmente, existem diversas formas ecológicas e sem químicas nocivas para vivenciar o ciclo menstrual sem precisar prejudicar nosso planeta, as principais opções são:
Coletor menstrual: Virou o queridinho de muitas mulheres, ele é um copinho de silicone que é introduzido na vagina e coleta o sangue menstrual. Pode ser utilizado, em média por 8 horas, é lavável e pode ser utilizado por até 10 anos!
Absorventes biodegradáveis: São absorventes externos e descartáveis, porém causam menos impacto ao meio ambiente, por sua biodegradação ser feita em até cinco anos.
Absorventes de pano: De uso externo, são os antigos ‘’paninhos’’ que as avós utilizavam, com uma nova roupagem e mais cuidados, como botões e camada impermeável, além dos tecidos adequados. Eles são laváveis e podem durar até 6 anos.
Calcinha absorvente: Como o nome já diz, é uma calcinha capaz de absorver o fluxo menstrual, sendo discreta e confortável. Também é lavável e reutilizável, pode ser utilizada por volta de três anos.
Tem para vários gostos e rotinas. Estas opções são ótimas medidas para, pelo menos, diminuir a produção de lixo e de quebra economizar, já que, apesar do investimento inicial, a mulher se vê livre da compra absorventes por um bom período.
É imprescindível buscar novas formas de lidar com a poluição e conscientizar os indivíduos sobre essa temática. Nosso problema não está apenas no uso de canudinhos descartáveis, vai muuuuito além! São necessárias novas estratégias tanto para quebrar os tabus da menstruação, quanto para facilitar o acesso aos métodos alternativos, que diminuem a quantidade de lixo.
Michele Santos. Bióloga, especialista em Saúde Pública, pesquisa e busca levar conteúdos sobre saúde e educação sexual através do projeto ‘’Conheça seu Corpo’’, nas redes sociais. Adora animais, com bastante ênfase em gatinhos e doguinhos. Não dispensa um chocolate e uma boa risada.