O consumidor que, assim como eu, é ávido por novidades no mercado alimentício, deve ter observado o crescimento de sessões de alimentos voltados para públicos especiais nos hipermercados. Quando não as sessões, pelo menos alguns produtos alimentícios com designações como “light”, “diet”, “gluten free”, “sem gordura” ou mesmo “zero calorias”. Afinal, por que algumas pessoas preferem estes produtos ao invés de suas versões mais conhecidas? O que tem por trás deles?

Neste texto, levantarei algumas considerações sobre os “alimentos light”, o fenômeno industrial da lightização e algumas especificidades. Por ser um tema bem abrangente, estarei ponderando de forma resumida sobre alguns tópicos, mas que força de vontade existirá para fazer um texto especial para cada um destes alimentos em estudo!

A história dos alimentos lightizados (leia-se aqui tanto os alimentos diet, light, glúten free e zero calorias) está relacionada com o reconhecimento dos riscos alimentares para a saúde pública dos Estados Unidos na segunda metade do século XX. A gordura hidrogenada oriunda das plantas era a preferida nos anos 60, pois justamente não tinha colesterol e outros componentes que davam receio nos americanos [1]. Naquela época, a gordura trans foi radicalmente aceita na sociedade ianque.

A gordura animal estava sendo banalizada na cozinha americana por conter colesterol, uma lipoproteína que seria responsável por problemas vasculares ao longo do corpo e outros processos inflamatórios… O ovo, a manteiga e o creme estavam entre os alimentos responsáveis pelos maiores problemas de saúde, segundo o imaginário popular. Hoje em dia, sabemos que não é bem assim que o colesterol age, e que o ovo ainda precisa do seu lugar na cozinha por uma gama de motivos [2]!

Porém, pesquisas no início dos anos 90 indicaram que os mais graves problemas cardiovasculares e de pressão estavam relacionados justamente com o consumo da gordura trans. Este componente foi aos poucos sendo banalizado por normas sanitárias e sendo proibida a presença do mesmo no produto alimentício final. Hoje, subentende-se por norma legislativa que todo alimento deve ser 100% livre de gorduras trans, não mais existindo uma versão light (com 25% a menos desse componente) ou um rótulo que contenha os dizeres “trans free”.

Essa pequena história inicial está nos contando que existe uma preocupação com a alimentação e o efeito corporal desde o desenvolvimento da ciência dos alimentos e da nutrição nos anos 60. Pessoas necessitando de versões alimentícias que os possa oferecer qualidade de vida e nenhuma preocupação estão sendo cada vez mais reconhecidas pelo mercado, tanto por iniciativa da publicidade, quanto por iniciativa das sanções sanitárias.

É à partir deste ambiente que surgirá o anseio de consumo que remodelou a alimentação para um grupo de pessoas que estavam marginalizadas do mercado tradicional. Foi neste momento que surgiram as primeiras pesquisas com alimentos especiais!

 

Portadores da doença celíaca sofrem de inchaço, diarreia, vômito, distensão abdominal e flatulência se ele(a) comer pequenas quantidades de glúten (proteína presente no trigo). Existe a nova categoria de produtos gluten free para esse tipo de condição. Porém, existem consumidores que preferem o alimento sem ser portador, influenciado por dietas e fontes modernas [4] que preconizam à alimentação sem o componente.

Dos anos 1990 para cá, alimentos para públicos especiais foram desenvolvidos pela indústria alimentícia como maneira não somente de angariar lucro sobre clientes com necessidades especiais (celíacos com problema ao glúten, diabéticos com açúcar e intolerantes a lactose com o leite) como também de atrair o consumidor fitness (leia sobre ele aqui), que requisita alimentos que possam fornecer sabor especial e nenhum sentimento de culpa em seu consumo. Neste ponto, o alimento lightizado é um braço da alimentação fitness.

Por produzir em pouca quantidade o hormônio insulina (que influencia na absorção de glicose no corpo humano), a menor quantidade de carboidrato pode acarretar em enormes problemas de saúde ao diabético do tipo 3. Para este público, observamos o aumento de alimentos que sejam diet em açúcares (por diet, entende-se que não houve o incremento de glicose além da existente nos componentes do produto) [3].

Ao portador da diabetes, observa-se o aumento da oferta de biscoitos, geleias, doces e outras guloseimas que sejam completamente livre de açúcares. Mas também pode existir alimento diet em proteína, gordura, sal etc.

Com relação ao intolerante a lactose (tipo de carboidrato encontrado no leite junto com a glicose, formando juntos o açúcar galactose) observa-se um cenário onde produtos com base em leite – bolo, torta e guloseimas em geral – estão ficando cada vez mais comuns. A pressa neste desenvolvimento é atrelada com a condição de parte da população que está desenvolvendo graus de intolerância a lactose com o envelhecimento [5].

Ao nascer, recebemos uma certa quantidade de lactase (enzima que degrada a lactose no corpo), mas a mesma é gasta ao longo da nossa vida. Convém lembrar que, naturalmente, somos seres mamíferos, mas todos os mamíferos só receberam a quantidade correta de lactase apenas para as fases iniciais de sua vida, e não para ela toda! Existe diferença de intolerância atrelada também aos grupos étnicos.

Este tipo de intolerância, hoje em dia, não é mais um impeditivo para o consumidor de laticínios. A qualidade de vida aumenta, na mesma medida em que lhe sobra opções de iguarias feitas com base em laticínios sem lactose!

 

O produto desnatado é aquele que, para sua categoria, possui a menor quantidade possível de gordura (no caso do leite, em torno de 0,5%). Ele é preferível por consumidores que querem diminuir o sobrepeso, relacionado com a camada adiposa do corpo e com diversos problemas de saúde [6]. Na imagem: Leite em copo e em jarra, bem como coalhada, sendo dispostos em uma mesa azul com uma planta.

Conseguimos observar que existem diversas categorias para os diferentes tipos de apreensões com o alimento. O produto light terá uma redução de 25% do componente “ruim” [6], e diet terá a menor quantidade possível deste componente, como o produto zero açúcar. Para quem quiser fazer algum tipo de preparo especial, sempre existirá um ingrediente que o ajudará a formular algo que não agrida sua própria saúde ou a de seus familiares!

Com todas estas informações postas sobre a mesa, pergunto-me sobre como fica em relação aos produtos orgânicos? Podemos os considerar uma versão “diet” de agrotóxicos e componentes sintéticos, sabendo que existem consumidores que são alérgicos a alguns destes procedimentos biotecnológicos e agronômicos?

Os selos orgânicos, que preconizam a produção de alimentos sem a presença de contaminantes intencionais [7], certamente poderiam se classificar como diet se assim o marketing (e a legislação) fosse agradável, mas a própria força da expressão “orgânica” já possui um peso social bem interessante por si só!

E o que o/a leitor(a) achou desta apresentação inicial? Já se alimentou de alguns dos produtos nessa categoria, por necessidade ou opção? Não deixe de comentar sua experiência prévia com esses alimentos! Mais textos serão feitos explicando cada um com mais detalhes em breve, até a próxima!

 

Referências:
 
[1]: DAVID, Marília Luz et al. 0% gordura trans: uma análise da construção de riscos alimentares. 2012. Disponível aqui.
[2]: PIZZOLANTE, Carla Cachoni. O ovo e o mito do colesterol. Pesquisa & Tecnologia. Campinas, v. 9, n. 1, 2012.
[3]: COSTA, Francielli Aparecida Garcia da; CALDERELLI, Valéria Alcântara Santos. A influência do Marketing e das informações nutricionais dos produtos Diet e Light para consumidores diabéticos. 2009. Disponível aqui.
[4]: A LAVOURA. Afinal, consumir alimentos sem glúten faz bem para a saúde? Portal A Lavoura, Categoria Alimentação & Nutrição, 07 nov. 2019. Disponível aqui.
[5]: APRECIARE. Tudo sobre produtos zero lactose. Portal Apreciare, 11 jan. 2021. Disponível aqui.
[6]: BITTE, Amanda. Alimentos light: Entenda como funciona cada tipo de alimento light. Portal No peso ideal, categoria produtos, 2021. Disponível aqui.
[7]: BRASIL, Saúde. O que são alimentos orgânicos. Portal Saúde Brasil, 12 jun. 2017. Disponível aqui.