Acredito que todo mundo, em alguma época de sua vida, fez um exame de urina. Esse tipo de exame é essencial para diagnosticar alguns tipos de patologias, como relacionadas a problemas renais. Porém, além disso, pode dizer o que o dono da urina come, se sua alimentação é saudável ou se há necessidade de uma intervenção profissional.

Segure sua vontade e vamos lá!

Urina, mijo, pipi, xixi, água do joelho são alguns entre tantos sinônimos para o famoso líquido amarelo que pode salvar vidas.

Vale ressaltar, em primeiro lugar, que o exame de urina é, na medicina laboratorial, um dos primeiros, se não o primeiro exame a ajudar o médico a fechar um diagnóstico. Claro que, baseado apenas no odor, volume, cor, turbidez ou até na presença ou ausência de açúcar (glicose) no líquido, pode não ser suficiente, então, outros exames serão necessários.

De forma geral, o rim tem um papel importante na formação urinária. É ele quem diz o que vai parar na bexiga, ou o que será reabsorvido em seus túbulos. Ou seja, isso faz com que o exame urinário seja primordial para o diagnóstico de doenças relacionadas ao rim.

Assim, um teste de urina logo pela manhã pode ajudar um paciente com inicio de problemas renais a controlar sua patologia. Por exemplo, os rins não conseguem filtrar moléculas como proteínas. Nesse sentido, a simples presença de traços proteicos pode indicar algo mais grave – lembrando de sempre seguir seus médicos -, e o controle ao longo do tempo pode ajudar a evolução de tal doença.

Além de proteínas, o famoso “açúcar no sangue” (glicose) também não consegue chegar até a urina, esse fato ocorre apenas se há um excesso de açúcar no sangue. Se alguém em sua família tiver diabetes, e essa pessoa não a controlar, há grande possibilidade de que glicose saia através da urina e, inclusive, formigas podem aparecer ao redor do vaso sanitário a procura do seu néctar sagrado (pipi + açúcar).

Estes foram alguns exemplos da utilidade da urina para o diagnóstico. Agora vou falar como é feito tal exame.

O exame de urina pode ser dividido em três partes. Primeiro há a análise macroscópica, a qual se avalia a cor, odor, volume, aspecto ou se há depósito.

8 Tons de urina

Após, é feita uma analise química da amostra, para isso se usa uma espécie de fita reagente, como a figura a baixo.

 

Fita Reagente

Essa fita, por sua vez, tem a capacidade de analisar alguns componentes, tais como proteínas na amostra, glicose, bilirrubina, urobilinogênio, nitrito, presença de leucócitos, o pH da amostra, corpos cetônicos e a densidade (pode variar entre as marcas). Porém, esse método é apenas semi-quantitativo, logo, não apresenta um valor preciso, apenas um range .

Por fim, há uma análise dos sedimentos da urina, caso houver. Esta fase do exame é por meio de um microscópio. A leitura pode ser feita em uma lâmina comum ou uma lâmina especial (chamada Neubauer), mas essa decisão varia de laboratório para laboratório e como os resultados são liberados. Independentemente da forma de leitura, a analise é feita analisando se há hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos), células epiteliais, cilindros, cristais, microrganismos e até espermatozoides podem estar presentes na amostra.

Através dessa análise minuciosa, essa investigação laboratorial pode indicar um norte ao médico para que consiga tratar o paciente da melhor forma possível.

Mas, a cor da urina pode ser o indicativo de várias coisas. Por exemplo, uma cor amarela escura – que normalmente é a primeira urina do dia – apresenta uma urina concentrada. Esta, por sua vez, acumulou, provavelmente, excretas ao longo da noite, porém pode indicar uma desidratação ou até uma infecção renal. Ou uma urina de coloração verde pode indicar uma infecção pela bactéria Pseudomonas, por exemplo.

Contudo, muitos alimentos também podem alterar a cor da urina. Algumas pessoas, por exemplo, ao ingerir uma quantidade de beterraba podem apresentar sua urina na coloração avermelhada. Mas que tal uma urina azul? Claro! Alguns medicamentos como a metenamina (antibiótico para tratar infecções urinárias) podem deixar o pipi desse modo. Ou ainda uma cor alaranjada, como no caso de ingestão de piridinas (tratam desconforto ao urinar).

Bom, mas esses são alguns exemplos de como uma boa olhada na coloração da urina pode ajudar. Entretanto, através de novas tecnologias, o xixi pode, cada vez mais, ajudar a humanidade para o diagnóstico de outras doenças, como os seguintes estudos demonstram.

Em um estudo publicado em 2017, demonstrou-se que é possível saber, com uma alta taxa de acertos, a alimentação de voluntários. Assim, soube que tipos de gorduras, proteínas, açucares foram ingeridos ao longo de três dias. Porém, ainda está no começo, mas tudo isso por meio de um simples exame¹.

Outro exemplo para a urina no futuro é sua utilização para o diagnóstico de câncer, como o de mama. Através de pequenas moléculas chamadas de “microRNAs” é possível analisa-las através de um método chamado de “microarrays”. Desse modo, então, verificar pequenas alterações no metabolismo da pessoa para realizar o diagnóstico. Trabalho publicado em 2015 demonstrou uma relação entre o perfil urinário e o câncer de mama de pacientes².

Claro que esses procedimentos e outros são apenas a ponta do iceberg dos testes para análise do líquido amarelo de cada dia que descartamos todo dia. Ou seja, talvez no futuro iremos ter apenas um pequeno aparelho que apresenta uma capacidade de pegar qualquer amostra biológica, inclusive urina, e analisar centenas de tipos de metabólitos, os quais estão relacionados intimamente com várias patologias. Mas é claro que quando isso acontecer nossa vida será 100% controlada por inteligências artificiais, e não teremos mais livre escolha do que comer, como se entreter e nem com quem conversar.

Agora, pegue o potinho de seu médico e faça o que deve ser feito pela sua saúde.

 

REFERÊNCIAS:

 

¹ Isabel Garcia-Perez, et al. Objective assessment of dietary patterns by use of metabolic phenotyping: a randomised, controlled, crossover trialThe Lancet Diabetes & Endocrinology, 2017; DOI: 10.1016/S2213-8587(16)30419-3

² Thalia Erbes, et al. Feasibility of urinary microRNA detection in breast cancer patients and its potential as an innovative non-invasive biomarkerBMC Cancer, 2015; 15 (1) DOI: 10.1186/s12885-015-1190-4